Copiado do "Brasil, mostra a tua cara" de Glória Leite
O motel
de Luis Fernando Veríssimo
- Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
- Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretíssimu's.
- Com quem? Com quem?
- Isso eu não sei.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- Não sei, Lu.
- Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria deixá-lo e contou por quê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que estava comigo no motel? Era você!
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir.
- Discretíssimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então?
- Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
- Vou!
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa,com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
- O que ele queria?
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que,como meu amigo, tinha que contar.
- O que?
- Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
- O homem era você!
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- E então?
- Desculpe, Lurdes, mas..
- O quê???
- Vou ter que te dar uma surra...
*Conclusão : "Devemos cuidar apenas da nossa saúde, porque da nossa vida, todo mundo cuida
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Os Filhos da Verdade
Copiado da Carta Maior
Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social... ou policial.
O artigo é de Washington Araújo.
Washington Araújo
Causou-me estranheza a Folha de São Paulo ter concedido uma página inteira para o artigo do cientista político Cesar Benjamin na última sexta-feira, 27/11/2009. O artigo, aparentemente sem sentido, relatava com minúcias de detalhes os dias em que o autor passara detido nas dependências do DOPS em São Paulo, em 1980 e que, à mesma ocasião estivera preso o atual presidente da República, Luiz Inácio. O título também queria transparecer que se tratava de um texto, digamos, ameno. A Folha titulou-o como “Os filhos do Brasil”. Em espaço de quatro colunas encimava um fotograma do filme “Lula, o filho do Brasil”, cena em que o ator Rui Fabiano fala a uma extensa platéia de sindicalistas, interpretando o personagem-título do filme. A narrativa é fluida, vamos lendo, lendo e em alguns momentos parecemos estar rememorando os dias de prisioneiro de Graciliano Ramos em sua excelente obra “Memórias do cárcere”. No primeiro caso não há estilo literário, apenas exercício mental do autor que é loquaz em alguns pontos e completamente amnésico em outros.
Benjamin tenta uma moldura de veracidade para sua condição de ex-preso político, sabe de cor nomes de ex-detentos e chega a afirmar que acompanhou a trajetória de vários destes. Mas o que deseja Cesar Benjamin com esse texto? Simples. Benjamin quer atacar a honra de Lula tendo como gancho o filme de Fabio Barreto que, segundo a linha editorial da FSP, é um filme feito para gerar o mito, um filme que varre do roteiro qualquer coisa que empane o brilho do caráter personagem-título. E o articulista já depois de dois terços do caudaloso texto – afinal, leva página inteira da Folha – vai ao ponto: relata ter ouvido do próprio Lula que este em crise de abstinência sexual tentou subjugar um jovem preso, mas que foi repelido por “socos e cotoveladas”. Seria este jovem militante de organização de esquerda, o Movimento pela Emancipação do Proletariado.
É óbvio que tal artigo se posicionava como contraponto ao filme dos Barretos, inspirado no livro da jornalista Denise Paraná. O lançamento, a estréia mundial em Brasília, na abertura do 42o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, do qual fui jurado, teve superlotação do Teatro Nacional, manifestação pró-libertação de Cesare Battisti, preocupações exageradas com a segurança do local que abrigava cerca de 1.800 espectadores, 400 a mais que o permitido e que, segundo Luiz Carlos Barreto não contava com brigadistas dos bombeiros. A grande imprensa optou repercutir esses pontos e deixou de falar do filme e, quando queria falar do filme era pelo viés de se tratar de obra de propaganda fora de época. Como não surtiu efeito os queixumes da Folha e seus confrades midiáticos o jeito mesmo era buscar um texto que atentasse contra a integridade moral do personagem central do filme e, que obra do destino, ocupa o cargo de Presidente da República desde janeiro de 2003.
César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci". O "publicitário" é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, Tendler afirma: ”Ele diz não se lembrar de quem era o "publicitário", mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história...” E, então, Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:
- Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara... só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...
Para quem não sabe Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "Anos JK" (800 mil espectadores). "Jango" (1 milhão de espectadores) e "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1 milhão e 800 mil espectadores).
E não ficamos por aqui. Vejamos as falas de outros participantes do almoço onde foi servido o cozido que abasteceu o longo artigo do Cesar Benjamin.
O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, citado por Benjamin, afirmou que "o almoço a que se refere o artigo de fato ocorreu", que "o publicitário americano mencionado se chamava Erick Ekwall", e que não houve "qualquer menção sobre os temas tratados no artigo". Ex-companheiros de cela de Lula no Dops, José Maria de Almeida (PSTU), José Cicote (PT) e Rubens Teodoro negaram a tentativa de estupro, tendo Almeida acrescentado que não havia ninguém do Movimento pela Emancipação do Proletariado na cela e Cicote se lembrado vagamente de que um sindicalista de São José dos Campos seria apelidado de "MEP". Já Armando Panichi Filho, um dos dois delegados do Dops escalados para vigiar Lula na prisão, disse nunca ter ouvido falar disso e não acreditar que tenha acontecido, mesmo porque, segundo ele, nem sequer havia "possibilidade de acontecer”. O então diretor do Dops Romeu Tuma (atual Senador) também desmentiu "qualquer agressão entre os presos".
O irmão de Lula, o conhecido como politizado da família Silva, o Frei Chico, lembrou que a cela do Dops era coletiva e que nunca Lula ficou sozinho, pois estava preso com os outros diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (Rubão, Zé Cicote, Manoel Anísio e Djalma Bom).
Como disse Tendler ao fim de sua entrevista ao Bob Fernandes, “...isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...”
O Presidente do PSTU, José Maria de Almeida dividiu cela com Lula e declarou o seguinte: “O governo Lula é tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu. Benjamim viajou na maionese. Não lembro sequer de haver alguém do MEP conosco.”
Lula, de acordo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto de Carvalho, teria ficado triste e abatido, afirmando que isso era "uma loucura" e o próprio Gilberto de Carvalho qualificou a acusação de "coisa de psicopata" e recriminou a Folha por tê-la publicado, já o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, afirmou que o artigo é "um lixo, um nojo, de quem escreveu e de quem publicou". Coube ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, atribuir "essa coisa nojenta" aos ressentimentos e mágoas de Benjamin, que algum tempo depois deixaria o PT, mas não por causa desse episódio.
Para seguirmos o Manual da Folha... agora seria o exato momento para uma ampla entrevista – de preferência ocupando página inteira – com o cineasta Sílvio Tendler. Seria uma forma de reafirmar seu decantado compromisso com a verdade, seu apreço pelo “outro lado da notícia” e seu interesse de bem informar os leitores. Aliás, quem conhece Cesar Benjamin e quem conhece Sílvio Tendler sabe que a verdade é sempre modesta e que esta não requer amplos espaços para se tornar referência.
Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social... ou policial.
Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social... ou policial.
O artigo é de Washington Araújo.
Washington Araújo
Causou-me estranheza a Folha de São Paulo ter concedido uma página inteira para o artigo do cientista político Cesar Benjamin na última sexta-feira, 27/11/2009. O artigo, aparentemente sem sentido, relatava com minúcias de detalhes os dias em que o autor passara detido nas dependências do DOPS em São Paulo, em 1980 e que, à mesma ocasião estivera preso o atual presidente da República, Luiz Inácio. O título também queria transparecer que se tratava de um texto, digamos, ameno. A Folha titulou-o como “Os filhos do Brasil”. Em espaço de quatro colunas encimava um fotograma do filme “Lula, o filho do Brasil”, cena em que o ator Rui Fabiano fala a uma extensa platéia de sindicalistas, interpretando o personagem-título do filme. A narrativa é fluida, vamos lendo, lendo e em alguns momentos parecemos estar rememorando os dias de prisioneiro de Graciliano Ramos em sua excelente obra “Memórias do cárcere”. No primeiro caso não há estilo literário, apenas exercício mental do autor que é loquaz em alguns pontos e completamente amnésico em outros.
Benjamin tenta uma moldura de veracidade para sua condição de ex-preso político, sabe de cor nomes de ex-detentos e chega a afirmar que acompanhou a trajetória de vários destes. Mas o que deseja Cesar Benjamin com esse texto? Simples. Benjamin quer atacar a honra de Lula tendo como gancho o filme de Fabio Barreto que, segundo a linha editorial da FSP, é um filme feito para gerar o mito, um filme que varre do roteiro qualquer coisa que empane o brilho do caráter personagem-título. E o articulista já depois de dois terços do caudaloso texto – afinal, leva página inteira da Folha – vai ao ponto: relata ter ouvido do próprio Lula que este em crise de abstinência sexual tentou subjugar um jovem preso, mas que foi repelido por “socos e cotoveladas”. Seria este jovem militante de organização de esquerda, o Movimento pela Emancipação do Proletariado.
É óbvio que tal artigo se posicionava como contraponto ao filme dos Barretos, inspirado no livro da jornalista Denise Paraná. O lançamento, a estréia mundial em Brasília, na abertura do 42o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, do qual fui jurado, teve superlotação do Teatro Nacional, manifestação pró-libertação de Cesare Battisti, preocupações exageradas com a segurança do local que abrigava cerca de 1.800 espectadores, 400 a mais que o permitido e que, segundo Luiz Carlos Barreto não contava com brigadistas dos bombeiros. A grande imprensa optou repercutir esses pontos e deixou de falar do filme e, quando queria falar do filme era pelo viés de se tratar de obra de propaganda fora de época. Como não surtiu efeito os queixumes da Folha e seus confrades midiáticos o jeito mesmo era buscar um texto que atentasse contra a integridade moral do personagem central do filme e, que obra do destino, ocupa o cargo de Presidente da República desde janeiro de 2003.
César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci". O "publicitário" é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, Tendler afirma: ”Ele diz não se lembrar de quem era o "publicitário", mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história...” E, então, Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:
- Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara... só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...
Para quem não sabe Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "Anos JK" (800 mil espectadores). "Jango" (1 milhão de espectadores) e "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1 milhão e 800 mil espectadores).
E não ficamos por aqui. Vejamos as falas de outros participantes do almoço onde foi servido o cozido que abasteceu o longo artigo do Cesar Benjamin.
O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, citado por Benjamin, afirmou que "o almoço a que se refere o artigo de fato ocorreu", que "o publicitário americano mencionado se chamava Erick Ekwall", e que não houve "qualquer menção sobre os temas tratados no artigo". Ex-companheiros de cela de Lula no Dops, José Maria de Almeida (PSTU), José Cicote (PT) e Rubens Teodoro negaram a tentativa de estupro, tendo Almeida acrescentado que não havia ninguém do Movimento pela Emancipação do Proletariado na cela e Cicote se lembrado vagamente de que um sindicalista de São José dos Campos seria apelidado de "MEP". Já Armando Panichi Filho, um dos dois delegados do Dops escalados para vigiar Lula na prisão, disse nunca ter ouvido falar disso e não acreditar que tenha acontecido, mesmo porque, segundo ele, nem sequer havia "possibilidade de acontecer”. O então diretor do Dops Romeu Tuma (atual Senador) também desmentiu "qualquer agressão entre os presos".
O irmão de Lula, o conhecido como politizado da família Silva, o Frei Chico, lembrou que a cela do Dops era coletiva e que nunca Lula ficou sozinho, pois estava preso com os outros diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (Rubão, Zé Cicote, Manoel Anísio e Djalma Bom).
Como disse Tendler ao fim de sua entrevista ao Bob Fernandes, “...isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...”
O Presidente do PSTU, José Maria de Almeida dividiu cela com Lula e declarou o seguinte: “O governo Lula é tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu. Benjamim viajou na maionese. Não lembro sequer de haver alguém do MEP conosco.”
Lula, de acordo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto de Carvalho, teria ficado triste e abatido, afirmando que isso era "uma loucura" e o próprio Gilberto de Carvalho qualificou a acusação de "coisa de psicopata" e recriminou a Folha por tê-la publicado, já o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, afirmou que o artigo é "um lixo, um nojo, de quem escreveu e de quem publicou". Coube ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, atribuir "essa coisa nojenta" aos ressentimentos e mágoas de Benjamin, que algum tempo depois deixaria o PT, mas não por causa desse episódio.
Para seguirmos o Manual da Folha... agora seria o exato momento para uma ampla entrevista – de preferência ocupando página inteira – com o cineasta Sílvio Tendler. Seria uma forma de reafirmar seu decantado compromisso com a verdade, seu apreço pelo “outro lado da notícia” e seu interesse de bem informar os leitores. Aliás, quem conhece Cesar Benjamin e quem conhece Sílvio Tendler sabe que a verdade é sempre modesta e que esta não requer amplos espaços para se tornar referência.
Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social... ou policial.
Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
Lula superestar
Copiado do Blog Brasil, mostra a tua cara, da Glória Leite.
Por Peter Burghardt
Os brasileiros amam seu presidente Lula da Silva, os poderosos do mundo estão loucos por ele - agora "a figura mais admirada da terra" será recebida pela Chanceler Angela Merkel em Berlim.Em um cinema brasileiro passa uma história de conto de fadas. Para a sua estreia em São Bernardo do Campo, próximo a São Paulo, se encontra sentado entre os 2000 mil convidados o personagem principal, um homem forte, com uma barba. Na área industrial, começou sua carreira legendária.Com lágrimas nos olhos, Luiz Inácio Lula da Silva viu como ele veio uma vez no caminhão para fora da pobre Pernambuco.Como perdeu um dedo e sua primeira esposa. Como ele lutou como um líder sindical, Combateu a ditadura militar, foi preso e fundou o PT.Sua mãe lhe deu o apelido de Lula sem saber o que significava. "Lula, o Filho do Brasil, Lula, o filho do Brasil, é o filme sobre os primeiros 35 anos de vida do Presidente. Entretanto, sua carreira é um sucesso mundial.Sob sua liderança, o gigante da América é celebrado, como se o resto do planeta o tivesse recém-descoberto. Brasil em breve será a quinta maior potência econômica, vende aviões, ônibus, café, minério de ferro, carne, açúcar e muito mais. É democrático, estável e líquido, descobriu muito petróleo em suas costas, organizará a Copa do Mundo de 2014 e em 2016, no Rio de Janeiro, os Jogos Olímpicos.80 por cento dos brasileiros amam seus Lula, estadistas são loucos por ele. Barack Obama chamou-o „o político mais popular na terra" – recenemente houve um estremecimento na relação entre os dois deviso a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e a questão de Honduras. Gostam de Lula desde Obama, Bush, Putin, Chávez, Castro, Nicolas Sarkozy, a rainha Elizabeth, Abbas, Peres, Ahmadinejad, e assim por diante. Agora, ele pode será recebido, após sua visita de 2008, pela chanceler Angela Merkel.The Rebel transformadoAté sexta-feira, Lula dará a honra de visitar Berlim e Hamburgo. Depois irá para Copenhague, onde recentemente recebeu a confirmação das Olimíadas e agora ajudará a salvar o clima. A Alemanha não é a China, principal parceiro comercial do Brasil, mas ambos estão intimamente ligados. As importações brasileiras da Alemanha dobraram desde 2004 para 9,5 bilhões euro, a alemã do Brasil para 8,7 bilhões de euros. A Câmara de Comércio em São Paulo representa 1.200 empresas alemãs, megalópole com 20 milhões de habitantes, o mais importante centro industrial alemão. A Volkswagen do Brasil fez 50 anos em novembro. A ThyssenKrupp está construindo uma usina siderúrgica perto do Rio de Janeiro por 4,7 bilhões de euros. Infelizmente, os submarimos, para modernizar as Forças Armadas brasileiras, Lula comprará de Sarkozy em Paris, um deles de propulsão nuclear.O rebelde transformado ama tais projetos. Lula promove a exploração de petróleo pela Petrobras nas profundezas do Atlântico, a destilação do etanol biocombustível da cana de açúcar, as usinas nucleares nas verdes baías de Angra com a tecnologia Siemens. Logo, para o desgosto dos ambientalistas, o Rio São Francisco no Nordeste será desviado (??) para irrigar o Sertão seco e no paraíso natural do Rio Xingu criar uma usina hidrelétrica. O apagão de algumas semanas atrás o irritou muito.O antigo lutador de barricadas já se arranjou com o Capital, quando denunciou que a crise financeira, era resultado do "comportamento irracional dos branco de olhos azuis. O Brasil uma vez altamente endividado e com alta inflação sobreviveu ao colapso graças a intervenções inteligente. A estrela vermelha na lapela está encolhendo, mas um pouco de Estado e nacionalismo, Lula gosta de ter ao lado do mercado. Ele não quer entregar o povo aos especulantes,. Quando assumiu em 2002 prometeu o "Fome Zero". Hoje, o governo paga 80 euro a milhões de pessoas necessitadas, na esteira do programa social Bolsa Família. Esmolas, afirmam seus opositores, mas comunidades inteiras avançaram para a classe média baixa e se tornaram consumidores. Nenhum outro chefe de Estado se move tão facilmente entre as favelas e a Wall Street como Lula, da reputação do Brasil como global player, bric-estado e poder regional.Mas o que vem depois dele? Lula deixará o poder em 2010, depois de dois mandatos. Ele resisitiu à tentação de uma emenda constitucional, que lhe permitisse permanecer no poder, apesar da alta popularidade. Para herdeiro, ele escolheu Dilma Rousseff, ex-Guerillera, agora seu primeira-ministra. Como típica funcionária, ela pode perder a eleição em outubro de 2010. Ela não é a metade do que seja o filho do Brasil, que vai será admirado por todo o país a partir de janeiro nos cinemas.Sueddeutsche
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Por que Lula defende Zelaya?
Copiado do Desabafo Brasil
Por Said Barbosa Dib
As eleições arranjadas pelos golpistas de Tegucigalpa e Washington tiveram resposta à altura do povo hondurenho: 70% de abstenções. A “Rede Globo” tentou amenizar. Falou de 47%, como era de se esperar. A verdade é que o povo daquele país se recusou a participar da farsa. Atendeu ao apelo do presidente Zelaya pelo boicote maciço. A mídia amestrada no Brasil argumentou que seria uma derrota do governo brasileiro diante da diplomacia de Barack Obama. A maioria dos comentaristas tentou mostrar a diplomacia brasileira como incompetente e irresponsável. E muitos brasileiros realmente ficaram se perguntando: “mas, afinal, porque Lula defende tanto o presidente eleito daquele país inexpressivo? Por que o Itamaraty está tão preocupado com Zelaya? Qual a razão disso tudo?” A resposta é simples: o precedente.
Princípio da “Auto-Determinação dos Povos”: imperativo para a estabilidade
Lula quer que o respeito à vontade popular e às estruturas constitucionais dos países das Américas seja uma realidade intocável, sem perigo de golpes contra a soberania dos países. E esta preocupação, para quem não acredita em duendes, tem fundamento não só do ponto de vista geoestratégico no contexto atual, mas possui bases sólidas também na história recente do Brasil e da América Latina. Há uma relação direta entre o maior ou menor fluxo de capitais das transnacionais sediadas em países da América Latina (defendidas pelos EUA) e a estabilidade ou não das instituições democráticas e soberanas dos países da região. Sempre que surgiram projetos consistentes de desenvolvimento autônomo, baseados em forças políticas nacionais e populares, golpes e campanhas desestabilizadoras foram utilizadas pelos EUA, sempre com a colaboração de seus asseclas locais. O problema é sempre o mesmo: a necessidade de se restringir ou controlar as transnacionais e suas remessas descontroladas de lucros, como condição essencial para o desenvolvimento real das nações. Poder-se-ía citar dezenas de casos de governos nacionalistas e populares derrubados apenas porque cometeram o grave “pecado” de cumprir suas obrigações como governantes no sentido de desenvolverem seus países. Foi o que ocorreu com Vargas (no Brasil), Perón (na Argentina), Arbénz (na Guatemala), Cárdenas (México), Allende (Chile) e, mais recentemente, Hugo Chaves (Venezuela). Todos, derrubados, forçados a abandonar o poder ou mortos, não por serem “populistas” (como os eternos lacerdistas das nossas universidades costumam chamar), mas porque tentaram criar condições efetivas de desenvolvimento para seus povos. Ou seja, por que cumpriam suas obrigações. Desenvolvimento que implicava (e implica), necessariamente, a nacionalização soberana das forças produtivas de que dispunham e, claro, o controle ou exclusão dos ditos “investimentos diretos estrangeiros” e seus mecanismos espertalhões de “remessas de lucro”.
