BLOG DO SARAIVA:
A informação que as remessas de lucros e dividendos por parte de multinacionais – especialmente do setor financeiro e de telecomunicações – atingiram mais de 34 bilhões de dólares nos últimos 12 meses dá uma idéia da sangria com a qual estamos alimentando - com a nossa força de trabalho e de consumo - nossas ex-metrópoles coloniais, cada vez mais parecidas com um bando decrépito de vampiros lutando para não voltar ao pó.
Essa soma, de 34 bilhões de dólares, representa mais de 60% do total do déficit em conta corrente, que deve passar de 50 bilhões de dólares neste ano, apesar do aumento – que mais uma vez colocou em xeque as agourentas “previsões” dos “agentes” do “mercado” – de mais de 70% no superávit comercial deste ano.
Um caudaloso amazonas de dinheiro, que está indo para o exterior, todos os anos, em troca de absolutamente nada.
De lá, como nos tempos das caravelas, as naus só tem trazido duas coisas:
Espelhinhos, em forma de press-releases, que depois são publicados aqui pelos mesmos enganadores que continuam defendendo, na mídia, que fizemos um excelente negócio entregando para os estrangeiros nossas empresas estratégicas e nosso mercado interno nos anos 90.
E centenas de “técnicos” e “executivos”, que estão invadindo, todas as semanas, nosso mercado de trabalho - ao ritmo de mais de 50 mil licenças expedidas pelas autoridades nos últimos meses - vindos de países em crise que, como é o caso da Espanha, estão com uma taxa de desemprego de mais de 20%.
Isso quer dizer que, enquanto o Brasil luta, desesperadamente, para desvalorizar o real e aumentar as exportações, minadas por um dólar artificialmente baixo, nosso dinheiro vai para o ralo, para salvar da quebra empresas incompetentes de países idem, que só conseguiram aportar aqui nos anos 90, graças a dinheiro subsidiado da União Européia e a financiamentos – pasmem - do próprio BNDES.
Para citar apenas um caso - de uma empresa não necessariamente européia, mas de um país que está hoje com uma dívida de mais de 4 trilhões de dólares, por estar sustentando duas guerras perdidas - a American Southern Energy comprou a Eletropaulo, que tinha centenas de milhões de reais em caixa, com financiamento a juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Não satisfeita de botar a mão nesse dinheiro, e de não investir o que devia na expansão da infra-estrutura da empresa, a AES atrasou várias prestações durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, a ponto do Governo Lula ter sido obrigado a entrar na justiça em Nova Iorque para recuperar ao menos parte do prejuízo, conseguindo fazer isso com a constituição da Brasiliana, holding que reúne os ativos desse grupo no Brasil, e da qual o BNDES teve de ficar sócio.
E o que ganhamos com o maior processo de esquartejamento, desmonte e desnacionalização da economia brasileira em 500 anos de história, feito a toque de caixa e vendido como a grande panacéia para a situação do país naquele momento?
A dívida líquida praticamente dobrou em oito anos. O dólar estava a quase quatro reais em 2002. No mesmo ano, o salário mínimo valia cerca de 80 dólares. Um saco de arroz chegava a custar 12 reais no supermercado da esquina. A SELIC estava em quase 25% ao ano. Devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI. Nossas reservas internacionais líquidas eram de menos de 20 bilhões de dólares. E isso sem contar a dívida externa do setor privado e o que devíamos ao Clube de Paris.
Para completar o descalabro, pagamos, hoje, graças a essas competentes privatizações, as mais altas tarifas do mundo em telefonia celular e internet, segundo pesquisa feita em 187 países pela União Internacional de Telecomunicações.
Agora, cada vez que um brasileiro que cai no conto das multinacionais compra um chip da Vivo, da OI, da TIM ou da Claro, paga uma conta de luz – dependendo da distribuidora – ou faz uma operação bancária com o Santander, estamos mandando esse dinheiro para uma viagem sem volta, com passagem só de ida, para países que na época não tinham nenhuma empresa que pudesse se comparar à Telebras, e que, como desenvolvedores de tecnologia de telefonia celular, eram excelentes produtores bacalhau e azeitonas.