Goulart e a “Lei da Remessa de Lucro”
Apenas para ficarmos num exemplo mais recente, no Brasil, nunca é demais lembrar o caso do fraco presidente João Goulart. Ao contrário do que se pensa, não caiu tanto pelo que desejava fazer com relação às chamadas “reformas de base”, como a agrária, a universitária e a financeira. Jango caiu porque foi obrigado a mexer num vespeiro: o controle sobre as remessas de lucros das transnacionais. Na verdade, não tinha tanta vontade de se livrar delas. Ao contrário da popularidade de Lula hoje, não tinha apoio muito sólido nem entre os operários e estudantes. Seu governo foi cheio de concessões a seus credores norte-americanos. A mais grave, foi a imposição, pelos EUA, da compra da falida multinacional AMFORP - American and Foreign Power -, um conjunto de 12 empresas de eletricidade, espalhadas pelo Brasil, subsidiária da Bond & Share. Os norte-americanos cobraram 188 milhões de dólares, mas, na realidade, seu valor real era um terço do montante exigido. Tal subserviência canina resultou em um abalo na estrutura de governo do presidente. Já era evidente o fracasso do “Plano Trienal”, pois nem a inflação fora contida nem o crescimento pretendido fora alcançado. O governo, pressionado por sucessivas greves em diferentes setores, acabou concedendo aumentos salariais acima do previsto pelo Plano. Atendendo aos reclamos dos empresários, abrandou a contenção de crédito. Essas medidas, sem mexer nas remessas, aumentaram as taxas de inflação, que já vinham corroendo a economia desde JK. Diante do agravamento da crise econômico-financeira, o FMI, percebendo a fragilidade do governo, não liberou a renegociação da nossa dívida externa. Só de “sacanagem”, pode-se dizer, o governo do democrata J. F. Kennedy suspendeu créditos ao governo de Goulart. E ao mesmo tempo, numa atitude agressiva, concedeu empréstimos e facilidades comerciais diretamente aos governadores e prefeitos brasileiros, opositores de Jango. A idéia era desestabilizar o governo. Só depois disso o indeciso Goulart, então já desesperado, resolveu agir com maior firmeza e radicalizar suas medidas. Assim, determinou ao novo ministro da Fazenda, Carvalho Pinto (Celso Furtado tinha sido afastado), a reativação imediata da Lei de Remessa de Lucros. Era apenas uma retaliação, não uma convicção do presidente de que aquela era uma medida correta para o Brasil. A lei já havia sido aprovada pelo Congresso em setembro de 1962, porém, ainda não tinha sido regulamentada pelo Executivo. Se colocada em prática, evitaria a saída do enorme volume de dinheiro obtido pelas transnacionais no Brasil (a verdadeira e estrutural causa da inflação desde o governo enganoso de JK). Por isso, os poderosos grupos internacionais que atuavam no país ficaram alarmados e, através do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, procuraram por todos os meios evitar a regulamentação. As pressões foram em vão. Em janeiro de 1964 a Lei foi finalmente regulamentada. Porém, como diz o poeta, “Inês é morta”. A partir do momento que a assinou, Goulart selou destino. Não passou 60 dias a mais no governo. O resto da história... já sabemos no que deu.
A situação atual: diferente de Goulart, Jânio e Collor, Lula “não dá asas à cobra”...
Durante muito tempo tive ódio de mim mesmo por ter votado em Lula para o primeiro mandato. Assim como milhões de brasileiros, não admitia a lentidão das mudanças e, principalmente, a manutenção da política econômica do “governo” anterior. Achava que o presidente teria que ter arrancado à fórceps aquela herança maldita. Teria que ter culhão. Quando Berzoinni e Palocci propuseram as reformas previdenciária e tributária, detonando com a já arrochada classe média e aposentados e pensionistas, fiquei ainda mais revoltado. Depois da preservação da autonomia real e deletéria do Banco Central, nas mãos do funcionário do Banco de Boston, então, fiquei furioso e sem esperanças. Mas, refletindo sobre o que acontecia na Venezuela e analisando a atuação da grande e poderosa mídia brasileira, quis acreditar que Lula poderia ter razão em não acelerar as mudanças. A reação poderia ser fatal. O perigo de golpes diretos ou indiretos, como se viu, sempre é uma ameaça muito grande. Afinal, uma coisa é analisar a situação olhando de fora. Outra, bem diferente, é estar no poder, tomando decisões. Hoje, acredito (ou espero) que Lula tenha a perfeita compreensão de seu poder e de suas limitações. No plano interno, depois de dois mandatos, apesar do lacerdismo desavergonhado da mídia e das insatisfações localizadas de setores médios urbanos, conseguiu avançar bastante. Diferente de Goulart, tem perto de 80% de apoio popular, não só entre os trabalhadores organizados (sindicalizados), mas também em nas classes “C” e “D”, aqueles mesmos “descamisados” que apoiavam o Collor e que não votavam jamais no PT. As políticas de proteção social adotadas, como o “Bolsa Escola”, foram decisivas para esta expansão. Lula tem ainda uma forte base parlamentar. Bem articulada e variada, principalmente com o apoio, no segundo mandato, do PMDB, um grande esforço do ex-presidente Sarney. Providência fundamental que Goulart, assim como Jânio Quadros no passado e Collor recentemente, não conseguiu adotar. E Lula, a despeito de sua própria vontade, não tem ainda contra si a ira da poderosa oligarquia financeira internacional e dos “gerentões” das transnacionais, pois está obrigado a manter a estrutura básica da política econômica monetarista, baseada no câmbio livre e na manutenção do famigerado “superávit fiscal”. Quer dizer, além de contar com a fraqueza e a inoperância de uma “oposição” anêmica, inexpressiva e de rabo preso, Lula tem o apoio tanto dos setores mais poderosos da economia dependente brasileira quanto das pessoas mais pobres. Apenas setores específicos da classe média, arrochados por impostos e contribuições exorbitantes - e prejudicados por coisas como a reforma previdenciária dos patetas Palocci e Berzoini -, têm reclamações consistentes contra o governo. E o presidente sabe que tais reclamações não poderão ficar sem respostas por muito tempo. Com as descobertas do “Pré-Sal” e a necessidade de investimentos em nossa infra-estrutura, barreiras ao desenvolvimento, herdadas do lamentável período FHC, terão necessariamente que ser removidas, como o câmbio flutuante, a DRU, as metas fiscais, etc.. As ações golpistas e as manipulações da imprensa, hoje sem grandes ressonâncias, podem se tornar cada vez mais perigosas, na medida em que o projeto de resgate da soberania efetiva do Brasil avance e se aprofunde. Lula sabe, também, que politicamente não pode contar com um terceiro mandato. Daí a necessidade imperiosa de que Dilma vença e evite um retrocesso. Ela é hoje a única que tem capacidade técnica e política de dar continuidade a este doloroso processo.
Evitando futuros problemas...
Mas uma coisa poderia ameaçar um futuro governo Dilma comprometido com a independência efetiva do Brasil. A institucionalização, no Hemisfério Ocidental, da perigosa e devastadora aliança entre os golpistas internos de sempre e o já manjado “Big Stick” norte-americano. Há a necessidade de não se admitir, dentro do Direito Público Internacional, novas intervenções de força, como a que ocorreu tanto no Brasil em 64, como a que aconteceu na Venezuela recentemente. Em tempos de “Pré-Sal e reestruturação da 4ª Frota dos EUA no Atlântico Sul, de “Plano Colômbia” e constantes ameaças à Amazônia brasileira (principalmente com relação ao nosso nióbio na Raposa Serra do Sol), com todas as tolices sobre clima em Copenhague e tudo mais, não se pode considerar exagerado o esforço da diplomacia brasileira em amarrar regras claras de repúdio internacional contra qualquer futura intervenção norte-americana na América Latina. Apenas e tão somente por isso, Lula tem razão em defender o presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya. Não está defendendo Zelaya, está defendendo o combate ao precedente, que poderá afetar o Brasil amanhã.
Mexendo novamente no “vespeiro”: a evasão de divisas e as perdas internacionais do Brasil
Apesar da grande mídia não mostrar, ao mesmo tempo em que se previne contra futuros golpes, Lula e Dilma sabem que terão que combater o mesmo problema que Goulart teve que enfrentar. Logicamente, dentro de um contexto muito mais favorável, como demonstrei. Recentemente, houve a 6ª edição da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), realizada em Salvador (BA), entre 25 e 28 de novembro de 2008. É uma importante iniciativa do Ministério da Justiça, que comanda as ações da Polícia Federal. Polícia Federal que vem sendo decisiva para combater a corrupção em todos os níveis, tanto aquela corrupção no varejo, como a do Arruda no GDF, quanto aquela corrupção no “atacadão” das transnacionais. Na oportunidade, foram definidos eixos estratégicos em que se estabeleceram ações para o enfrentamento à improbidade administrativa, à lavagem de dinheiro por meio do comércio, como a identificação de matriz de risco (tipologias) e a regulamentação das técnicas especiais de investigação. Quer dizer, Lula, agora com muito mais força, tanto no plano interno como no internacional (que vem construindo), do que tinha João Goulart nos Anos 60, com razão está preocupado com o controle das remessas ilegais de lucro. E sabe que encontrará grande resistência. O governo, apesar da mídia não mostrar, está adotando medidas duras para controlar não somente as remessas ilegais, mas também as que, apesar de legalmente realizadas (como as famigeradas “Contas CC5”), não têm base ética de existirem. Recentemente, o governo recuperou US$ 1 milhão do escândalo bilionário de envio de remessas ilegais do Banestado. Descoberto em 1998, o escândalo no sistema financeiro que envolvia remessas ilegais de dinheiro para o exterior deu origem a uma investigação federal e a uma Comissão Parlamentar de Inquérito em 2003. O dinheiro, que estava bloqueado nos Estados Unidos, será depositado na conta do Tesouro e representa muito pouco dos US$ 20 bi desviados, mas já se abriu um precedente. Essa não é a primeira repatriação de recursos do caso do Banestado. Em novembro de 2007, US$ 1,6 milhão foram devolvidos aos cofres públicos. Pela legislação norte-americana, o país tem direito a um terço dos recursos que foram enviados ilegalmente. A recuperação dos recursos estava sendo negociada pelo Ministério da Justiça e pelo Department of Homeland Security (DHS), responsável pela segurança interna e que também atua para coibir a remessa de dinheiro ilegal para os Estados Unidos. De acordo com o procurador da República Vladimir Aras, que atuou em 2004 na força-tarefa montada pelo Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) do Paraná para investigar o esquema, os criminosos usavam dois mecanismos para a remessa: as contas CC5, aquelas em que o titular não é residente, e, por isso, pode converter os saldos em dólares, e o dólar cabo, que é a transferência virtual de recursos. "Durante a operação Zero Absoluto, pedimos o congelamento dos ativos e é parte desses valores que estamos recuperando", afirma Aras, explicando que, na época, o MPF pediu a repatriação de cerca de US$ 27 milhões. Lula quer que o combate à lavagem de dinheiro seja intensificado, daí suas preocupações com as resistências ao seu governo, pois mexerá com gente poderosa. Por isso, além da diplomacia do Itamaraty junto à comunidade internacional, determinou que serão prioridades em 2010:
- Ações contra a formação de milícias nos estados
- Investigação do uso de paraísos fiscais como destino de dinheiro ilícito
- Apuração de formação de quadrilhas nos sistemas prisionais
- Evitar a corrupção associada a serviços terceirizados
- Fiscalização para evitar irregularidades nas licitações referentes à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016
O problema, como há 40 anos, é a extrema facilidade na movimentação financeira pelos elementos envolvidos em casos como o das organizações terroristas internacionais quanto dos cleptocratas e corruptos de todos os matizes, que se beneficiam justamente da desregulamentação das movimentações financeiras em escala mundial, o que permite que suas operações ilegais sejam encobertas e não possam ser rastreadas. Isto vem ocorrendo principalmente depois da onda neoliberal intensificada a partir das décadas de 80 e 90. Em especial, no governo apátrida de FHC.
Como está, o Brasil exporta capitais
Segundo informações oficiais do próprio Banco Central, obtidas pelo “censo de capitais de brasileiros no exterior”, referente ao ano de 2004, oficialmente (OFICIALMENTE!!!), os brasileiros têm US$ 94,731 bilhões, equivalentes a 15,7% do Produto Interno Bruto (PIB), “investidos no exterior” (hoje é muito mais), dinheiro nem de longe citado pelos amestrados da “Veja”. Os dados ainda são preliminares, mas já se sabe que, em 2003, eram US$ 82,692 bilhões. No espaço de um ano, os ativos de brasileiros no exterior cresceram, portanto, 14,6%.
O dinheiro, com as mesmas origens obscuras do que foi levantado no escândalo que deu origem à falecida “CPI do Banestado”(e que a “Veja” fez de tudo para esquecer) está aplicado em locais livres de tributação, como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas e Bahamas. Do total de ativos oficiais de brasileiros no exterior, US$ 70,691 bilhões são de investimentos diretos, ou seja, estão aplicados em empresas. Há outros US$ 8,201 bilhões aplicados em papéis dos mais variados tipos, como títulos de longo prazo (como os títulos públicos) e bônus. Esses dados são informações oficiais captadas pelo “censo do Bacen”. Porém, apesar de reveladores, não demonstra o verdadeiro universo daquele dinheiro movimentado às escondidas, ou seja, não constam as remessas de lucros das transnacionais, os pagamentos de royalties, os recursos oriundos de operações criminosas, as manipulações contábeis dos grandes oligopólios exportadores (majoritariamente transnacionais), nem os recursos escoados para o exterior para o pagamento das dívidas interna e externa. Se calculados, estes demonstrariam uma dimensão ainda mais assustadora da verdadeira sangria que a economia nacional é submetida diariamente.
De como o nosso próprio dinheiro financia nossa dívida pública
Mas, deixemos estes últimos para uma análise posterior. Fiquemos, por enquanto, apenas nos mecanismos, no caminho tortuoso que o nosso dinheiro percorre antes de se transformar no tão almejado investimento direto “estrangeiro” ou nos “títulos” remunerados a juro extorsivos pelo povo brasileiro. Ou seja, veremos como o dinheiro de brasileiros, sonegado ao Estado brasileiro, financia nossa dívida pública (brasileira) simplesmente porque se mantém um descontrole cambial e uma política econômica que permitem que isso ocorra. O dinheiro roubado das mais diversas e “criativas” formas do Brasil é remetido aos paraísos fiscais offshore através de uma complexa rede de laranjas. O sistema de regulamentação permissivo relativo a estas “cabeças de ponte offshore da evasão fiscal” evoluiu para um ponto que permite a investidores americanos, brasileiros ou europeus - “democraticamente”, sem distinção de nacionalidade - livrarem-se de impostos e/ou lavarem dinheiro. Para isso, contratam um advogado para montar um escritório num lugar conveniente num paraíso fiscal e descobrir uma firma de contabilidade apta a efetuar os seus registros sem exigências — o que é suficientemente bom para a aceitação das autoridades fiscais nestes dias de operações desregulamentadas. São contratados escritórios de advogados e contabilistas nesses paraísos, especializados em camuflar a origem do dinheiro. O sistema institucional de “sigilo bancário” e a facilidade de movimentação financeira garantem a não-identificação das operações. Esta grana roubada de empresas nacionais e estatais (ou “apenas” sonegada), como agora se vê todos os dias na televisão, financia uma porção substancial tanto do déficit da balança de pagamentos do Brasil quanto dos EUA, quando os dinheiros localizados nos paraísos fiscais passam a comprar os bônus e os títulos dos tesouros desses países. Os recursos desviados pelos "reformadores" neoliberais e cleptocratas tupiniquins “transformam-se nos famosos capitais voláteis, que permitem beneficiar ladrões, traficantes e terroristas do mundo todo e, de lambuja, beneficiam as corporações transnacionais, que evadem impostos por toda a parte, incluindo os próprios Estados Unidos”. As transnacionais e as grandes empresas exportadoras também viram nos paraísos fiscais uma forma de ampliar as suas operações de remessas ilegais de lucro. Um exportador argentino, brasileiro ou russo (vinculados às transnacionais) vende a preço faturado ficticiamente baixo, pedindo ao comprador que deposite a diferença numa conta bancária offshore. É desnecessário dizer que o exportador argentino, o brasileiro ou o russo não declararão este haver, assim ele não aparece nas contas oficiais. Mas existe na realidade. É por isso que as dívidas relatadas do mundo excedem as poupanças locais por uma margem do que se vê nas contabilidades como "erros e omissões". As maiores firmas de contabilidade e de advocacia da América do Norte e da Europa obtêm uma proporção crescente dos seus rendimentos ministrando conselhos a companhias que procuram utilizar estas táticas. Os utilizadores primários são gestores de dinheiro e corporações importantes especializados em esconder os seus lucros (ou perdas, no caso da Enron e da Parmalat) da vigilância das autoridades nos seus próprios países. Nos anos 1990, a Enron, a Parmalat - e outros gigantes corporativos criminosos - foram capazes de organizar as maiores fraudes financeiras da história, utilizando finanças estruturadas envolvendo paraísos hot-money. É notável que os neoliberais de plantão, como os tucanos da globalização cleptocrática internacional, louvem este fenômeno ao invés de denunciá-lo. O resultado tem sido criar uma situação em que, se alguém tem de possuir terra, outros ativos tangíveis, ou títulos financeiros, o melhor caminho para evitar os impostos é registrá-los em nome de procuradores offshore. O passo seguinte destas entidades é emprestar este dinheiro de volta para si mesmos, cobrando suficientes juros para absorver o anterior rendimento. Operadores suficientemente grandes para montarem a sua própria companhia de seguros podem tratar como perdas o remanescente do seu rendimento como pagamentos de seguros fiscalmente dedutíveis à sua entidade offshore, criada apenas para este fim, juntamente com os habituais encargos. Operadores financeiramente refinados enviam o seu dinheiro offshore e, então, tomam-no emprestado de volta, pagando suficientes juros, seguros e taxas administrativas para si próprios, a fim de absorverem os seus rendimentos e torná-los assim livres de impostos. Estes pagamentos gastos consigo próprios aparecem no rendimento nacional e nas estatísticas fiscais como um custo de fazer negócios, ao passo que as estatísticas de balança de pagamentos mostram-nos como um fluxo internacional por "serviços" sob a rubrica de "invisíveis". Assim também as estatísticas tornam-se cada vez mais ficcionais. Figuras como aqueles que estavam sendo investigados na CPI do Banestado, ou as operações de Marcos Valério, de Azeredo ou de Arruda, juntamente com os traficantes, os cleptocratas de todos os matizes, os terroristas, os ladrões, os traficantes de armas, etc., são, ao mesmo tempo e contraditoriamente, os homens que roubam as riquezas do Brasil, lavam seus botins nos paraísos fiscais e nos emprestam para que paguemos depois as nossas dívidas interna e externa. Ou seja, a atração dos tais investimentos estrangeiros, que Lula vem sendo obrigado a manter pela política econômica de Meirelhes, e em nome do qual tanta privação nos é imposta, não passa de nosso próprio dinheiro. É brincadeira!!!
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A globalização como utopia dos criminosos e sonegadores em escala mundial: evitando bens tangíveis
Grande parte da dívida externa líquida dos EUA, assim como aquelas de países como a Argentina e Brasil, é possuída pelos centros de capital volátil. Isto já se tornou o significado de "globalização" na sua dimensão financeira. O mais importante fenômeno econômico do mundo que determina as taxas de câmbio hoje foi relegado para a economia "negra" não observável — não apenas o crime, mas o que está se tornando a massa dominante de riqueza corporativa e pessoal. É mais invisível hoje do que nunca, a fim de evitar as autoridades fiscais.
O mais impressionante disso é que a maior parte dos detentores de liquidez na sociedade de hoje são criminosos e sonegadores fiscais. Eles têm uma boa razão para evitar o imobiliário ou outras propriedades tangíveis. É demasiado visível para acusadores e autoridades fiscais. É por isso que as estatísticas de balança de pagamentos classificam os movimentos de capital como "invisíveis". Importante firmas de contabilidade e parceiros legais ocupam-se em inventar truques para evitar impostos e criar um "véu de intermediários" ("veil of tiers") para proporcionar um manto de invisibilidade para a riqueza acumulada por desfalcadores, evasores fiscais, traficantes de droga, traficantes de armas e agências de inteligência do governo norte-americano para utilização nas suas operações encobertas.
Portanto, a grande ironia, hoje, quando se fala, por exemplo, de terroristas como Osama Bin Laden e atentados como os que ocorreram em Londres, ou o tráfico nas favelas do Rio, é que eles existem e desempenham suas ações com extrema eficiência e ousadia justamente porque se beneficiam de um sistema financeiro mundial que lhes permitem ficar na sombra. Os EUA financeiramente vivem de um sistema pernicioso que, hoje, alimenta os terroristas que aflingem a sua própria sociedade. Ou seja, criaram o monstro.
Investimentos “estrangeiros”, em países como o Brasil e a Argentina, não são tão estrangeiros assim
No fim da década de 1980, administradores de dinheiro americanos estavam incorporando fundos mútuos offshore para penetrar ainda mais nos mercados globais de capitais. Os maiores investidores foram políticos bem informados do Terceiro Mundo que compraram o fundo sabendo que os seus bancos centrais pagariam as suas dívidas em dólar, apesar dos altos riscos. Enquanto estes oligarcas locais apareciam nas estatísticas dos seus países como "credores de dólares", ingênuos internos culpavam apenas os ianques, o FMI, o Banco Mundial e banqueiros britânicos por aplicarem austeridade financeira aos seus países para a garantia dos lucros dos especuladores. Ainda que a dívida em dólar da Argentina no princípio da década de 1990 fosse possuída principalmente por argentinos, a operarem do estrangeiro, a partir de centros bancários offshore. Os maiores beneficiários do serviço da dívida externa não foram nem europeus nem norte-americanos, mas os próprios capitalistas voláteis argentinos, não possuidores de títulos na América do Norte e nem na Europa. E o mesmo vem acontecendo com o Brasil.
Para a Argentina ou para o Brasil, um "estrangeiro" era provavelmente um corrupto local a operar de uma conta offshore invisível para o seu governo (o qual era constituído em grande parte por suas próprias famílias). Pode-se encontrar o mesmo fenômeno na Rússia de hoje, onde um "investidor estrangeiro" tende a ser um russo com uma conta offshore a operar a partir de Chipre, da Suíça ou do Lichtenstein, talvez em parceria com um americano ou outro estrangeiro para camuflagem política.
O crime é um dos setores chave para os quais não são feitas estimativas. Ainda que seja talvez o mais líquido, pois ditadores e cleptocratas, ladrões e traficantes de droga, receiam amarrarem-se aos seus ativos de forma visível. As mais novas adições à classe mundial dos rentistas, eles tornaram-se uma fonte de liquidez para as economias de hoje. E é atrás desse dinheiro que os últimos “governos” apátridas no Brasil vêm impondo apertos financeiros inomináveis aos que verdadeiramente produzem e pagam impostos no Brasil.
Conclusão óbvia: a política econômica atual é produto e produtora de corrupção
Mantidas as atuais políticas de submissão dos países "dependentes", manter-se-á esta relação simbiótica onde países como o Brasil tornam-se, ao contrário do que se imagina, verdadeiros exportadores de capital, subsidiando as irresponsabilidades macroeconômicas dos EUA. No mundo real, para que o dinheiro tenha valor efetivo, teoricamente, precisa-se de riquezas energéticas aliadas a trabalho e tecnologia. Apenas em decorrência da fantasia do valor-dólar, os nossos compromissos e nossas políticas econômicas, desconsiderando as nossas vantagens comparativas óbvias em termos energéticos, são direcionadas para se garantir fluxo de capital para o cassino internacional.
Os EUA estão atuando como o "consumidor de última instância", ou seja, estão obtendo um empréstimo maciço e sem juro do resto do mundo sem o compromisso de honrar estes empréstimos. Há uma total inversão da realidade. É pura ideologia. Na verdade, o que acontece é que os países periféricos - que possuem (mas não controlam totalmente) garantias energéticas reais para o padrão-dólar, inclusive e principalmente o petróleo -, estão "importando" as dificuldades da economia americana, estão assumindo problemas não da periferia, mas dos centros financeiros, pois não possuem soberania sobre as decisões macroeconômicas. Por isso, os americanos suportam um situação insólita em que a sua dívida externa assume cifra gigantesca: US$ 3 trilhões.
Essa vulnerabilidade provém dos déficits na conta corrente com o exterior, da ordem de US$ 500 bilhões por ano. Trata-se, como ensina Adriano Benayon, "de dependência análoga à do Brasil e à da Argentina em passado recente, pois quanto mais o balanço de pagamentos se equilibra por meio de investimentos diretos estrangeiros, mais crescem os fatores do desequilíbrio". Porém, não são eles que são obrigados a pagar a conta. Em decorrência das ridículas medidas de submissão de países como o nosso na Era Tucanóide, com uma elite covarde e apátrida, com discursos sobre Banco Central independente, superávit fiscal, Lei de “Responsabilidade” Fiscal e coisas do gênero, somos nós, detentores de riquezas efetivas, que pagamos o descontrole financeiro ianque.
O ingresso de capitais estrangeiros nos EUA subiu de US$ 142 bilhões em 1990 para US$ 466 bilhões em 1996. Em 2000 atingiu 1,24 trilhão, em grande parte decorrentes da festa exploratória das transnacionais sediadas nos países periféricos e das remessas encobertas de lucros. Mas os norte-americanos, diferentes de outros países como o Brasil, não são obrigados a manter suas contas controladas pelo FMI e, a continuar o atual não-sistema financeiro mundial, jamais serão obrigados a resgatar estas dividas. E, de lambuja, ainda alimentam todas as formas desenvolvidas de criminalidade e terrorismo.
Lula, já no primeiro mandato, foi eleito com aproximadamente 80% de aprovação, não podemos nos esquecer disso, pois devemos contar não apenas os cinqüenta e poucos por cento dados a ele, mas todos os votos que não foram para o tucanóide enxacoco Serra. Foram 80% de repúdio ao modelo atual. Por isso, Lula não deveria ter o direito de errar, não poderia desperdiçar a oportunidade ímpar de remover o modelo dependente pela raiz. Ele foi eleito para isso, não para aprofundar o que o povo quis varrido do País. Embora a mídia adestrada e comprada tenha tentado mostrar a saída de FHC como honrosa e até vitoriosa, não há como negar que o tucano foi rechaçado pelos brasileiros, abominado, menosprezado, derrotado. O seu desgoverno apátrida e canalha foi tão ruim, tão repudiado pelo povo, que fez até o milagre de antipetistas históricos votarem no Lula. Com as dificuldades em se desconstruir a herança maldita de FHC, Lula fez o que foi factível fazer. Caberá agora a Dilma a limpeza total. É isso.
Said Barbosa Dib é analista político e professor de História em BsB, escreve semanalmente para o blog da Dilma
E.mail: saidib@ig.com.br
Obs.: O professor Michel Hudson, cujo trabalho é a base deste artigo, é economista financeiro independente e atua na Wall Street. Depois de trabalhar como economista especializado em balança de pagamentos para o Chase Manhattan Bank e para a Arthur Anderson na década de 1960, lecionou finanças internacionais na New School em Nova York. Atualmente é Distinguished Professor of Economics na Universidade do Missouri (Kansas City). Ou seja, conhece bem as sujeiras todas por dentro. Publicou numerosos trabalhos acerca da dominância financeira dos EUA. Também foi conselheiro econômico dos governos canadense, mexicano, russo e norte-americano. Seus livros incluem Trade, Development, and Foreign Debt (Pluto, 1992, 2 vols.). É autor do livro Super Imperialism — The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance (Pluto Press, 2003, 425 p., ISBN 0-7453-1989-0). O seu site está em
http://michael-hudson.com/indexbody.html
Por Said Barbosa Dib
As eleições arranjadas pelos golpistas de Tegucigalpa e Washington tiveram resposta à altura do povo hondurenho: 70% de abstenções. A “Rede Globo” tentou amenizar. Falou de 47%, como era de se esperar. A verdade é que o povo daquele país se recusou a participar da farsa. Atendeu ao apelo do presidente Zelaya pelo boicote maciço. A mídia amestrada no Brasil argumentou que seria uma derrota do governo brasileiro diante da diplomacia de Barack Obama. A maioria dos comentaristas tentou mostrar a diplomacia brasileira como incompetente e irresponsável. E muitos brasileiros realmente ficaram se perguntando: “mas, afinal, porque Lula defende tanto o presidente eleito daquele país inexpressivo? Por que o Itamaraty está tão preocupado com Zelaya? Qual a razão disso tudo?” A resposta é simples: o precedente.
Princípio da “Auto-Determinação dos Povos”: imperativo para a estabilidade
Lula quer que o respeito à vontade popular e às estruturas constitucionais dos países das Américas seja uma realidade intocável, sem perigo de golpes contra a soberania dos países. E esta preocupação, para quem não acredita em duendes, tem fundamento não só do ponto de vista geoestratégico no contexto atual, mas possui bases sólidas também na história recente do Brasil e da América Latina. Há uma relação direta entre o maior ou menor fluxo de capitais das transnacionais sediadas em países da América Latina (defendidas pelos EUA) e a estabilidade ou não das instituições democráticas e soberanas dos países da região. Sempre que surgiram projetos consistentes de desenvolvimento autônomo, baseados em forças políticas nacionais e populares, golpes e campanhas desestabilizadoras foram utilizadas pelos EUA, sempre com a colaboração de seus asseclas locais. O problema é sempre o mesmo: a necessidade de se restringir ou controlar as transnacionais e suas remessas descontroladas de lucros, como condição essencial para o desenvolvimento real das nações. Poder-se-ía citar dezenas de casos de governos nacionalistas e populares derrubados apenas porque cometeram o grave “pecado” de cumprir suas obrigações como governantes no sentido de desenvolverem seus países. Foi o que ocorreu com Vargas (no Brasil), Perón (na Argentina), Arbénz (na Guatemala), Cárdenas (México), Allende (Chile) e, mais recentemente, Hugo Chaves (Venezuela). Todos, derrubados, forçados a abandonar o poder ou mortos, não por serem “populistas” (como os eternos lacerdistas das nossas universidades costumam chamar), mas porque tentaram criar condições efetivas de desenvolvimento para seus povos. Ou seja, por que cumpriam suas obrigações. Desenvolvimento que implicava (e implica), necessariamente, a nacionalização soberana das forças produtivas de que dispunham e, claro, o controle ou exclusão dos ditos “investimentos diretos estrangeiros” e seus mecanismos espertalhões de “remessas de lucro”.
Goulart e a “Lei da Remessa de Lucro”
Apenas para ficarmos num exemplo mais recente, no Brasil, nunca é demais lembrar o caso do fraco presidente João Goulart. Ao contrário do que se pensa, não caiu tanto pelo que desejava fazer com relação às chamadas “reformas de base”, como a agrária, a universitária e a financeira. Jango caiu porque foi obrigado a mexer num vespeiro: o controle sobre as remessas de lucros das transnacionais. Na verdade, não tinha tanta vontade de se livrar delas. Ao contrário da popularidade de Lula hoje, não tinha apoio muito sólido nem entre os operários e estudantes. Seu governo foi cheio de concessões a seus credores norte-americanos. A mais grave, foi a imposição, pelos EUA, da compra da falida multinacional AMFORP - American and Foreign Power -, um conjunto de 12 empresas de eletricidade, espalhadas pelo Brasil, subsidiária da Bond & Share. Os norte-americanos cobraram 188 milhões de dólares, mas, na realidade, seu valor real era um terço do montante exigido. Tal subserviência canina resultou em um abalo na estrutura de governo do presidente. Já era evidente o fracasso do “Plano Trienal”, pois nem a inflação fora contida nem o crescimento pretendido fora alcançado. O governo, pressionado por sucessivas greves em diferentes setores, acabou concedendo aumentos salariais acima do previsto pelo Plano. Atendendo aos reclamos dos empresários, abrandou a contenção de crédito. Essas medidas, sem mexer nas remessas, aumentaram as taxas de inflação, que já vinham corroendo a economia desde JK. Diante do agravamento da crise econômico-financeira, o FMI, percebendo a fragilidade do governo, não liberou a renegociação da nossa dívida externa. Só de “sacanagem”, pode-se dizer, o governo do democrata J. F. Kennedy suspendeu créditos ao governo de Goulart. E ao mesmo tempo, numa atitude agressiva, concedeu empréstimos e facilidades comerciais diretamente aos governadores e prefeitos brasileiros, opositores de Jango. A idéia era desestabilizar o governo. Só depois disso o indeciso Goulart, então já desesperado, resolveu agir com maior firmeza e radicalizar suas medidas. Assim, determinou ao novo ministro da Fazenda, Carvalho Pinto (Celso Furtado tinha sido afastado), a reativação imediata da Lei de Remessa de Lucros. Era apenas uma retaliação, não uma convicção do presidente de que aquela era uma medida correta para o Brasil. A lei já havia sido aprovada pelo Congresso em setembro de 1962, porém, ainda não tinha sido regulamentada pelo Executivo. Se colocada em prática, evitaria a saída do enorme volume de dinheiro obtido pelas transnacionais no Brasil (a verdadeira e estrutural causa da inflação desde o governo enganoso de JK). Por isso, os poderosos grupos internacionais que atuavam no país ficaram alarmados e, através do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, procuraram por todos os meios evitar a regulamentação. As pressões foram em vão. Em janeiro de 1964 a Lei foi finalmente regulamentada. Porém, como diz o poeta, “Inês é morta”. A partir do momento que a assinou, Goulart selou destino. Não passou 60 dias a mais no governo. O resto da história... já sabemos no que deu.
A situação atual: diferente de Goulart, Jânio e Collor, Lula “não dá asas à cobra”...
Durante muito tempo tive ódio de mim mesmo por ter votado em Lula para o primeiro mandato. Assim como milhões de brasileiros, não admitia a lentidão das mudanças e, principalmente, a manutenção da política econômica do “governo” anterior. Achava que o presidente teria que ter arrancado à fórceps aquela herança maldita. Teria que ter culhão. Quando Berzoinni e Palocci propuseram as reformas previdenciária e tributária, detonando com a já arrochada classe média e aposentados e pensionistas, fiquei ainda mais revoltado. Depois da preservação da autonomia real e deletéria do Banco Central, nas mãos do funcionário do Banco de Boston, então, fiquei furioso e sem esperanças. Mas, refletindo sobre o que acontecia na Venezuela e analisando a atuação da grande e poderosa mídia brasileira, quis acreditar que Lula poderia ter razão em não acelerar as mudanças. A reação poderia ser fatal. O perigo de golpes diretos ou indiretos, como se viu, sempre é uma ameaça muito grande. Afinal, uma coisa é analisar a situação olhando de fora. Outra, bem diferente, é estar no poder, tomando decisões. Hoje, acredito (ou espero) que Lula tenha a perfeita compreensão de seu poder e de suas limitações. No plano interno, depois de dois mandatos, apesar do lacerdismo desavergonhado da mídia e das insatisfações localizadas de setores médios urbanos, conseguiu avançar bastante. Diferente de Goulart, tem perto de 80% de apoio popular, não só entre os trabalhadores organizados (sindicalizados), mas também em nas classes “C” e “D”, aqueles mesmos “descamisados” que apoiavam o Collor e que não votavam jamais no PT. As políticas de proteção social adotadas, como o “Bolsa Escola”, foram decisivas para esta expansão. Lula tem ainda uma forte base parlamentar. Bem articulada e variada, principalmente com o apoio, no segundo mandato, do PMDB, um grande esforço do ex-presidente Sarney. Providência fundamental que Goulart, assim como Jânio Quadros no passado e Collor recentemente, não conseguiu adotar. E Lula, a despeito de sua própria vontade, não tem ainda contra si a ira da poderosa oligarquia financeira internacional e dos “gerentões” das transnacionais, pois está obrigado a manter a estrutura básica da política econômica monetarista, baseada no câmbio livre e na manutenção do famigerado “superávit fiscal”. Quer dizer, além de contar com a fraqueza e a inoperância de uma “oposição” anêmica, inexpressiva e de rabo preso, Lula tem o apoio tanto dos setores mais poderosos da economia dependente brasileira quanto das pessoas mais pobres. Apenas setores específicos da classe média, arrochados por impostos e contribuições exorbitantes - e prejudicados por coisas como a reforma previdenciária dos patetas Palocci e Berzoini -, têm reclamações consistentes contra o governo. E o presidente sabe que tais reclamações não poderão ficar sem respostas por muito tempo. Com as descobertas do “Pré-Sal” e a necessidade de investimentos em nossa infra-estrutura, barreiras ao desenvolvimento, herdadas do lamentável período FHC, terão necessariamente que ser removidas, como o câmbio flutuante, a DRU, as metas fiscais, etc.. As ações golpistas e as manipulações da imprensa, hoje sem grandes ressonâncias, podem se tornar cada vez mais perigosas, na medida em que o projeto de resgate da soberania efetiva do Brasil avance e se aprofunde. Lula sabe, também, que politicamente não pode contar com um terceiro mandato. Daí a necessidade imperiosa de que Dilma vença e evite um retrocesso. Ela é hoje a única que tem capacidade técnica e política de dar continuidade a este doloroso processo.
Evitando futuros problemas...
Mas uma coisa poderia ameaçar um futuro governo Dilma comprometido com a independência efetiva do Brasil. A institucionalização, no Hemisfério Ocidental, da perigosa e devastadora aliança entre os golpistas internos de sempre e o já manjado “Big Stick” norte-americano. Há a necessidade de não se admitir, dentro do Direito Público Internacional, novas intervenções de força, como a que ocorreu tanto no Brasil em 64, como a que aconteceu na Venezuela recentemente. Em tempos de “Pré-Sal e reestruturação da 4ª Frota dos EUA no Atlântico Sul, de “Plano Colômbia” e constantes ameaças à Amazônia brasileira (principalmente com relação ao nosso nióbio na Raposa Serra do Sol), com todas as tolices sobre clima em Copenhague e tudo mais, não se pode considerar exagerado o esforço da diplomacia brasileira em amarrar regras claras de repúdio internacional contra qualquer futura intervenção norte-americana na América Latina. Apenas e tão somente por isso, Lula tem razão em defender o presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya. Não está defendendo Zelaya, está defendendo o combate ao precedente, que poderá afetar o Brasil amanhã.
Mexendo novamente no “vespeiro”: a evasão de divisas e as perdas internacionais do Brasil
Apesar da grande mídia não mostrar, ao mesmo tempo em que se previne contra futuros golpes, Lula e Dilma sabem que terão que combater o mesmo problema que Goulart teve que enfrentar. Logicamente, dentro de um contexto muito mais favorável, como demonstrei. Recentemente, houve a 6ª edição da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), realizada em Salvador (BA), entre 25 e 28 de novembro de 2008. É uma importante iniciativa do Ministério da Justiça, que comanda as ações da Polícia Federal. Polícia Federal que vem sendo decisiva para combater a corrupção em todos os níveis, tanto aquela corrupção no varejo, como a do Arruda no GDF, quanto aquela corrupção no “atacadão” das transnacionais. Na oportunidade, foram definidos eixos estratégicos em que se estabeleceram ações para o enfrentamento à improbidade administrativa, à lavagem de dinheiro por meio do comércio, como a identificação de matriz de risco (tipologias) e a regulamentação das técnicas especiais de investigação. Quer dizer, Lula, agora com muito mais força, tanto no plano interno como no internacional (que vem construindo), do que tinha João Goulart nos Anos 60, com razão está preocupado com o controle das remessas ilegais de lucro. E sabe que encontrará grande resistência. O governo, apesar da mídia não mostrar, está adotando medidas duras para controlar não somente as remessas ilegais, mas também as que, apesar de legalmente realizadas (como as famigeradas “Contas CC5”), não têm base ética de existirem. Recentemente, o governo recuperou US$ 1 milhão do escândalo bilionário de envio de remessas ilegais do Banestado. Descoberto em 1998, o escândalo no sistema financeiro que envolvia remessas ilegais de dinheiro para o exterior deu origem a uma investigação federal e a uma Comissão Parlamentar de Inquérito em 2003. O dinheiro, que estava bloqueado nos Estados Unidos, será depositado na conta do Tesouro e representa muito pouco dos US$ 20 bi desviados, mas já se abriu um precedente. Essa não é a primeira repatriação de recursos do caso do Banestado. Em novembro de 2007, US$ 1,6 milhão foram devolvidos aos cofres públicos. Pela legislação norte-americana, o país tem direito a um terço dos recursos que foram enviados ilegalmente. A recuperação dos recursos estava sendo negociada pelo Ministério da Justiça e pelo Department of Homeland Security (DHS), responsável pela segurança interna e que também atua para coibir a remessa de dinheiro ilegal para os Estados Unidos. De acordo com o procurador da República Vladimir Aras, que atuou em 2004 na força-tarefa montada pelo Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) do Paraná para investigar o esquema, os criminosos usavam dois mecanismos para a remessa: as contas CC5, aquelas em que o titular não é residente, e, por isso, pode converter os saldos em dólares, e o dólar cabo, que é a transferência virtual de recursos. "Durante a operação Zero Absoluto, pedimos o congelamento dos ativos e é parte desses valores que estamos recuperando", afirma Aras, explicando que, na época, o MPF pediu a repatriação de cerca de US$ 27 milhões. Lula quer que o combate à lavagem de dinheiro seja intensificado, daí suas preocupações com as resistências ao seu governo, pois mexerá com gente poderosa. Por isso, além da diplomacia do Itamaraty junto à comunidade internacional, determinou que serão prioridades em 2010:
- Ações contra a formação de milícias nos estados
- Investigação do uso de paraísos fiscais como destino de dinheiro ilícito
- Apuração de formação de quadrilhas nos sistemas prisionais
- Evitar a corrupção associada a serviços terceirizados
- Fiscalização para evitar irregularidades nas licitações referentes à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016
O problema, como há 40 anos, é a extrema facilidade na movimentação financeira pelos elementos envolvidos em casos como o das organizações terroristas internacionais quanto dos cleptocratas e corruptos de todos os matizes, que se beneficiam justamente da desregulamentação das movimentações financeiras em escala mundial, o que permite que suas operações ilegais sejam encobertas e não possam ser rastreadas. Isto vem ocorrendo principalmente depois da onda neoliberal intensificada a partir das décadas de 80 e 90. Em especial, no governo apátrida de FHC.
Como está, o Brasil exporta capitais
Segundo informações oficiais do próprio Banco Central, obtidas pelo “censo de capitais de brasileiros no exterior”, referente ao ano de 2004, oficialmente (OFICIALMENTE!!!), os brasileiros têm US$ 94,731 bilhões, equivalentes a 15,7% do Produto Interno Bruto (PIB), “investidos no exterior” (hoje é muito mais), dinheiro nem de longe citado pelos amestrados da “Veja”. Os dados ainda são preliminares, mas já se sabe que, em 2003, eram US$ 82,692 bilhões. No espaço de um ano, os ativos de brasileiros no exterior cresceram, portanto, 14,6%.
O dinheiro, com as mesmas origens obscuras do que foi levantado no escândalo que deu origem à falecida “CPI do Banestado”(e que a “Veja” fez de tudo para esquecer) está aplicado em locais livres de tributação, como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas e Bahamas. Do total de ativos oficiais de brasileiros no exterior, US$ 70,691 bilhões são de investimentos diretos, ou seja, estão aplicados em empresas. Há outros US$ 8,201 bilhões aplicados em papéis dos mais variados tipos, como títulos de longo prazo (como os títulos públicos) e bônus. Esses dados são informações oficiais captadas pelo “censo do Bacen”. Porém, apesar de reveladores, não demonstra o verdadeiro universo daquele dinheiro movimentado às escondidas, ou seja, não constam as remessas de lucros das transnacionais, os pagamentos de royalties, os recursos oriundos de operações criminosas, as manipulações contábeis dos grandes oligopólios exportadores (majoritariamente transnacionais), nem os recursos escoados para o exterior para o pagamento das dívidas interna e externa. Se calculados, estes demonstrariam uma dimensão ainda mais assustadora da verdadeira sangria que a economia nacional é submetida diariamente.
De como o nosso próprio dinheiro financia nossa dívida pública
Mas, deixemos estes últimos para uma análise posterior. Fiquemos, por enquanto, apenas nos mecanismos, no caminho tortuoso que o nosso dinheiro percorre antes de se transformar no tão almejado investimento direto “estrangeiro” ou nos “títulos” remunerados a juro extorsivos pelo povo brasileiro. Ou seja, veremos como o dinheiro de brasileiros, sonegado ao Estado brasileiro, financia nossa dívida pública (brasileira) simplesmente porque se mantém um descontrole cambial e uma política econômica que permitem que isso ocorra. O dinheiro roubado das mais diversas e “criativas” formas do Brasil é remetido aos paraísos fiscais offshore através de uma complexa rede de laranjas. O sistema de regulamentação permissivo relativo a estas “cabeças de ponte offshore da evasão fiscal” evoluiu para um ponto que permite a investidores americanos, brasileiros ou europeus - “democraticamente”, sem distinção de nacionalidade - livrarem-se de impostos e/ou lavarem dinheiro. Para isso, contratam um advogado para montar um escritório num lugar conveniente num paraíso fiscal e descobrir uma firma de contabilidade apta a efetuar os seus registros sem exigências — o que é suficientemente bom para a aceitação das autoridades fiscais nestes dias de operações desregulamentadas. São contratados escritórios de advogados e contabilistas nesses paraísos, especializados em camuflar a origem do dinheiro. O sistema institucional de “sigilo bancário” e a facilidade de movimentação financeira garantem a não-identificação das operações. Esta grana roubada de empresas nacionais e estatais (ou “apenas” sonegada), como agora se vê todos os dias na televisão, financia uma porção substancial tanto do déficit da balança de pagamentos do Brasil quanto dos EUA, quando os dinheiros localizados nos paraísos fiscais passam a comprar os bônus e os títulos dos tesouros desses países. Os recursos desviados pelos "reformadores" neoliberais e cleptocratas tupiniquins “transformam-se nos famosos capitais voláteis, que permitem beneficiar ladrões, traficantes e terroristas do mundo todo e, de lambuja, beneficiam as corporações transnacionais, que evadem impostos por toda a parte, incluindo os próprios Estados Unidos”. As transnacionais e as grandes empresas exportadoras também viram nos paraísos fiscais uma forma de ampliar as suas operações de remessas ilegais de lucro. Um exportador argentino, brasileiro ou russo (vinculados às transnacionais) vende a preço faturado ficticiamente baixo, pedindo ao comprador que deposite a diferença numa conta bancária offshore. É desnecessário dizer que o exportador argentino, o brasileiro ou o russo não declararão este haver, assim ele não aparece nas contas oficiais. Mas existe na realidade. É por isso que as dívidas relatadas do mundo excedem as poupanças locais por uma margem do que se vê nas contabilidades como "erros e omissões". As maiores firmas de contabilidade e de advocacia da América do Norte e da Europa obtêm uma proporção crescente dos seus rendimentos ministrando conselhos a companhias que procuram utilizar estas táticas. Os utilizadores primários são gestores de dinheiro e corporações importantes especializados em esconder os seus lucros (ou perdas, no caso da Enron e da Parmalat) da vigilância das autoridades nos seus próprios países. Nos anos 1990, a Enron, a Parmalat - e outros gigantes corporativos criminosos - foram capazes de organizar as maiores fraudes financeiras da história, utilizando finanças estruturadas envolvendo paraísos hot-money. É notável que os neoliberais de plantão, como os tucanos da globalização cleptocrática internacional, louvem este fenômeno ao invés de denunciá-lo. O resultado tem sido criar uma situação em que, se alguém tem de possuir terra, outros ativos tangíveis, ou títulos financeiros, o melhor caminho para evitar os impostos é registrá-los em nome de procuradores offshore. O passo seguinte destas entidades é emprestar este dinheiro de volta para si mesmos, cobrando suficientes juros para absorver o anterior rendimento. Operadores suficientemente grandes para montarem a sua própria companhia de seguros podem tratar como perdas o remanescente do seu rendimento como pagamentos de seguros fiscalmente dedutíveis à sua entidade offshore, criada apenas para este fim, juntamente com os habituais encargos. Operadores financeiramente refinados enviam o seu dinheiro offshore e, então, tomam-no emprestado de volta, pagando suficientes juros, seguros e taxas administrativas para si próprios, a fim de absorverem os seus rendimentos e torná-los assim livres de impostos. Estes pagamentos gastos consigo próprios aparecem no rendimento nacional e nas estatísticas fiscais como um custo de fazer negócios, ao passo que as estatísticas de balança de pagamentos mostram-nos como um fluxo internacional por "serviços" sob a rubrica de "invisíveis". Assim também as estatísticas tornam-se cada vez mais ficcionais. Figuras como aqueles que estavam sendo investigados na CPI do Banestado, ou as operações de Marcos Valério, de Azeredo ou de Arruda, juntamente com os traficantes, os cleptocratas de todos os matizes, os terroristas, os ladrões, os traficantes de armas, etc., são, ao mesmo tempo e contraditoriamente, os homens que roubam as riquezas do Brasil, lavam seus botins nos paraísos fiscais e nos emprestam para que paguemos depois as nossas dívidas interna e externa. Ou seja, a atração dos tais investimentos estrangeiros, que Lula vem sendo obrigado a manter pela política econômica de Meirelhes, e em nome do qual tanta privação nos é imposta, não passa de nosso próprio dinheiro. É brincadeira!!!
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A globalização como utopia dos criminosos e sonegadores em escala mundial: evitando bens tangíveis
Grande parte da dívida externa líquida dos EUA, assim como aquelas de países como a Argentina e Brasil, é possuída pelos centros de capital volátil. Isto já se tornou o significado de "globalização" na sua dimensão financeira. O mais importante fenômeno econômico do mundo que determina as taxas de câmbio hoje foi relegado para a economia "negra" não observável — não apenas o crime, mas o que está se tornando a massa dominante de riqueza corporativa e pessoal. É mais invisível hoje do que nunca, a fim de evitar as autoridades fiscais.
O mais impressionante disso é que a maior parte dos detentores de liquidez na sociedade de hoje são criminosos e sonegadores fiscais. Eles têm uma boa razão para evitar o imobiliário ou outras propriedades tangíveis. É demasiado visível para acusadores e autoridades fiscais. É por isso que as estatísticas de balança de pagamentos classificam os movimentos de capital como "invisíveis". Importante firmas de contabilidade e parceiros legais ocupam-se em inventar truques para evitar impostos e criar um "véu de intermediários" ("veil of tiers") para proporcionar um manto de invisibilidade para a riqueza acumulada por desfalcadores, evasores fiscais, traficantes de droga, traficantes de armas e agências de inteligência do governo norte-americano para utilização nas suas operações encobertas.
Portanto, a grande ironia, hoje, quando se fala, por exemplo, de terroristas como Osama Bin Laden e atentados como os que ocorreram em Londres, ou o tráfico nas favelas do Rio, é que eles existem e desempenham suas ações com extrema eficiência e ousadia justamente porque se beneficiam de um sistema financeiro mundial que lhes permitem ficar na sombra. Os EUA financeiramente vivem de um sistema pernicioso que, hoje, alimenta os terroristas que aflingem a sua própria sociedade. Ou seja, criaram o monstro.
Investimentos “estrangeiros”, em países como o Brasil e a Argentina, não são tão estrangeiros assim
No fim da década de 1980, administradores de dinheiro americanos estavam incorporando fundos mútuos offshore para penetrar ainda mais nos mercados globais de capitais. Os maiores investidores foram políticos bem informados do Terceiro Mundo que compraram o fundo sabendo que os seus bancos centrais pagariam as suas dívidas em dólar, apesar dos altos riscos. Enquanto estes oligarcas locais apareciam nas estatísticas dos seus países como "credores de dólares", ingênuos internos culpavam apenas os ianques, o FMI, o Banco Mundial e banqueiros britânicos por aplicarem austeridade financeira aos seus países para a garantia dos lucros dos especuladores. Ainda que a dívida em dólar da Argentina no princípio da década de 1990 fosse possuída principalmente por argentinos, a operarem do estrangeiro, a partir de centros bancários offshore. Os maiores beneficiários do serviço da dívida externa não foram nem europeus nem norte-americanos, mas os próprios capitalistas voláteis argentinos, não possuidores de títulos na América do Norte e nem na Europa. E o mesmo vem acontecendo com o Brasil.
Para a Argentina ou para o Brasil, um "estrangeiro" era provavelmente um corrupto local a operar de uma conta offshore invisível para o seu governo (o qual era constituído em grande parte por suas próprias famílias). Pode-se encontrar o mesmo fenômeno na Rússia de hoje, onde um "investidor estrangeiro" tende a ser um russo com uma conta offshore a operar a partir de Chipre, da Suíça ou do Lichtenstein, talvez em parceria com um americano ou outro estrangeiro para camuflagem política.
O crime é um dos setores chave para os quais não são feitas estimativas. Ainda que seja talvez o mais líquido, pois ditadores e cleptocratas, ladrões e traficantes de droga, receiam amarrarem-se aos seus ativos de forma visível. As mais novas adições à classe mundial dos rentistas, eles tornaram-se uma fonte de liquidez para as economias de hoje. E é atrás desse dinheiro que os últimos “governos” apátridas no Brasil vêm impondo apertos financeiros inomináveis aos que verdadeiramente produzem e pagam impostos no Brasil.
Conclusão óbvia: a política econômica atual é produto e produtora de corrupção
Mantidas as atuais políticas de submissão dos países "dependentes", manter-se-á esta relação simbiótica onde países como o Brasil tornam-se, ao contrário do que se imagina, verdadeiros exportadores de capital, subsidiando as irresponsabilidades macroeconômicas dos EUA. No mundo real, para que o dinheiro tenha valor efetivo, teoricamente, precisa-se de riquezas energéticas aliadas a trabalho e tecnologia. Apenas em decorrência da fantasia do valor-dólar, os nossos compromissos e nossas políticas econômicas, desconsiderando as nossas vantagens comparativas óbvias em termos energéticos, são direcionadas para se garantir fluxo de capital para o cassino internacional.
Os EUA estão atuando como o "consumidor de última instância", ou seja, estão obtendo um empréstimo maciço e sem juro do resto do mundo sem o compromisso de honrar estes empréstimos. Há uma total inversão da realidade. É pura ideologia. Na verdade, o que acontece é que os países periféricos - que possuem (mas não controlam totalmente) garantias energéticas reais para o padrão-dólar, inclusive e principalmente o petróleo -, estão "importando" as dificuldades da economia americana, estão assumindo problemas não da periferia, mas dos centros financeiros, pois não possuem soberania sobre as decisões macroeconômicas. Por isso, os americanos suportam um situação insólita em que a sua dívida externa assume cifra gigantesca: US$ 3 trilhões.
Essa vulnerabilidade provém dos déficits na conta corrente com o exterior, da ordem de US$ 500 bilhões por ano. Trata-se, como ensina Adriano Benayon, "de dependência análoga à do Brasil e à da Argentina em passado recente, pois quanto mais o balanço de pagamentos se equilibra por meio de investimentos diretos estrangeiros, mais crescem os fatores do desequilíbrio". Porém, não são eles que são obrigados a pagar a conta. Em decorrência das ridículas medidas de submissão de países como o nosso na Era Tucanóide, com uma elite covarde e apátrida, com discursos sobre Banco Central independente, superávit fiscal, Lei de “Responsabilidade” Fiscal e coisas do gênero, somos nós, detentores de riquezas efetivas, que pagamos o descontrole financeiro ianque.
O ingresso de capitais estrangeiros nos EUA subiu de US$ 142 bilhões em 1990 para US$ 466 bilhões em 1996. Em 2000 atingiu 1,24 trilhão, em grande parte decorrentes da festa exploratória das transnacionais sediadas nos países periféricos e das remessas encobertas de lucros. Mas os norte-americanos, diferentes de outros países como o Brasil, não são obrigados a manter suas contas controladas pelo FMI e, a continuar o atual não-sistema financeiro mundial, jamais serão obrigados a resgatar estas dividas. E, de lambuja, ainda alimentam todas as formas desenvolvidas de criminalidade e terrorismo.
Lula, já no primeiro mandato, foi eleito com aproximadamente 80% de aprovação, não podemos nos esquecer disso, pois devemos contar não apenas os cinqüenta e poucos por cento dados a ele, mas todos os votos que não foram para o tucanóide enxacoco Serra. Foram 80% de repúdio ao modelo atual. Por isso, Lula não deveria ter o direito de errar, não poderia desperdiçar a oportunidade ímpar de remover o modelo dependente pela raiz. Ele foi eleito para isso, não para aprofundar o que o povo quis varrido do País. Embora a mídia adestrada e comprada tenha tentado mostrar a saída de FHC como honrosa e até vitoriosa, não há como negar que o tucano foi rechaçado pelos brasileiros, abominado, menosprezado, derrotado. O seu desgoverno apátrida e canalha foi tão ruim, tão repudiado pelo povo, que fez até o milagre de antipetistas históricos votarem no Lula. Com as dificuldades em se desconstruir a herança maldita de FHC, Lula fez o que foi factível fazer. Caberá agora a Dilma a limpeza total. É isso.
Said Barbosa Dib é analista político e professor de História em BsB, escreve semanalmente para o blog da Dilma
E.mail: saidib@ig.com.br
Obs.: O professor Michel Hudson, cujo trabalho é a base deste artigo, é economista financeiro independente e atua na Wall Street. Depois de trabalhar como economista especializado em balança de pagamentos para o Chase Manhattan Bank e para a Arthur Anderson na década de 1960, lecionou finanças internacionais na New School em Nova York. Atualmente é Distinguished Professor of Economics na Universidade do Missouri (Kansas City). Ou seja, conhece bem as sujeiras todas por dentro. Publicou numerosos trabalhos acerca da dominância financeira dos EUA. Também foi conselheiro econômico dos governos canadense, mexicano, russo e norte-americano. Seus livros incluem Trade, Development, and Foreign Debt (Pluto, 1992, 2 vols.). É autor do livro Super Imperialism — The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance (Pluto Press, 2003, 425 p., ISBN 0-7453-1989-0). O seu site está em
http://michael-hudson.com/indexbody.html
domingo, 29 de novembro de 2009
Marco Piva: Sobre todos os filhos do Brasil
Copiado do Ví o Mundo de Luiz Carlos Azenha
Os filhos do Brasil e o FDP
Marco Piva
É difícil acreditar que afirmações insidiosas ganhem tanto destaque nas páginas de um dos maiores diários do país e tudo fique como sempre esteve. Troca de acusações, exageros verbais e fofocas são ingredientes naturais da política em qualquer parte do mundo - menos nas ditaduras, onde as piadas sobre os governantes não costumam terminar em sorrisos. Nas democracias, jovens ou velhas, a liberdade de expressão é um valor inerente ao indivíduo e à sociedade. Inclusive, se paga caro quando, em nome dela, se cometem injustiças. Mas, o que fazer quando, por motivos inconfessáveis, alguém se dispõe, do nada, a usar uma aparente proximidade com certos personagens para lhes assacar ilações comprometedoras da honra, sejam elas autoridades ou não?
Este é o caso de Cesar Benjamin, colunista da Folha, em primeiro lugar, e, em segundo, ex-fundador do PT. Esta ordem é importante porque nossa vida é a soma de experiências passadas aplicadas no presente. É assim que vislumbramos ou sonhamos com o futuro. Ao receber, generosamente, uma página inteira do primeiro caderno para suspeitar da conduta moral do presidente da República, Benjamin faz um jogo deselegante e que, de tão pífio, o ridiculariza. Como a afirmação que faz não passa de uma tolice ainda juvenil que não resiste à menor checagem com os personagens envolvidos no episódio (os companheiros detidos à época e os acompanhantes do almoço), o papel a que ele se presta revela bem a natureza de seu caráter perturbado (não é fácil ser preso aos 17 anos e ficar confinado por outros sete). Mas, além disso, expõe claramente qual é o nível de jornalismo ao qual estamos submetidos no Brasil. Um jornalismo aliado das fofocas pequenas em nome de uma moralidade sabidamente impossível, cujo objetivo é a desconstrução da política como ferramenta de realização nacional.
A operação está clara. O jornal não pode assumir a acusação e “terceiriza” sua responsabilidade. O que vier depois disso é lucro porque, se alguém tiver que ir à Justiça para responder pelo que escreveu, este alguém será o articulista, e não o veículo. Enquanto isso, a “versão pega e se expande”. É muito óbvio o mecanismo. E com a extinção da Lei de Imprensa, tão festejada pelos donos da mídia, não é difícil imaginar por quanto tempo e qual resultado se alcançará em uma ação por danos morais em função desse tipo de artigo.
Desde que boa parte da imprensa comercial decidiu voltar um século atrás em sua maneira de fazer jornalismo e se transformar em partido político, a sociedade brasileira fica, a cada edição, mais pobre de informação. A liberdade de expressão deixa de ser um valor para cada um e para todos para ser usada em uma cruzada moralista que busca atingir apenas aos adversários. Não fosse assim e o filho ilegítimo de FHC não teria sido ocultado e negado por 18 anos.
É a velha máxima: aos amigos, o acolhimento; aos inimigos, a lei. Mas, de qual lei falamos? Exatamente da lei da dissimulação que tudo permite em nome da liberdade. Este cinismo moderno sufoca o verdadeiro debate porque impõe uma agenda que não combina com as aspirações individuais e coletivas por uma democracia que seja respeitada, ampliada e consolidada.
O que faz Cesar Benjamin com seu artigo senão tentar chamar os holofotes para si em nome da liberdade que tem, como colunista do jornal, e assim escrever o que bem entende? Esta técnica não é nova e, atualmente, temos vários exemplos semelhantes em outros jornais e revistas. O que espanta é a naturalidade com que é feita a afirmação de que o presidente Lula teria tentado molestar sexualmente um “menino do MEP” em seu período de cárcere, entre 19 de abril e 20 de maio de 1980.
À incredulidade de imaginar que alguém possa escrever isso impunemente se soma a dúvida do que efetivamente pode estar por trás dessa informação. “Mania de perseguição”, dirão alguns. “Lá vem a tese da conspiração”, dirão outros. Pode ser. Mas, quando se vive com um jornalismo de esgoto, tudo é possível. Sinceramente, Benjamin por Benjamin, prefiro o Walter. Este, que assina o artigo em espaço generoso na Folha, é apenas subproduto de um rancor mal analisado por ele mesmo. A única coisa que ele acerta é a diferença entre que são os filhos do Brasil e quem é o filho da puta.
Marco Piva, jornalista, assessorou o presidente Lula e o PT, mas nem por isso se sente à vontade para usar dessa condição com o objetivo de dar ares de veracidade a eventuais bobagens que venha a escrever sobre ambos.
Os filhos do Brasil e o FDP
Marco Piva
É difícil acreditar que afirmações insidiosas ganhem tanto destaque nas páginas de um dos maiores diários do país e tudo fique como sempre esteve. Troca de acusações, exageros verbais e fofocas são ingredientes naturais da política em qualquer parte do mundo - menos nas ditaduras, onde as piadas sobre os governantes não costumam terminar em sorrisos. Nas democracias, jovens ou velhas, a liberdade de expressão é um valor inerente ao indivíduo e à sociedade. Inclusive, se paga caro quando, em nome dela, se cometem injustiças. Mas, o que fazer quando, por motivos inconfessáveis, alguém se dispõe, do nada, a usar uma aparente proximidade com certos personagens para lhes assacar ilações comprometedoras da honra, sejam elas autoridades ou não?
Este é o caso de Cesar Benjamin, colunista da Folha, em primeiro lugar, e, em segundo, ex-fundador do PT. Esta ordem é importante porque nossa vida é a soma de experiências passadas aplicadas no presente. É assim que vislumbramos ou sonhamos com o futuro. Ao receber, generosamente, uma página inteira do primeiro caderno para suspeitar da conduta moral do presidente da República, Benjamin faz um jogo deselegante e que, de tão pífio, o ridiculariza. Como a afirmação que faz não passa de uma tolice ainda juvenil que não resiste à menor checagem com os personagens envolvidos no episódio (os companheiros detidos à época e os acompanhantes do almoço), o papel a que ele se presta revela bem a natureza de seu caráter perturbado (não é fácil ser preso aos 17 anos e ficar confinado por outros sete). Mas, além disso, expõe claramente qual é o nível de jornalismo ao qual estamos submetidos no Brasil. Um jornalismo aliado das fofocas pequenas em nome de uma moralidade sabidamente impossível, cujo objetivo é a desconstrução da política como ferramenta de realização nacional.
A operação está clara. O jornal não pode assumir a acusação e “terceiriza” sua responsabilidade. O que vier depois disso é lucro porque, se alguém tiver que ir à Justiça para responder pelo que escreveu, este alguém será o articulista, e não o veículo. Enquanto isso, a “versão pega e se expande”. É muito óbvio o mecanismo. E com a extinção da Lei de Imprensa, tão festejada pelos donos da mídia, não é difícil imaginar por quanto tempo e qual resultado se alcançará em uma ação por danos morais em função desse tipo de artigo.
Desde que boa parte da imprensa comercial decidiu voltar um século atrás em sua maneira de fazer jornalismo e se transformar em partido político, a sociedade brasileira fica, a cada edição, mais pobre de informação. A liberdade de expressão deixa de ser um valor para cada um e para todos para ser usada em uma cruzada moralista que busca atingir apenas aos adversários. Não fosse assim e o filho ilegítimo de FHC não teria sido ocultado e negado por 18 anos.
É a velha máxima: aos amigos, o acolhimento; aos inimigos, a lei. Mas, de qual lei falamos? Exatamente da lei da dissimulação que tudo permite em nome da liberdade. Este cinismo moderno sufoca o verdadeiro debate porque impõe uma agenda que não combina com as aspirações individuais e coletivas por uma democracia que seja respeitada, ampliada e consolidada.
O que faz Cesar Benjamin com seu artigo senão tentar chamar os holofotes para si em nome da liberdade que tem, como colunista do jornal, e assim escrever o que bem entende? Esta técnica não é nova e, atualmente, temos vários exemplos semelhantes em outros jornais e revistas. O que espanta é a naturalidade com que é feita a afirmação de que o presidente Lula teria tentado molestar sexualmente um “menino do MEP” em seu período de cárcere, entre 19 de abril e 20 de maio de 1980.
À incredulidade de imaginar que alguém possa escrever isso impunemente se soma a dúvida do que efetivamente pode estar por trás dessa informação. “Mania de perseguição”, dirão alguns. “Lá vem a tese da conspiração”, dirão outros. Pode ser. Mas, quando se vive com um jornalismo de esgoto, tudo é possível. Sinceramente, Benjamin por Benjamin, prefiro o Walter. Este, que assina o artigo em espaço generoso na Folha, é apenas subproduto de um rancor mal analisado por ele mesmo. A única coisa que ele acerta é a diferença entre que são os filhos do Brasil e quem é o filho da puta.
Marco Piva, jornalista, assessorou o presidente Lula e o PT, mas nem por isso se sente à vontade para usar dessa condição com o objetivo de dar ares de veracidade a eventuais bobagens que venha a escrever sobre ambos.
Mauro Carrara: O Benjamin e outros bichos
Copiado do Vi o Mundo de Luiz Carlos Azenha
O folheiro, Benjamin, Dreyfus e a Cadeia
Mauro Carrara
Muita gente inocente dormiu na cadeia. Uma dela foi o capitão Alfred Dreyfus.
Em 1894, o jovem oficial da artilharia francesa foi condenado à prisão perpétua. O motivo: a suposta revelação de segredos militares aos alemães.
Dreyfus era inocente. Dois anos depois, comprovou-se que o culpado era Ferdinand Esterhazy, um major do exército francês.
Mas Dreyfus continuou detido. Foi acusado novamente, com base em falsos documentos produzidos por um oficial da contra-inteligência, Hubert-Joseph Henry.
A campanha de calúnia tinha como um de seus principais líderes um jornalista, Edouard Drumont, publisher do La Libre Parole, uma publicação claramente identificada com o anti-semitismo.
Dreyfus contou, sobretudo, com a defesa apaixonada de Émile Zola, cujo artigo "J'accuse", no L'Aurore, foi fundamental para colocar às claras a farsa oficial reacionária.
Em 1906, depois de longa luta, Dreyfus foi reabilitado. Jamais foi indenizado pelos anos na cadeia.
Muitos criminosos, entretanto, jamais passaram perto do cárcere.
É o caso, por exemplo, do proprietário de jornal que, em São Paulo, colaborava com os torturadores e assassinos empregados pelo Regime Militar.
Esse elemento nunca dormiu num banco de concreto atrás das grades, nunca comeu feijão estragado, tampouco tomou sofreu em sessões de eletrochoque.
Impune, pôde educar seu herdeiro para a iniquidade.
Criou um lagarto de rasteiro caráter, invejoso e fraco, capaz de valer-se da calúnia e da difamação para atingir seus objetivos.
Esse dublê de jornalista, falso intelectual, despreza a lei e escarra nos mais básicos códigos de civilidade.
A acusação a Lula no episódio "estupro" agrega mais uma nódoa à ficha do empresário canalha da desinformação. O interesse? Derrubar a candidatura daquela que rotularam de terrorista.
A imprensa paulistana poderia citar oito verdades, ou não, por elegância:
- que o tal Benjamin não merece a confiança dos próprios parentes, tido como vil, traiçoeiro e dado a mentir por capricho;
- que o próprio publisher golpista assediava jovens rapagões no ambiente profissional;
- que a companheira ocasional do tal o ridicularizava entre as mesas da redação, apontando nele a psicopatia violenta e a ausência da virilidade;
- que a malta reacionária de "Óia" pratica todo tipo de perversão, a exemplo do capo que se diverte excentricamente nos hotéis engordurados do Centro paulista, e que carrega o trauma de um largo pepino resistente;
- que o augustíssimo articulista de "Óia", tão interessado no elogio a Benjamin, imita a Arno e aspira o pó nos banheiros das redações que dirige;
- que o major tucano carateca do golpe é o mesmo que aprecia "carnes novas" e livrou seu comparsa amazonense da CPI da Exploração do Menor;
- que um ex-presidente da República esconde seus rebentos por aí, em esquemas pagos pelos barões da mídia monopolista;
- que o tal repórter do niuiorquitaimes brincava lascivamente com jovens índias na Amazônia.
O fim de novembro poderia brindar o país com celas frias para quem realmente merece.
Uma sombria para o Edouard Drumont da Barão de Limeira, por exemplo.
Outra imperial ao canalha ressentido e desqualificado. Pois se dá a Cesar o que é de Cesar.
Mas o que esperar da suprema justiça? Lá no alto, pois, vale mais o mimo dantesco.
E o honesto Dreyfus, aqui, continuaria detido pelo resto da vida.
O folheiro, Benjamin, Dreyfus e a Cadeia
Mauro Carrara
Muita gente inocente dormiu na cadeia. Uma dela foi o capitão Alfred Dreyfus.
Em 1894, o jovem oficial da artilharia francesa foi condenado à prisão perpétua. O motivo: a suposta revelação de segredos militares aos alemães.
Dreyfus era inocente. Dois anos depois, comprovou-se que o culpado era Ferdinand Esterhazy, um major do exército francês.
Mas Dreyfus continuou detido. Foi acusado novamente, com base em falsos documentos produzidos por um oficial da contra-inteligência, Hubert-Joseph Henry.
A campanha de calúnia tinha como um de seus principais líderes um jornalista, Edouard Drumont, publisher do La Libre Parole, uma publicação claramente identificada com o anti-semitismo.
Dreyfus contou, sobretudo, com a defesa apaixonada de Émile Zola, cujo artigo "J'accuse", no L'Aurore, foi fundamental para colocar às claras a farsa oficial reacionária.
Em 1906, depois de longa luta, Dreyfus foi reabilitado. Jamais foi indenizado pelos anos na cadeia.
Muitos criminosos, entretanto, jamais passaram perto do cárcere.
É o caso, por exemplo, do proprietário de jornal que, em São Paulo, colaborava com os torturadores e assassinos empregados pelo Regime Militar.
Esse elemento nunca dormiu num banco de concreto atrás das grades, nunca comeu feijão estragado, tampouco tomou sofreu em sessões de eletrochoque.
Impune, pôde educar seu herdeiro para a iniquidade.
Criou um lagarto de rasteiro caráter, invejoso e fraco, capaz de valer-se da calúnia e da difamação para atingir seus objetivos.
Esse dublê de jornalista, falso intelectual, despreza a lei e escarra nos mais básicos códigos de civilidade.
A acusação a Lula no episódio "estupro" agrega mais uma nódoa à ficha do empresário canalha da desinformação. O interesse? Derrubar a candidatura daquela que rotularam de terrorista.
A imprensa paulistana poderia citar oito verdades, ou não, por elegância:
- que o tal Benjamin não merece a confiança dos próprios parentes, tido como vil, traiçoeiro e dado a mentir por capricho;
- que o próprio publisher golpista assediava jovens rapagões no ambiente profissional;
- que a companheira ocasional do tal o ridicularizava entre as mesas da redação, apontando nele a psicopatia violenta e a ausência da virilidade;
- que a malta reacionária de "Óia" pratica todo tipo de perversão, a exemplo do capo que se diverte excentricamente nos hotéis engordurados do Centro paulista, e que carrega o trauma de um largo pepino resistente;
- que o augustíssimo articulista de "Óia", tão interessado no elogio a Benjamin, imita a Arno e aspira o pó nos banheiros das redações que dirige;
- que o major tucano carateca do golpe é o mesmo que aprecia "carnes novas" e livrou seu comparsa amazonense da CPI da Exploração do Menor;
- que um ex-presidente da República esconde seus rebentos por aí, em esquemas pagos pelos barões da mídia monopolista;
- que o tal repórter do niuiorquitaimes brincava lascivamente com jovens índias na Amazônia.
O fim de novembro poderia brindar o país com celas frias para quem realmente merece.
Uma sombria para o Edouard Drumont da Barão de Limeira, por exemplo.
Outra imperial ao canalha ressentido e desqualificado. Pois se dá a Cesar o que é de Cesar.
Mas o que esperar da suprema justiça? Lá no alto, pois, vale mais o mimo dantesco.
E o honesto Dreyfus, aqui, continuaria detido pelo resto da vida.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Candido Mendes: Caetano perdido no Brasil de Lula
Copiado do Vi o Mundo de Luiz Carlos Azenha
Candido Mendes -- Jornal do Brasil - 25/11/2009
Até onde convive com a democracia o excesso da popularidade presidencial? O exemplo de Lula ao reforçar o seu ineditismo é o de que só avança na aprovação política o presidente que renunciou a toda a veleidade de um terceiro mandato, e chega a esses dados únicos de aprovação em fins de seu segundo governo.
Não há que repetir como os países lá fora, a partir do próprio Obama, mostrem o nosso capital de respeito internacional. É o roldão que acossa o status quo nacional, enraizado na oposição proverbial que parece, de vez, perder o pé entre nós. Ou fecha-se a todos os “olhos de ver” e explode em despautérios melancólicos, como vem de fazer o atarantado Caetano Veloso, chamando Lula de analfabeto e cafajeste.
É frase de quem fala de seu quintal bem instalado, e insulta o presidente que mudou a escala da prosperidade brasileira. Trouxe a população de uma Colômbia para a nossa economia de mercado e se vê reconhecido por todos os grupos e segmentos da nova mobilidade nacional. A grosseria nada tem a ver com sentimentos de classe média, que hoje já responde por 56% da nossa população.
O novo e inédito comando de Lula não é o de um carisma clássico, em que uma coletividade delega a um fuehrer, ou a um chefe da hora, o exercício ou forra de sua expectativa coletiva. O “Lula lá” é a do povo todo que chegou ao Planalto, e que hoje na sua solidariedade independe de partido, de poderes corporativos sindicais e desarma todos os cálculos de um ganha e perde do rondó político tucano.
A palavra diária do presidente, que não ensina, nem prega, mas tem o dom da consonância com o que o povo quer ouvir, não como consolo, mas o passo a passo – e o PAC o assegura – deste Brasil que se sabe no poder, e o frui. Há, sim, um tom de repente no que ouvimos todo dia, mas é também o de uma reflexão em marcha, que criou este coloquial único de entendimento que nada tem mais a ver com a fala “bem” do país dos hierarcas. O novo é muitas vezes o óbvio, sim. Mas esse que se reautentica tão só por quem pode dizê-lo.
O país que vai às urnas em 2010 tem na sua cabeça novas e legítimas razões de apoio ao governo que descartou por inteiro o que diga o palanque das oposições vociferando contra os ditos analfabetos e cafajestes. O nouveau richismo verbal de Caetano só mostra como se perdeu no Brasil de Lula, este que sabe para onde não quer voltar, e de como vai adiante, nas certezas do país da mudança e não do vedetismo deslumbrado.
Candido Mendes é presidente do senior board do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz.
Candido Mendes -- Jornal do Brasil - 25/11/2009
Até onde convive com a democracia o excesso da popularidade presidencial? O exemplo de Lula ao reforçar o seu ineditismo é o de que só avança na aprovação política o presidente que renunciou a toda a veleidade de um terceiro mandato, e chega a esses dados únicos de aprovação em fins de seu segundo governo.
Não há que repetir como os países lá fora, a partir do próprio Obama, mostrem o nosso capital de respeito internacional. É o roldão que acossa o status quo nacional, enraizado na oposição proverbial que parece, de vez, perder o pé entre nós. Ou fecha-se a todos os “olhos de ver” e explode em despautérios melancólicos, como vem de fazer o atarantado Caetano Veloso, chamando Lula de analfabeto e cafajeste.
É frase de quem fala de seu quintal bem instalado, e insulta o presidente que mudou a escala da prosperidade brasileira. Trouxe a população de uma Colômbia para a nossa economia de mercado e se vê reconhecido por todos os grupos e segmentos da nova mobilidade nacional. A grosseria nada tem a ver com sentimentos de classe média, que hoje já responde por 56% da nossa população.
O novo e inédito comando de Lula não é o de um carisma clássico, em que uma coletividade delega a um fuehrer, ou a um chefe da hora, o exercício ou forra de sua expectativa coletiva. O “Lula lá” é a do povo todo que chegou ao Planalto, e que hoje na sua solidariedade independe de partido, de poderes corporativos sindicais e desarma todos os cálculos de um ganha e perde do rondó político tucano.
A palavra diária do presidente, que não ensina, nem prega, mas tem o dom da consonância com o que o povo quer ouvir, não como consolo, mas o passo a passo – e o PAC o assegura – deste Brasil que se sabe no poder, e o frui. Há, sim, um tom de repente no que ouvimos todo dia, mas é também o de uma reflexão em marcha, que criou este coloquial único de entendimento que nada tem mais a ver com a fala “bem” do país dos hierarcas. O novo é muitas vezes o óbvio, sim. Mas esse que se reautentica tão só por quem pode dizê-lo.
O país que vai às urnas em 2010 tem na sua cabeça novas e legítimas razões de apoio ao governo que descartou por inteiro o que diga o palanque das oposições vociferando contra os ditos analfabetos e cafajestes. O nouveau richismo verbal de Caetano só mostra como se perdeu no Brasil de Lula, este que sabe para onde não quer voltar, e de como vai adiante, nas certezas do país da mudança e não do vedetismo deslumbrado.
Candido Mendes é presidente do senior board do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Plano Nacional de Internet de Banda Larga pode ser fechado dentro de três semanas
Carolina Pimentel Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a se reunir dentro de três semanas com ministros e assessores para tentar fechar o Plano Nacional de Banda Larga, que tem como objetivo ampliar o acesso da população de baixa renda aos serviços de internet em alta velocidade.
A secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e o coordenador de Inclusão Digital da Presidência da República, Cezar Alvarez, apresentaram hoje (24) a primeira versão do plano ao presidente. Mas, conforme assessores, Lula pediu aperfeiçoamento de alguns pontos.
Uma ideia que tem ganhado força no governo é que a Telebrás fique com a administração do projeto. Entre os pontos em aberto estão a fonte de recursos, ou seja, quanto será necessário para colocar o plano em prática e de onde virá, e como será feito o acesso, por meio de rede estatal ou privada. Um hipótese em estudo é a desoneração fiscal para aparelhos com o intuito de facilitar a expansão da rede.
O plano prevê metas para 2010, 2012 e 2014, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo. De acordo com dados divulgados pelo Ministério das Comunicações, a proposta é aumentar para 30 milhões o número de acessos nas áreas rurais e urbanas em cinco anos. Um levantamento feito pela pasta mostra que em dezembro de 2008 a banda larga fixa atingia 9,6 milhões de pessoas.
A previsão é de que o plano seja instituído por meio de decreto presidencial. Medidas complementares ao projeto devem usar outro mecanismo da legislação.
Participaram da reunião de hoje com o presidente Lula os ministros Hélio Costa, das Comunicações, Paulo Bernardo, do Planejamento, Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, Guido Mantega, da Fazenda, Fernando Haddad, da Educação, e Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia, além de representantes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da Advocacia-Geral da União (AGU).
Edição: Nádia Franco
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a se reunir dentro de três semanas com ministros e assessores para tentar fechar o Plano Nacional de Banda Larga, que tem como objetivo ampliar o acesso da população de baixa renda aos serviços de internet em alta velocidade.
A secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e o coordenador de Inclusão Digital da Presidência da República, Cezar Alvarez, apresentaram hoje (24) a primeira versão do plano ao presidente. Mas, conforme assessores, Lula pediu aperfeiçoamento de alguns pontos.
Uma ideia que tem ganhado força no governo é que a Telebrás fique com a administração do projeto. Entre os pontos em aberto estão a fonte de recursos, ou seja, quanto será necessário para colocar o plano em prática e de onde virá, e como será feito o acesso, por meio de rede estatal ou privada. Um hipótese em estudo é a desoneração fiscal para aparelhos com o intuito de facilitar a expansão da rede.
O plano prevê metas para 2010, 2012 e 2014, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo. De acordo com dados divulgados pelo Ministério das Comunicações, a proposta é aumentar para 30 milhões o número de acessos nas áreas rurais e urbanas em cinco anos. Um levantamento feito pela pasta mostra que em dezembro de 2008 a banda larga fixa atingia 9,6 milhões de pessoas.
A previsão é de que o plano seja instituído por meio de decreto presidencial. Medidas complementares ao projeto devem usar outro mecanismo da legislação.
Participaram da reunião de hoje com o presidente Lula os ministros Hélio Costa, das Comunicações, Paulo Bernardo, do Planejamento, Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, Guido Mantega, da Fazenda, Fernando Haddad, da Educação, e Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia, além de representantes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da Advocacia-Geral da União (AGU).
Edição: Nádia Franco
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
O crepúsculo do Pavão
"Adeus, FHC". Copiado do blog Brasília Eu Vi, de Leandro Fortes:
Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.
Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.
Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.
Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.
Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:
Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.
FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!
A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.
Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.
Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.
A meu ver, um pouco tarde demais.
Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.
Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.
Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.
Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.
Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.
Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:
Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.
FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!
A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.
Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.
Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.
A meu ver, um pouco tarde demais.
sábado, 21 de novembro de 2009
A sociologia do pânico
Copiado da Carta Maior
DEBATE ABERTO
A sociologia do pânico substituiu os economistas do desastre que alimentaram na mídia liberal conservadora o diagnóstico de que o governo Lula iria jogar o país numa crise sem precedentes. Como a economia vai bem, a oposição se voltou para o sistema político, com foco no executivo, alvo de seus prognósticos catastróficos.
Liszt Vieira e Aloysio Carvalho
Com a aproximação do fim do mandato de Lula e o acirramento das disputas em torno do poder político, surgiu uma nova abordagem no meio acadêmico, mais especificamente no campo sociológico. Seu objeto são as eleições de 2010, e sua metodologia a difusão do pânico. A sociologia do pânico substituiu os economistas do desastre que alimentaram na mídia liberal conservadora o diagnóstico de que o governo Lula iria jogar o país numa crise sem precedentes.
Ocorre que o capitalismo brasileiro, como reconhecem praticamente todos os economistas, tornou-se sólido, com um setor industrial desenvolvido, um mercado interno em expansão, um forte agronegócio, e um sistema financeiro organizado, que atravessou sem maiores problemas a crise mundial de 2008.
Como a economia vai bem, a oposição se voltou para o sistema político, com foco no executivo, alvo de seus prognósticos catastróficos. Em texto amplamente divulgado pela imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sustenta que “o DNA do autoritarismo popular vai minando o espírito da democracia constitucional” e acrescenta que “vamos regressando a formas políticas do autoritarismo militar”.
O presidente Lula deteria “um poder sem limites”, de caráter burocrático-corporativo. Como a vitória de Dilma possibilitará a emergência do subperonismo no Brasil encarnado na figura de Lula, é preciso dar um basta no continuísmo antes que se consolide o atraso representado na aliança entre Estado, sindicatos, movimentos sociais, fundos de pensão e grandes empresas, cada vez mais fundidos nos altos fornos do tesouro.
Na mesma linha de raciocínio encontra-se o texto do sociólogo Werneck Vianna apropriado por um colunista de O Globo. O governo Lula faz uma volta ao passado com a revalorização do Estado Novo e dos governos militares, cujas doutrinas remontam a Oliveira Vianna e Alberto Torres. Os mortos continuam comandando os vivos e o espírito da Ibéria cobra o seu preço diante de um mercado que não consegue se auto-regular. Como decorrência, a democracia brasileira perde seus fundamentos quando a “sociedade em sua diversidade se deixa submeter ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade de seus contrários”.
Pouco depois, o historiador Carlos Guilherme Mota, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, critica Lula e diz que seu governo é pior do que subperonismo, porque "o peronismo politizava e o pobrismo do Brasil avilta"...
O que há de comum nessas interpretações? Mais do que a preocupação liberal com o equilíbrio de poder entre as instituições, o que está em jogo é o poder político e os recursos disponibilizados pelo Estado. Afinal, como até há pouco tempo prevalecia a tese de “primeiro crescer para depois repartir”, a melhora da qualidade de vida da população não acompanhou o crescimento econômico do país.
Nesse ponto vale resgatar o pensamento de Florestan Fernandes, cuja obra tornou-se clássica na sociologia brasileira. O mestre Florestan continua atual e foi claro no livro “A Revolução Burguesa no Brasil”. A burguesia no Brasil detêm um forte poder econômico, social e político, de base e de alcance nacionais. Sempre atua e reage preventivamente quanto às mudanças mais profundas que devem ser realizadas para expandir a democracia no Brasil.
Uma dessas mudanças é, sem dúvida, a redução da desigualdade social. Basta uma rápida comparação na distribuição da renda nos governos FH e Lula. São inversamente proporcionais. No governo FH, a renda caiu vertiginosamente; no governo Lula, subiu de forma expressiva. No que se refere ao desemprego, o fenômeno foi exatamente o inverso, conforme mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2008/IBGE.
O governo Lula ampliou o mercado interno trazendo para a esfera do consumo as classes C e D que passaram a constituir demanda para a pequena e média empresa em todo o país. Isso contribuiu para o crescimento econômico, assegurado sem inflação, com aumento real de poder aquisitivo para as camadas de baixa renda.
Os estímulos concedidos pelo governo levaram a uma rápida superação da crise econômica. Isso explica porque o objetivo de alguns sociólogos da oposição é semear o pânico no campo político, já que no econômico o governo Lula teve excelente desempenho, ao contrário do que previam os economistas liberais sempre presentes na mídia.
Mas, também no campo político, esses sociólogos vão malhar em ferro frio. O governo Lula é talvez o mais democrático da história política brasileira. Além disso, fortaleceu o Brasil no cenário internacional em função dos interesses brasileiros e latinoamericanos, rompendo com a dependência tradicional em relação aos interesses norteamericanos.
As elites estão divididas. Alguns segmentos estão satisfeitos com a situação econômica. Outros, mais ligados ao poder político, estão desesperados e tentam manipular a opinião pública por meio da mídia.
Lula está sendo criticado mais pelas suas virtudes do que pelos seus defeitos. É curioso observar que esses críticos não abordaram a questão da ética, nem atacaram, por exemplo, o lado mais vulnerável do governo que é a questão ambiental.
O governo brasileiro reluta em levar metas definidas à conferência da ONU sobre clima, em Copenhague. O Brasil pode, mais uma vez, perder a chance de assumir liderança mundial na questão climática que se torna hoje uma prioridade global.
Mas a sociologia do pânico nem tocou nesse assunto, influenciada certamente pela visão produtivista que predomina no mercado. É pena, porque dentro de vinte ou trinta anos os governos vão ser julgados menos pelas obras e mais pelo que fizeram para combater o aquecimento global e evitar as mudanças climáticas que ameaçam a humanidade.
Essas questões, porém, passam longe das preocupações da sociologia do pânico, interessada apenas no poder político em jogo nas eleições presidenciais de 2010.
Liszt Vieira é Sociólogo, Professor da PUC, Presidente do Jardim Botânico do Rio.
Aloysio Castelo de Carvalho é Professor da Faculdade de Economia da UFF e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFF.
DEBATE ABERTO
A sociologia do pânico substituiu os economistas do desastre que alimentaram na mídia liberal conservadora o diagnóstico de que o governo Lula iria jogar o país numa crise sem precedentes. Como a economia vai bem, a oposição se voltou para o sistema político, com foco no executivo, alvo de seus prognósticos catastróficos.
Liszt Vieira e Aloysio Carvalho
Com a aproximação do fim do mandato de Lula e o acirramento das disputas em torno do poder político, surgiu uma nova abordagem no meio acadêmico, mais especificamente no campo sociológico. Seu objeto são as eleições de 2010, e sua metodologia a difusão do pânico. A sociologia do pânico substituiu os economistas do desastre que alimentaram na mídia liberal conservadora o diagnóstico de que o governo Lula iria jogar o país numa crise sem precedentes.
Ocorre que o capitalismo brasileiro, como reconhecem praticamente todos os economistas, tornou-se sólido, com um setor industrial desenvolvido, um mercado interno em expansão, um forte agronegócio, e um sistema financeiro organizado, que atravessou sem maiores problemas a crise mundial de 2008.
Como a economia vai bem, a oposição se voltou para o sistema político, com foco no executivo, alvo de seus prognósticos catastróficos. Em texto amplamente divulgado pela imprensa, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sustenta que “o DNA do autoritarismo popular vai minando o espírito da democracia constitucional” e acrescenta que “vamos regressando a formas políticas do autoritarismo militar”.
O presidente Lula deteria “um poder sem limites”, de caráter burocrático-corporativo. Como a vitória de Dilma possibilitará a emergência do subperonismo no Brasil encarnado na figura de Lula, é preciso dar um basta no continuísmo antes que se consolide o atraso representado na aliança entre Estado, sindicatos, movimentos sociais, fundos de pensão e grandes empresas, cada vez mais fundidos nos altos fornos do tesouro.
Na mesma linha de raciocínio encontra-se o texto do sociólogo Werneck Vianna apropriado por um colunista de O Globo. O governo Lula faz uma volta ao passado com a revalorização do Estado Novo e dos governos militares, cujas doutrinas remontam a Oliveira Vianna e Alberto Torres. Os mortos continuam comandando os vivos e o espírito da Ibéria cobra o seu preço diante de um mercado que não consegue se auto-regular. Como decorrência, a democracia brasileira perde seus fundamentos quando a “sociedade em sua diversidade se deixa submeter ao Estado, conferindo à liderança de um chefe de governo carismático a tarefa de cimentar a unidade de seus contrários”.
Pouco depois, o historiador Carlos Guilherme Mota, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, critica Lula e diz que seu governo é pior do que subperonismo, porque "o peronismo politizava e o pobrismo do Brasil avilta"...
O que há de comum nessas interpretações? Mais do que a preocupação liberal com o equilíbrio de poder entre as instituições, o que está em jogo é o poder político e os recursos disponibilizados pelo Estado. Afinal, como até há pouco tempo prevalecia a tese de “primeiro crescer para depois repartir”, a melhora da qualidade de vida da população não acompanhou o crescimento econômico do país.
Nesse ponto vale resgatar o pensamento de Florestan Fernandes, cuja obra tornou-se clássica na sociologia brasileira. O mestre Florestan continua atual e foi claro no livro “A Revolução Burguesa no Brasil”. A burguesia no Brasil detêm um forte poder econômico, social e político, de base e de alcance nacionais. Sempre atua e reage preventivamente quanto às mudanças mais profundas que devem ser realizadas para expandir a democracia no Brasil.
Uma dessas mudanças é, sem dúvida, a redução da desigualdade social. Basta uma rápida comparação na distribuição da renda nos governos FH e Lula. São inversamente proporcionais. No governo FH, a renda caiu vertiginosamente; no governo Lula, subiu de forma expressiva. No que se refere ao desemprego, o fenômeno foi exatamente o inverso, conforme mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2008/IBGE.
O governo Lula ampliou o mercado interno trazendo para a esfera do consumo as classes C e D que passaram a constituir demanda para a pequena e média empresa em todo o país. Isso contribuiu para o crescimento econômico, assegurado sem inflação, com aumento real de poder aquisitivo para as camadas de baixa renda.
Os estímulos concedidos pelo governo levaram a uma rápida superação da crise econômica. Isso explica porque o objetivo de alguns sociólogos da oposição é semear o pânico no campo político, já que no econômico o governo Lula teve excelente desempenho, ao contrário do que previam os economistas liberais sempre presentes na mídia.
Mas, também no campo político, esses sociólogos vão malhar em ferro frio. O governo Lula é talvez o mais democrático da história política brasileira. Além disso, fortaleceu o Brasil no cenário internacional em função dos interesses brasileiros e latinoamericanos, rompendo com a dependência tradicional em relação aos interesses norteamericanos.
As elites estão divididas. Alguns segmentos estão satisfeitos com a situação econômica. Outros, mais ligados ao poder político, estão desesperados e tentam manipular a opinião pública por meio da mídia.
Lula está sendo criticado mais pelas suas virtudes do que pelos seus defeitos. É curioso observar que esses críticos não abordaram a questão da ética, nem atacaram, por exemplo, o lado mais vulnerável do governo que é a questão ambiental.
O governo brasileiro reluta em levar metas definidas à conferência da ONU sobre clima, em Copenhague. O Brasil pode, mais uma vez, perder a chance de assumir liderança mundial na questão climática que se torna hoje uma prioridade global.
Mas a sociologia do pânico nem tocou nesse assunto, influenciada certamente pela visão produtivista que predomina no mercado. É pena, porque dentro de vinte ou trinta anos os governos vão ser julgados menos pelas obras e mais pelo que fizeram para combater o aquecimento global e evitar as mudanças climáticas que ameaçam a humanidade.
Essas questões, porém, passam longe das preocupações da sociologia do pânico, interessada apenas no poder político em jogo nas eleições presidenciais de 2010.
Liszt Vieira é Sociólogo, Professor da PUC, Presidente do Jardim Botânico do Rio.
Aloysio Castelo de Carvalho é Professor da Faculdade de Economia da UFF e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFF.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O Brasil e Lula vistos pelo mundo
Copiado do Portal Vermelho
Editorial
15 de Novembro de 2009 - 16h05
O Brasil e Lula vistos pelo mundo
Para utilizar uma imagem muito usada pelo presidente Lula, talvez nunca na história deste país falou-se tanto do Brasil e de seus dirigentes na imprensa mundial. Na verdade, o que mais se lia anteriormente eram referências elogiosas e ao mesmo tempo preconceituosas sobre o carnaval, as maravilhas naturais brasileiras, a beleza extraordinária de suas mulheres e a capacidade pentacampeã de seus jogadores de futebol, sem deixar de lembrar nosso período de liderança nas pistas da fórmula 1.
Como diz a revista The Economist em sua última edição - com capa dedicada ao Brasil – nosso país era visto com desconfiança nos começos da década quando ainda era mais conhecido pelo carnaval e o futebol, por ser um país com “instabilidade política crônica” e um crescimento econômico tão pequeno quanto os trajes de praia. Na reportagem de capa, O Brasil decola, entretanto, a revista faz um balanço da situação econômica e social sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e destaca que o Brasil foi um dos últimos paises a sentir os efeitos da atual crise econômica e um dos primeiros a deixá-la. E reforça a idéia de que por volta de 2014 o Brasil poderá ser a quinta maior economia do mundo, superando a Grã-Bretanha e França.
Em entrevista recente, o atual candidato da Frente Ampla do Uruguai, qwue saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial, José “Pepe” Mujica, disse sobre Lula: “Ele negocia, tem a paciência de um velho dirigente sindical. Aliás, aqui entre nós, deveríamos clonar o Lula pela América Latina”. O presidente dos EUA, Barack Obama, já havia dito que “Lula é o cara” e a revista Forbes incluiu o presidente brasileiro na lista das personalidades mais poderosas do mundo.
De fato, uma das qualidades de Lula é ter superado a chamada grande imprensa como intermediária entre a sua liderança e o público brasileiro. Essa mídia fez de tudo para se colocar como instrumento de comunicação entre a elite e o povo. Lula rompeu esta tradição e diz: “Sempre procuro me comportar com a maior humildade possível. Gosto de falar com o povo. Odeio intermediário com o povo. Esse negócio de gente falar por mim, eu não gosto. Por isso, falo muito”.
Na entrevista que concedeu à bíblia do sistema econômico e financeiro mundial, o jornal Financial Times, em Londres, o presidente brasileiro foi apresentado aos seus leitores da seguinte forma: "Para Lula e seus 190 milhões de conterrâneos, a memória do país comparecendo regularmente diante do Fundo de chapéu na mão ainda machuca. Apenas uma década atrás, nas crises financeiras da Ásia e da Rússia, o Brasil foi forçado a desvalorizar sua moeda, o real, e pedir créditos de emergência ao FMI. Porém agora as coisas se inverteram. 'Fomos um dos últimos países a entrar na crise global e um dos primeiros a sair', diz o ex-torneiro mecânico". Sobre como o Brasil tem se esforçado para sair da crise Lula respondeu: “Bom, primeiro de tudo, acredito que é importante para você entender o que aconteceu no Brasil antes da crise. Estávamos determinados a acabar com a paralisia que o Brasil sofreu durante os anos 80 e 90. O Brasil teve de voltar ao caminho do crescimento e investir em infra-estrutura como condição para o sucesso nas décadas futuras”. E, quando veio a crise, “o Brasil já estava fazendo muitos investimentos, coisa que outros países só começam a discutir hoje”.
Isto é, o país saiu da passividade e a que foi empurrado pela política econômica neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, mantendo sua posição subalterna e fazendo tudo o que o FMI mandava, esquecendo a soberania nacional e os interesses do país. Isso mudou – e o resultado é o sucesso do país internamente e pelo mundo afora, colocando o Brasil pela primeira vez entre aqueles que decidem os destinos da humanidade. Esse reconhecimento externo – de autoridades e da mídia que, essa sim, faz a cabeça das elites mundiais, é o resultado das mudanças de postura alcançadas desde a ascensão de Lula à presidência.
Editorial
15 de Novembro de 2009 - 16h05
O Brasil e Lula vistos pelo mundo
Para utilizar uma imagem muito usada pelo presidente Lula, talvez nunca na história deste país falou-se tanto do Brasil e de seus dirigentes na imprensa mundial. Na verdade, o que mais se lia anteriormente eram referências elogiosas e ao mesmo tempo preconceituosas sobre o carnaval, as maravilhas naturais brasileiras, a beleza extraordinária de suas mulheres e a capacidade pentacampeã de seus jogadores de futebol, sem deixar de lembrar nosso período de liderança nas pistas da fórmula 1.
Como diz a revista The Economist em sua última edição - com capa dedicada ao Brasil – nosso país era visto com desconfiança nos começos da década quando ainda era mais conhecido pelo carnaval e o futebol, por ser um país com “instabilidade política crônica” e um crescimento econômico tão pequeno quanto os trajes de praia. Na reportagem de capa, O Brasil decola, entretanto, a revista faz um balanço da situação econômica e social sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e destaca que o Brasil foi um dos últimos paises a sentir os efeitos da atual crise econômica e um dos primeiros a deixá-la. E reforça a idéia de que por volta de 2014 o Brasil poderá ser a quinta maior economia do mundo, superando a Grã-Bretanha e França.
Em entrevista recente, o atual candidato da Frente Ampla do Uruguai, qwue saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial, José “Pepe” Mujica, disse sobre Lula: “Ele negocia, tem a paciência de um velho dirigente sindical. Aliás, aqui entre nós, deveríamos clonar o Lula pela América Latina”. O presidente dos EUA, Barack Obama, já havia dito que “Lula é o cara” e a revista Forbes incluiu o presidente brasileiro na lista das personalidades mais poderosas do mundo.
De fato, uma das qualidades de Lula é ter superado a chamada grande imprensa como intermediária entre a sua liderança e o público brasileiro. Essa mídia fez de tudo para se colocar como instrumento de comunicação entre a elite e o povo. Lula rompeu esta tradição e diz: “Sempre procuro me comportar com a maior humildade possível. Gosto de falar com o povo. Odeio intermediário com o povo. Esse negócio de gente falar por mim, eu não gosto. Por isso, falo muito”.
Na entrevista que concedeu à bíblia do sistema econômico e financeiro mundial, o jornal Financial Times, em Londres, o presidente brasileiro foi apresentado aos seus leitores da seguinte forma: "Para Lula e seus 190 milhões de conterrâneos, a memória do país comparecendo regularmente diante do Fundo de chapéu na mão ainda machuca. Apenas uma década atrás, nas crises financeiras da Ásia e da Rússia, o Brasil foi forçado a desvalorizar sua moeda, o real, e pedir créditos de emergência ao FMI. Porém agora as coisas se inverteram. 'Fomos um dos últimos países a entrar na crise global e um dos primeiros a sair', diz o ex-torneiro mecânico". Sobre como o Brasil tem se esforçado para sair da crise Lula respondeu: “Bom, primeiro de tudo, acredito que é importante para você entender o que aconteceu no Brasil antes da crise. Estávamos determinados a acabar com a paralisia que o Brasil sofreu durante os anos 80 e 90. O Brasil teve de voltar ao caminho do crescimento e investir em infra-estrutura como condição para o sucesso nas décadas futuras”. E, quando veio a crise, “o Brasil já estava fazendo muitos investimentos, coisa que outros países só começam a discutir hoje”.
Isto é, o país saiu da passividade e a que foi empurrado pela política econômica neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, mantendo sua posição subalterna e fazendo tudo o que o FMI mandava, esquecendo a soberania nacional e os interesses do país. Isso mudou – e o resultado é o sucesso do país internamente e pelo mundo afora, colocando o Brasil pela primeira vez entre aqueles que decidem os destinos da humanidade. Esse reconhecimento externo – de autoridades e da mídia que, essa sim, faz a cabeça das elites mundiais, é o resultado das mudanças de postura alcançadas desde a ascensão de Lula à presidência.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A grande mídia e a desigualdade racial
Copiado do Carta Maior
DEBATE ABERTO
A grande mídia e a desigualdade racial
Pesquisa do Observatório Brasileiro de Mídia revela posicionamento contrário de grandes revistas e jornais brasileiros em relação aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente (ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas).
Venício Lima
O “Dia da Consciência Negra” é comemorado em todo o país na data em que Zumbi – o herói principal da resistência simbolizada pelo quilombo de Palmares – foi morto, 314 anos atrás: 20 de novembro de 1695. Muitas revoltas, fugas e quilombos aconteceram antes da Abolição em 1888.
O Brasil de 2009 é, certamente, outro país. Apesar disso, “os negros continuam em situação de desigualdade, ocupando as funções menos qualificadas no mercado de trabalho, sem acesso às terras ancestralmente ocupadas no campo, e na condição de maiores agentes e vítimas da violência nas periferias das grandes cidades”.
O estudo Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgado em outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, de 1998 a 2008, dobrou o número de negros e pardos com ensino superior. Mesmo assim, os números continuam muito abaixo da média da população branca: só 4,7% de negros e pardos tinham diploma de nível superior em 2008, contra 2,2% dez anos antes. Já na população branca, 14,3% tinham terminado a universidade em 2008. Dez anos antes, eram 9,7%. Entre o 1% com maior renda familiar per capita, apenas 15% eram pretos ou pardos no total da população brasileira.
A grande mídia e a desigualdade racial
Diante desse quadro de desigualdade e injustiça histórica, como tem se comportado a grande mídia na cobertura dos temas de interesse da população negra brasileira, vale dizer, de interesse público?
Uma pesquisa encomendada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), realizada pelo Observatório Brasileiro de Mídia (OBM), analisou 972 matérias publicadas nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, e 121 nas revistas semanais Veja, Época e Isto É – 1093 matérias, no total – ao longo de oito anos.
No período compreendido entre 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2008, foi acompanhada a agenda da promoção da igualdade racial e das políticas de ações afirmativas em torno dos seguintes temas: cotas nas universidades, quilombolas, ação afirmativa, estatuto da igualdade racial, diversidade racial e religiões de matriz africana.
Não é possível reproduzir aqui todos os detalhes da pesquisa. Menciono apenas cinco achados de um Relatório de quase 100 páginas.
1. Com graus diferentes, os jornais observados se posicionaram contrariamente aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente. Em toda a pesquisa, as políticas de reparação – ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas - tiveram o maior o percentual de textos com sentidos contrários: 22,2%.
2. As reportagens veicularam sentidos mais plurais do que os textos opinativos que, com pequenas variações, se posicionaram contrários à adoção das cotas, da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e da demarcação de terras quilombolas. A argumentação central dos editoriais é de que esses instrumentos de reparação promovem racismo. Em relação à demarcação das terras quilombolas, os textos opinativos em O Estado de S. Paulo, 78,6%, e O Globo, 63,6%, criticaram o Decreto n.º 4.887/2003 que regulamenta a demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O argumento principal foi o de que o critério da autodeclaração é falho e traz insegurança à propriedade privada.
3. A cobertura sobre ações afirmativas foi realizada, basicamente, em torno da política de cotas: 29,3% dos textos. Outros instrumentos pouco foram noticiados. O Estatuto da Igualdade Racial esteve presente apenas em 4,5% dos textos. A discussão sobre as ações afirmativas mereceu atenção de 18,9%. Quase 40% desses textos foram publicados em 2001, ano da Conferência sobre a igualdade racial em Durban, África do Sul. A Lei 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira”, praticamente não foi noticiada. Menções à lei foram feitas de forma periférica, em apenas 0,5% do total de textos, sem que os veículos tenham problematizado o assunto ou buscado dar visibilidade à sua aplicação.
A cobertura oferecida pelo jornal O Globo merece um comentário à parte. O jornal dedicou 38 editoriais sobre os vários temas pesquisados, destes 25 ou 65,8% trataram especificamente de “cotas nas universidades”. Os três jornais publicaram 32 editoriais sobre o mesmo assunto. O Globo foi, portanto, responsável por 78% deles.
Ainda que os principais argumentos contrários – as cotas e ações afirmativas iriam promover racismo (32%) ou os alunos cotistas iriam baixar o nível dos cursos (16%) – não tenham se confirmado nas instituições que implementaram as cotas, a posição editorial de O Globo não se alterou nos 8 anos pesquisados.
4. Embora a maioria dos estudos e pesquisas realizadas por instituições como IBGE, IPEA, SEADE, OIT, UNESCO, ONU, UFRJ, IBOPE e DATAFOLHA, no período analisado, confirmem o acerto das políticas de ação afirmativa, apenas 5,8% dos textos publicados nos jornais noticiaram e debateram os dados revelados. Esses estudos e pesquisas trataram de assuntos como: menor salário de negros frente a brancos; menor presença de negros no ensino superior; negros como maiores vítimas da violência; e pouca presença de negros em cargos de chefia, dentre outros.
5. O noticiário das revistas semanais sobre a afrodescendencia e a promoção da igualdade racial teve características muito semelhantes ao encontrado nos jornais. Os textos com sentidos contrários às políticas de reparação (26,4%) foram em maior percentual do que aqueles com viés favorável (13,2%). Da mesma forma que nos jornais, a cobertura se concentrou nos programas de cotas: 33,1% sendo que o alto percentual dos textos que trataram das religiões de matriz africana (25,6%) foi o único que destoou da freqüência nos jornais, 4,7%.
Liberdades e direitos
Os resultados da importante pesquisa realizada pelo OBM denunciam um estranho paradoxo. Enquanto a grande mídia tem se revelado cada dia mais zelosa – aqui e, sobretudo, em alguns países da América Latina – com relação ao que chama de liberdade de imprensa (equacionada, sem mais, com a liberdade individual de expressão), o mesmo não acontece com a defesa de direitos fundamentais como a reparação da desigualdade e da injustiça histórica de que padece a imensa população negra do nosso país.
Estaria a grande mídia mais preocupada com seus próprios interesses do que com o interesse público?
Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB
DEBATE ABERTO
A grande mídia e a desigualdade racial
Pesquisa do Observatório Brasileiro de Mídia revela posicionamento contrário de grandes revistas e jornais brasileiros em relação aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente (ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas).
Venício Lima
O “Dia da Consciência Negra” é comemorado em todo o país na data em que Zumbi – o herói principal da resistência simbolizada pelo quilombo de Palmares – foi morto, 314 anos atrás: 20 de novembro de 1695. Muitas revoltas, fugas e quilombos aconteceram antes da Abolição em 1888.
O Brasil de 2009 é, certamente, outro país. Apesar disso, “os negros continuam em situação de desigualdade, ocupando as funções menos qualificadas no mercado de trabalho, sem acesso às terras ancestralmente ocupadas no campo, e na condição de maiores agentes e vítimas da violência nas periferias das grandes cidades”.
O estudo Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgado em outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, de 1998 a 2008, dobrou o número de negros e pardos com ensino superior. Mesmo assim, os números continuam muito abaixo da média da população branca: só 4,7% de negros e pardos tinham diploma de nível superior em 2008, contra 2,2% dez anos antes. Já na população branca, 14,3% tinham terminado a universidade em 2008. Dez anos antes, eram 9,7%. Entre o 1% com maior renda familiar per capita, apenas 15% eram pretos ou pardos no total da população brasileira.
A grande mídia e a desigualdade racial
Diante desse quadro de desigualdade e injustiça histórica, como tem se comportado a grande mídia na cobertura dos temas de interesse da população negra brasileira, vale dizer, de interesse público?
Uma pesquisa encomendada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), realizada pelo Observatório Brasileiro de Mídia (OBM), analisou 972 matérias publicadas nos jornais Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, e 121 nas revistas semanais Veja, Época e Isto É – 1093 matérias, no total – ao longo de oito anos.
No período compreendido entre 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2008, foi acompanhada a agenda da promoção da igualdade racial e das políticas de ações afirmativas em torno dos seguintes temas: cotas nas universidades, quilombolas, ação afirmativa, estatuto da igualdade racial, diversidade racial e religiões de matriz africana.
Não é possível reproduzir aqui todos os detalhes da pesquisa. Menciono apenas cinco achados de um Relatório de quase 100 páginas.
1. Com graus diferentes, os jornais observados se posicionaram contrariamente aos principais pontos da agenda de interesse da população afrodescendente. Em toda a pesquisa, as políticas de reparação – ações afirmativas, cotas, Estatuto da Igualdade Racial e demarcação de terras quilombolas - tiveram o maior o percentual de textos com sentidos contrários: 22,2%.
2. As reportagens veicularam sentidos mais plurais do que os textos opinativos que, com pequenas variações, se posicionaram contrários à adoção das cotas, da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e da demarcação de terras quilombolas. A argumentação central dos editoriais é de que esses instrumentos de reparação promovem racismo. Em relação à demarcação das terras quilombolas, os textos opinativos em O Estado de S. Paulo, 78,6%, e O Globo, 63,6%, criticaram o Decreto n.º 4.887/2003 que regulamenta a demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O argumento principal foi o de que o critério da autodeclaração é falho e traz insegurança à propriedade privada.
3. A cobertura sobre ações afirmativas foi realizada, basicamente, em torno da política de cotas: 29,3% dos textos. Outros instrumentos pouco foram noticiados. O Estatuto da Igualdade Racial esteve presente apenas em 4,5% dos textos. A discussão sobre as ações afirmativas mereceu atenção de 18,9%. Quase 40% desses textos foram publicados em 2001, ano da Conferência sobre a igualdade racial em Durban, África do Sul. A Lei 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira”, praticamente não foi noticiada. Menções à lei foram feitas de forma periférica, em apenas 0,5% do total de textos, sem que os veículos tenham problematizado o assunto ou buscado dar visibilidade à sua aplicação.
A cobertura oferecida pelo jornal O Globo merece um comentário à parte. O jornal dedicou 38 editoriais sobre os vários temas pesquisados, destes 25 ou 65,8% trataram especificamente de “cotas nas universidades”. Os três jornais publicaram 32 editoriais sobre o mesmo assunto. O Globo foi, portanto, responsável por 78% deles.
Ainda que os principais argumentos contrários – as cotas e ações afirmativas iriam promover racismo (32%) ou os alunos cotistas iriam baixar o nível dos cursos (16%) – não tenham se confirmado nas instituições que implementaram as cotas, a posição editorial de O Globo não se alterou nos 8 anos pesquisados.
4. Embora a maioria dos estudos e pesquisas realizadas por instituições como IBGE, IPEA, SEADE, OIT, UNESCO, ONU, UFRJ, IBOPE e DATAFOLHA, no período analisado, confirmem o acerto das políticas de ação afirmativa, apenas 5,8% dos textos publicados nos jornais noticiaram e debateram os dados revelados. Esses estudos e pesquisas trataram de assuntos como: menor salário de negros frente a brancos; menor presença de negros no ensino superior; negros como maiores vítimas da violência; e pouca presença de negros em cargos de chefia, dentre outros.
5. O noticiário das revistas semanais sobre a afrodescendencia e a promoção da igualdade racial teve características muito semelhantes ao encontrado nos jornais. Os textos com sentidos contrários às políticas de reparação (26,4%) foram em maior percentual do que aqueles com viés favorável (13,2%). Da mesma forma que nos jornais, a cobertura se concentrou nos programas de cotas: 33,1% sendo que o alto percentual dos textos que trataram das religiões de matriz africana (25,6%) foi o único que destoou da freqüência nos jornais, 4,7%.
Liberdades e direitos
Os resultados da importante pesquisa realizada pelo OBM denunciam um estranho paradoxo. Enquanto a grande mídia tem se revelado cada dia mais zelosa – aqui e, sobretudo, em alguns países da América Latina – com relação ao que chama de liberdade de imprensa (equacionada, sem mais, com a liberdade individual de expressão), o mesmo não acontece com a defesa de direitos fundamentais como a reparação da desigualdade e da injustiça histórica de que padece a imensa população negra do nosso país.
Estaria a grande mídia mais preocupada com seus próprios interesses do que com o interesse público?
Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Classe média é maioria, desigualdade diminui e o Brasil já decolou
Copiado do blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim
Entrevistei o professor Marcelo Neri, economista e chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-RJ, para o Entrevista Record, que vai ao ar hoje à noite, pela Record News.
Leia abaixo os principais pontos da entrevista:
. Em 1992, a classe média era um terço do total da renda brasileira.
. Hoje, é mais de 50%.
. Entre 2003 e 2008, 32 milhões de brasileiros, ou seja, metade da população da Franca, ingressou no conjunto das classes A, B e C. O principal fator dessa ascensão não foram os programas assistenciais, mas a renda do trabalho.
. Entre 2003 e 2009 foram criados 8 milhões de empregos com carteira assinada.
. Pode-se dizer também que essa é uma década da redução da desigualdade.
. Entre 2000 e 2008 a renda dos 10% mais pobres da população cresceu 72%. Ou seja, o crescimento da renda dos pobres no Brasil é um crescimento de tamanho chinês.
. A renda dos 10% mais ricos cresceu 11%.
. Todo mundo cresceu.
. É uma bolha?
. Não, frisou Neri. Esse processo já dura cinco anos: de 2003 a 2008 a renda do brasileiro cresce 7% ao ano. Ou seja, não é bolha porque a renda sobe por causa do trabalho e porque os brasileiros passaram a estudar mais.
. Trabalhar e estudar são coisas que ficam, não vão embora como uma bolha.
. A queda na desigualdade é inédita.
. No anos 60 o Brasil viveu o período mais desigual da sua história. O Brasil tinha a terceira pior distribuição de renda do mundo.
. Hoje é o décimo. Quer dizer, é um país ainda muito desigual, mas se a desigualdade continuar a cair, será um país de desigualdade tolerável.
. O importante é que o Brasil cresce em baixo. O crescimento econômico do Nordeste é igual ao da China.
. É o que mostra uma pesquisa feita por ele sob o título “Produtores e Consumidores da Nova Classe Média”. O nordestino botou o filho na escola, conseguiu emprego com carteira assinada e a renda dos produtores cresce mais que a renda dos consumidores.
.Ou seja, o brasileiro é mais formiga do que cigarra.
. As mulheres são o maior sucesso dessa história.
. Elas fizeram uma revolução há 30 anos. Foram para a escola e conseguiram salários que começaram a se aproximar do salário dos homens.
. A história da ascensão das mulheres nordestinas é a mais significativa. Um exemplo disso é que as mulheres são as principais clientes do Crediamigo, o programa de microcrédito do Banco do Nordeste, que detém dois terços do mercado nacional de microcrédito.
. O Crediamigo promove sobretudo no Nordeste uma revolução nos pequenos negócios. Os empréstimos começam com R$ 400 e o avalista é um grupo de três a cinco pessoas em que um se responsabiliza pela dívida do outro.
. Entre o primeiro empréstimo e dezembro de 2008, aumentou em 42% o lucro dos que tomam dinheiro no Crediamigo. Sessenta por cento deles deixaram de ser pobres.
. O Marcelo Neri tem um estudo para a Fundação Getúlio Vargas só sobre o Crediamigo. Ele contou que a Prefeitura do Rio vai copiar o Crediamigo, além da Prefeitura de São Gonçalo, na região do Grande Rio.
Concluiu o professor Marcelo Neri: o Brasil muda rapidamente para melhor e muita gente não percebe.
Paulo Henrique Amorim
Entrevistei o professor Marcelo Neri, economista e chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-RJ, para o Entrevista Record, que vai ao ar hoje à noite, pela Record News.
Leia abaixo os principais pontos da entrevista:
. Em 1992, a classe média era um terço do total da renda brasileira.
. Hoje, é mais de 50%.
. Entre 2003 e 2008, 32 milhões de brasileiros, ou seja, metade da população da Franca, ingressou no conjunto das classes A, B e C. O principal fator dessa ascensão não foram os programas assistenciais, mas a renda do trabalho.
. Entre 2003 e 2009 foram criados 8 milhões de empregos com carteira assinada.
. Pode-se dizer também que essa é uma década da redução da desigualdade.
. Entre 2000 e 2008 a renda dos 10% mais pobres da população cresceu 72%. Ou seja, o crescimento da renda dos pobres no Brasil é um crescimento de tamanho chinês.
. A renda dos 10% mais ricos cresceu 11%.
. Todo mundo cresceu.
. É uma bolha?
. Não, frisou Neri. Esse processo já dura cinco anos: de 2003 a 2008 a renda do brasileiro cresce 7% ao ano. Ou seja, não é bolha porque a renda sobe por causa do trabalho e porque os brasileiros passaram a estudar mais.
. Trabalhar e estudar são coisas que ficam, não vão embora como uma bolha.
. A queda na desigualdade é inédita.
. No anos 60 o Brasil viveu o período mais desigual da sua história. O Brasil tinha a terceira pior distribuição de renda do mundo.
. Hoje é o décimo. Quer dizer, é um país ainda muito desigual, mas se a desigualdade continuar a cair, será um país de desigualdade tolerável.
. O importante é que o Brasil cresce em baixo. O crescimento econômico do Nordeste é igual ao da China.
. É o que mostra uma pesquisa feita por ele sob o título “Produtores e Consumidores da Nova Classe Média”. O nordestino botou o filho na escola, conseguiu emprego com carteira assinada e a renda dos produtores cresce mais que a renda dos consumidores.
.Ou seja, o brasileiro é mais formiga do que cigarra.
. As mulheres são o maior sucesso dessa história.
. Elas fizeram uma revolução há 30 anos. Foram para a escola e conseguiram salários que começaram a se aproximar do salário dos homens.
. A história da ascensão das mulheres nordestinas é a mais significativa. Um exemplo disso é que as mulheres são as principais clientes do Crediamigo, o programa de microcrédito do Banco do Nordeste, que detém dois terços do mercado nacional de microcrédito.
. O Crediamigo promove sobretudo no Nordeste uma revolução nos pequenos negócios. Os empréstimos começam com R$ 400 e o avalista é um grupo de três a cinco pessoas em que um se responsabiliza pela dívida do outro.
. Entre o primeiro empréstimo e dezembro de 2008, aumentou em 42% o lucro dos que tomam dinheiro no Crediamigo. Sessenta por cento deles deixaram de ser pobres.
. O Marcelo Neri tem um estudo para a Fundação Getúlio Vargas só sobre o Crediamigo. Ele contou que a Prefeitura do Rio vai copiar o Crediamigo, além da Prefeitura de São Gonçalo, na região do Grande Rio.
Concluiu o professor Marcelo Neri: o Brasil muda rapidamente para melhor e muita gente não percebe.
Paulo Henrique Amorim
sábado, 14 de novembro de 2009
Como conhecer um analfabeto político
Só a internet para nos oferecer essas duas pérolas:
por Francisco Barreira, clique no link para ler mais
Este texto deve ser lido de forma combinada com o que vem imediatamente abaixo dele.
Iniciamos hoje a série Como Conhecer um Analfabeto Político que compõe o perfil desta figura muitas vezes simpática e com a qual convivemos diariamente no lar, no trabalho e no bar. Envie sua colaboração.
1- O analfabeto político não se cansa de dar “uma cervejinha” pro guarda, depois se indigna com a corrupção policial.
2- Na fila, ele amaldiçoa o caixa lerdo, mas em nenhum instante supõe que os banqueiros colocam à sua disposição um número insuficiente de caixas.
3- Se grisalho, ele com certeza foi defensor da ditadura, mas permite que apenas o Bolsonaro confesse isto por ele.
4- É contra o aumento do salário dos trabalhadores, porque eleva a inflação e o Custo Brasil, mas também é contra a Bolsa Família, porque é populismo, paternalismo ou é dar a vara ao invés de ensinar a pescar . Quer que o povo se exploda.
5- É contra as cotas, mas descobre-se negro quando seu filho vai prestar vestibular.
6- Barbeia-se diariamente ao espelho supondo estar barbeando um Kennedy e morre de ódio, quando, num lampejo de lucidez, vê apenas um Lula.
7- Não está preparado psicologicamente para suportar o sucesso, um novo patamar na sua vida e na do País. Tem um pacto secreto com o fracasso ou simplesmente teme uma situação nova. Por isso, o Brasil protagonista da cena mundial o assusta e o irrita. Faz com que ele torça contra.
8- Manda aumentar o muro de seu condomínio e em nenhum momento estabelece uma relação de causa e efeito entre a violência urbana, o inchaço da cidade e a ausência secular de uma política consistente de reforma agrária, de fixação do homem à terra, como os franceses fazem desde Napoleão.
9- Adora caçar políticos, sem perceber que estes, em matéria de gatunagem, são fichinhas perto do banqueiros.
10- Só se lembra da saúde pública quando é traído pelos planos particulares.
18-9-09
Por que os analfabetos políticos
pensam que Lula é analfabeto
A figura do analfabeto político foi criada por Bertold Brecht para exprimir o burguês letrado, por vezes erudito, que absolutamente não consegue compreender a realidade que o cerca. Não confunda com o alienado que, eventualmente, pode ser analfabeto de fato. Estamos lidando com uma figura que exprime muito bem, por vezes em várias línguas, a total insipidez de seus raciocínios.
Vejamos dois casos específicos: Ricardo Noblat e Diogo Mainardi, dois festejados profissionais da mídia que pensam exatamente como pensam seus patrões, proprietários de vetustos veículos de imprensa. Ambos, com suas tiradas, levam a burguesia brasileira ao delírio. Não cuidemos de suas personalidades, para poupar o leitor mais apressado. Avancemos diretamente para seus pensamentos sínteses garimpados por nossa equipe após exaustiva pesquisa. De Noblat recolhemos esta pérola com a qual ele retrata, com traços de artista e observado atento, a atual realidade brasileira que provoca tanto espanto aqui e tanta admiração lá fora: O presidente da República é um “trapalhão”. Mainardi foi mais específico ao dizer que “o Brasil tem este efeito: nunca consegue inspirar algo que preste”.|
Nelson Rodrigues criou a frase lapidar ao dizer que “brasileiro tem complexo de vira-lata”. Pensamento que reflete do ponto de vista sociológico e amplo ( coletivo), algo que os analistas, definem (no âmbito individual) como o pacto secreto com o fracasso. O equívoco de mestre Nelson, no entanto, foi o de supor que estava se referindo ao conjunto do povo brasileiro (cuja profissão é a esperança) quando na realidade exprimia um sentimento específico (negativista) das assim chamadas classes dominantes. Classes estas às quais ele pertencia e que jamais suportaram ter que ver ao espelho , no ato diário de barbear-se, não um europeu refinado de olhos azuis, mas “um mulato tacanho”, como elas definem pejorativamente o povo, sem perceber, porque são analfabetas políticas, que estão se auto-definindo. Noblat e Mainardi gostariam de ver ao espelho todas as manhãs o Ted Kennedy. Mas ficam possessos por que vêem o Lula.
por Francisco Barreira, clique no link para ler mais
Este texto deve ser lido de forma combinada com o que vem imediatamente abaixo dele.
Iniciamos hoje a série Como Conhecer um Analfabeto Político que compõe o perfil desta figura muitas vezes simpática e com a qual convivemos diariamente no lar, no trabalho e no bar. Envie sua colaboração.
1- O analfabeto político não se cansa de dar “uma cervejinha” pro guarda, depois se indigna com a corrupção policial.
2- Na fila, ele amaldiçoa o caixa lerdo, mas em nenhum instante supõe que os banqueiros colocam à sua disposição um número insuficiente de caixas.
3- Se grisalho, ele com certeza foi defensor da ditadura, mas permite que apenas o Bolsonaro confesse isto por ele.
4- É contra o aumento do salário dos trabalhadores, porque eleva a inflação e o Custo Brasil, mas também é contra a Bolsa Família, porque é populismo, paternalismo ou é dar a vara ao invés de ensinar a pescar . Quer que o povo se exploda.
5- É contra as cotas, mas descobre-se negro quando seu filho vai prestar vestibular.
6- Barbeia-se diariamente ao espelho supondo estar barbeando um Kennedy e morre de ódio, quando, num lampejo de lucidez, vê apenas um Lula.
7- Não está preparado psicologicamente para suportar o sucesso, um novo patamar na sua vida e na do País. Tem um pacto secreto com o fracasso ou simplesmente teme uma situação nova. Por isso, o Brasil protagonista da cena mundial o assusta e o irrita. Faz com que ele torça contra.
8- Manda aumentar o muro de seu condomínio e em nenhum momento estabelece uma relação de causa e efeito entre a violência urbana, o inchaço da cidade e a ausência secular de uma política consistente de reforma agrária, de fixação do homem à terra, como os franceses fazem desde Napoleão.
9- Adora caçar políticos, sem perceber que estes, em matéria de gatunagem, são fichinhas perto do banqueiros.
10- Só se lembra da saúde pública quando é traído pelos planos particulares.
18-9-09
Por que os analfabetos políticos
pensam que Lula é analfabeto
A figura do analfabeto político foi criada por Bertold Brecht para exprimir o burguês letrado, por vezes erudito, que absolutamente não consegue compreender a realidade que o cerca. Não confunda com o alienado que, eventualmente, pode ser analfabeto de fato. Estamos lidando com uma figura que exprime muito bem, por vezes em várias línguas, a total insipidez de seus raciocínios.
Vejamos dois casos específicos: Ricardo Noblat e Diogo Mainardi, dois festejados profissionais da mídia que pensam exatamente como pensam seus patrões, proprietários de vetustos veículos de imprensa. Ambos, com suas tiradas, levam a burguesia brasileira ao delírio. Não cuidemos de suas personalidades, para poupar o leitor mais apressado. Avancemos diretamente para seus pensamentos sínteses garimpados por nossa equipe após exaustiva pesquisa. De Noblat recolhemos esta pérola com a qual ele retrata, com traços de artista e observado atento, a atual realidade brasileira que provoca tanto espanto aqui e tanta admiração lá fora: O presidente da República é um “trapalhão”. Mainardi foi mais específico ao dizer que “o Brasil tem este efeito: nunca consegue inspirar algo que preste”.|
Nelson Rodrigues criou a frase lapidar ao dizer que “brasileiro tem complexo de vira-lata”. Pensamento que reflete do ponto de vista sociológico e amplo ( coletivo), algo que os analistas, definem (no âmbito individual) como o pacto secreto com o fracasso. O equívoco de mestre Nelson, no entanto, foi o de supor que estava se referindo ao conjunto do povo brasileiro (cuja profissão é a esperança) quando na realidade exprimia um sentimento específico (negativista) das assim chamadas classes dominantes. Classes estas às quais ele pertencia e que jamais suportaram ter que ver ao espelho , no ato diário de barbear-se, não um europeu refinado de olhos azuis, mas “um mulato tacanho”, como elas definem pejorativamente o povo, sem perceber, porque são analfabetas políticas, que estão se auto-definindo. Noblat e Mainardi gostariam de ver ao espelho todas as manhãs o Ted Kennedy. Mas ficam possessos por que vêem o Lula.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Para onde não vamos
Copiado do Vi o Mundo, DE Luiz Carlos Azenha
CANDIDO MENDES, na Folha
O ex-presidente pergunta-se, indeciso, para onde vamos. Mas as próximas eleições mostrarão para onde não voltamos
O ARTIGO do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Para onde vamos)"clique aqui para ler o artigo" revigora todo o debate político nacional, tirando as oposições de sua presente e contundente mediocridade. Amplo no propósito e na riqueza polêmica, parte da afirmação de que tudo que é bom no atual governo já veio de antes e que o mal de agora apenas começa.
Há, sim, confronto radical entre os dois regimes, ao contrário do que diz, e os tucanos abriram o país à globalização privatista hegemônica, enquanto o petismo vai hoje, com a melhoria social do país, à recuperação do poder do Estado, numa efetiva economia de desenvolvimento sustentável.
A legislação do petróleo, em projeto que ora assaca ao governo o ex-presidente, quer corrigir os efeitos da emenda constitucional de 1995, que desfigurou o monopólio do petróleo da Carta do dr. Ulysses num regime de concessão que, inclusive, entrega aos exploradores do subsolo nacional “a propriedade” do óleo extraído.
A partilha, sim, é o novo instrumento, nada “mal-ajambrado”, em que volta, por inteiro, ao Estado o direito aos proventos dessa extração, ampliando sua destinação social imediata. Diga-o, agora, a Noruega, o país mais desenvolvido e democrático do mundo, que, exatamente, adotou esse regime nas suas riquezas do mar do Norte, deixando as concessões no cemitério das ideologias liberais capitalistas de há uma vintena.
O governo Lula reassegurou a presença do Estado para a efetiva mudança da infraestrutura, que pede o desenvolvimento, atrasado durante o progressismo liberal do PSDB, como mostravam os primeiros resultados do PAC, a contemplar entre os seus principais beneficiários, inclusive, o governo de São Paulo.
O país não frui ainda, claro, o programa Minha Casa, Minha Vida, mas sabe que o Bolsa Família colocou a população de uma Colômbia na nossa economia de mercado.
Claro, também enfrentamos o risco da absorção corporativa sindical no controle dos recursos públicos.
Mas essa é etapa adiante da página que se virou de vez, ou seja, do retorno ao controle pelo status quo, sob a ideologia social-democrata, de autolimitação do poder do Estado ou da crença dos progressismos espontâneos, sem dor para o país instalado, como professa a oposição a Lula.
O embaraço do tucanato em reconhecer o “entreguismo” dos controles públicos durante o seu governo é o mesmo que o alvoroça a assimilar o governo Lula ao “populismo autoritário peronista”.
São comparações regressivas, que não se dão conta da experiência única da chegada do “outro país” ao poder, contra o desespero da violência dos “sem-nada”, das Farc colombianas ou do Sendero Luminoso, no Peru, e assentou, de vez, uma maioria nacional, consciente de suas opções.
Realizar-se ou não o que seja, hoje, na sua originalidade, o “povo de Lula”, é a diferença entre o Brasil “bem” e o país da mudança.
O petismo não é o justicialismo peronista, e hoje a nossa consciência coletiva supera o próprio partido, na solidez do que não quer para o futuro.
Essa nossa adesão ao novo, aliás, foi adiante, até, da própria legenda e de suas siderações pelas vantagens do poder, nessa matriz de um evento político que torna as futuras eleições tão distintas de uma escolha da hora entre situacionismos cansados e oposições gulosas. E o Brasil potência, tão profligado pelo ex-presidente, é a configuração emergente desse país que sabe que não volta ao berço esplêndido da nação dos ricos.
Mais que a denúncia dos “pequenos assassinatos” a minar “devagarzinho” o espírito democrático, o que entra pelos olhos do Brasil na conduta de Lula é a determinação visceral do governo de não ceder a um terceiro mandato, avassaladoramente acolhível, se assim quisesse o presidente, por emenda constitucional, tal como o governo tucano desfigurou o monopólio do petróleo.
No inverso de Chávez, Lula, no seu gesto, reafirma o essencial da democracia, que é o cumprimento das regras do jogo, no que diga a Carta, por maior que seja o poder da hora de quem está no palácio.
O ex-presidente pergunta-se, indeciso, para onde vamos. Mas as próximas eleições mostrarão para onde não voltamos, tanto quanto a nação de Lula sabe que, no Brasil, é “o povo como povo” intrinsecamente melhor que as suas “elites como elites”.
CANDIDO MENDES , 81, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do “senior Board” do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade.
CANDIDO MENDES, na Folha
O ex-presidente pergunta-se, indeciso, para onde vamos. Mas as próximas eleições mostrarão para onde não voltamos
O ARTIGO do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (Para onde vamos)"clique aqui para ler o artigo" revigora todo o debate político nacional, tirando as oposições de sua presente e contundente mediocridade. Amplo no propósito e na riqueza polêmica, parte da afirmação de que tudo que é bom no atual governo já veio de antes e que o mal de agora apenas começa.
Há, sim, confronto radical entre os dois regimes, ao contrário do que diz, e os tucanos abriram o país à globalização privatista hegemônica, enquanto o petismo vai hoje, com a melhoria social do país, à recuperação do poder do Estado, numa efetiva economia de desenvolvimento sustentável.
A legislação do petróleo, em projeto que ora assaca ao governo o ex-presidente, quer corrigir os efeitos da emenda constitucional de 1995, que desfigurou o monopólio do petróleo da Carta do dr. Ulysses num regime de concessão que, inclusive, entrega aos exploradores do subsolo nacional “a propriedade” do óleo extraído.
A partilha, sim, é o novo instrumento, nada “mal-ajambrado”, em que volta, por inteiro, ao Estado o direito aos proventos dessa extração, ampliando sua destinação social imediata. Diga-o, agora, a Noruega, o país mais desenvolvido e democrático do mundo, que, exatamente, adotou esse regime nas suas riquezas do mar do Norte, deixando as concessões no cemitério das ideologias liberais capitalistas de há uma vintena.
O governo Lula reassegurou a presença do Estado para a efetiva mudança da infraestrutura, que pede o desenvolvimento, atrasado durante o progressismo liberal do PSDB, como mostravam os primeiros resultados do PAC, a contemplar entre os seus principais beneficiários, inclusive, o governo de São Paulo.
O país não frui ainda, claro, o programa Minha Casa, Minha Vida, mas sabe que o Bolsa Família colocou a população de uma Colômbia na nossa economia de mercado.
Claro, também enfrentamos o risco da absorção corporativa sindical no controle dos recursos públicos.
Mas essa é etapa adiante da página que se virou de vez, ou seja, do retorno ao controle pelo status quo, sob a ideologia social-democrata, de autolimitação do poder do Estado ou da crença dos progressismos espontâneos, sem dor para o país instalado, como professa a oposição a Lula.
O embaraço do tucanato em reconhecer o “entreguismo” dos controles públicos durante o seu governo é o mesmo que o alvoroça a assimilar o governo Lula ao “populismo autoritário peronista”.
São comparações regressivas, que não se dão conta da experiência única da chegada do “outro país” ao poder, contra o desespero da violência dos “sem-nada”, das Farc colombianas ou do Sendero Luminoso, no Peru, e assentou, de vez, uma maioria nacional, consciente de suas opções.
Realizar-se ou não o que seja, hoje, na sua originalidade, o “povo de Lula”, é a diferença entre o Brasil “bem” e o país da mudança.
O petismo não é o justicialismo peronista, e hoje a nossa consciência coletiva supera o próprio partido, na solidez do que não quer para o futuro.
Essa nossa adesão ao novo, aliás, foi adiante, até, da própria legenda e de suas siderações pelas vantagens do poder, nessa matriz de um evento político que torna as futuras eleições tão distintas de uma escolha da hora entre situacionismos cansados e oposições gulosas. E o Brasil potência, tão profligado pelo ex-presidente, é a configuração emergente desse país que sabe que não volta ao berço esplêndido da nação dos ricos.
Mais que a denúncia dos “pequenos assassinatos” a minar “devagarzinho” o espírito democrático, o que entra pelos olhos do Brasil na conduta de Lula é a determinação visceral do governo de não ceder a um terceiro mandato, avassaladoramente acolhível, se assim quisesse o presidente, por emenda constitucional, tal como o governo tucano desfigurou o monopólio do petróleo.
No inverso de Chávez, Lula, no seu gesto, reafirma o essencial da democracia, que é o cumprimento das regras do jogo, no que diga a Carta, por maior que seja o poder da hora de quem está no palácio.
O ex-presidente pergunta-se, indeciso, para onde vamos. Mas as próximas eleições mostrarão para onde não voltamos, tanto quanto a nação de Lula sabe que, no Brasil, é “o povo como povo” intrinsecamente melhor que as suas “elites como elites”.
CANDIDO MENDES , 81, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do “senior Board” do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade.
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