Povos que ostentam uma renda per capita 3 ou 4 vezes maior do que a nossa – o que muitos brasileiros acham uma grande vantagem - mas que tem uma dívida per capita 4 ou 5 vezes superior à sua renda.
Controlados por governos tão competentes e avançados na administração de sua economia que estão agora, com a discutível exceção do México, literalmente quebrados, e dependendo, para continuar em pé, do nosso dinheiro e dos nossos mercados.
E agora, o que fazer para sair dessa armadilha?
Como desmontar mais essa bomba-relógio financeira - a outra é a dos juros - que montaram para nós, alegre e despreocupadamente, nos últimos anos do século passado?
Fazer uma campanha na internet para que os brasileiros consumam com um mínimo de consciência e boicotem produtos e serviços das empresas multinacionais que estão sangrando o país ?
Exigir que parte dessa fabulosa quantia fique no Brasil, onde poderia, não fosse a criminosa irresponsabilidade de quem vendeu a nação a preço de banana, estar gerando renda e emprego para milhões de brasileiros?
Por muito menos, quando se falou em taxar a remessa de lucros das multinacionais, os Estados Unidos promoveram e financiaram o Golpe Militar de 1964.
Criar grandes estatais brasileiras para conquistar ao menos uma parcela desse mercado e segurar parte desse dinheiro dentro do Brasil?
Isso seria um deus nos acuda! Basta ver a reação hidrófoba com que foi brindado o governo quando se falou em colocar a Telebras para trabalhar direto com o público na prestação de serviços de banda larga.
Emprestar dinheiro do BNDES para as empresas de capital nacional, para diminuir o tamanho da sangria?
Isso também não pode, como se viu no caso da OI. Atrapalha a “livre” concorrência. Para os “agentes” do “mercado”, o normal é o BNDES fazer o contrário: emprestar dinheiro para grupos estrangeiros comprarem nossas empresas dentro do Brasil.
O Governo, como sempre acontece, vai ser acusado de estar re-estatizando a economia e interferindo no mercado, como se, no mundo em que a China está prestes a dominar, as maiores empresas não fossem estatais, e cada país não defendesse, descaradamente, os interesses de seus grupos e marcas em seus mercados internos ou no exterior.
Como a questão é urgente – a Nação não agüenta um rombo maior do que esse no balanço de conta corrente no ano que vem - sugiro o caminho mais curto e mais contundente.
Se não for possível aplicar várias dessas saídas ao mesmo tempo, aproveitar a baixa das bolsas para a compra direta de participação nessas empresas, dentro ou fora do Brasil, usando recursos do fundo soberano ou das reservas internacionais, para recuperar ao menos uma parcela dos gigantescos recursos que estão nos seqüestrando, à base de quase 100 milhões de dólares a cada dia.
Não podemos continuar tirando dinheiro do bolso de milhões de brasileiros para sustentar, em Madrid ou Barcelona, a boa vida dos acionistas da Vivo ou as estripulias e as fraudes do Sr. Emilio Botin.Mauro Santayna
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sábado, 17 de setembro de 2011
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Guinada na política econômica
Carta Maior - Economia :
A decisão do Copom é o primeiro sinal de que o governo face à tendência de encolhimento da economia, juntamente com um cenário internacional desfavorável, resolveu fazer o que devia ter feito há muito tempo, que é tomar decisões macroeconômicas de forma integrada, olhando não apenas a inflação, mas também o câmbio e o crescimento econômico. Será uma guinada na política econômica, que tem tudo para fortalecer o governo e diferenciá-lo dos que o antecederam. O artigo é de Amir Khair.
Amir Khair (*)
A decisão do Banco Central (BC) de iniciar o processo de redução da Selic surpreendeu o mercado financeiro, que esperava que isso não fosse ocorrer neste ano apesar da crise internacional em processo contínuo de deterioração e a economia brasileira já sendo afetada, com quedas sistemáticas na taxa de crescimento. No início do ano era prevista em 5% e agora tende para 3%, com os resultados do PIB do 2º trimestre.
O mercado financeiro apostou suas fichas na tese do crescimento da inflação no País, o que faria com que o BC não reduziria a Selic, para conter a demanda. Essa análise peca, pois a Selic não controla a demanda. O que pode influenciá-la são as taxas de juros bancárias, que estão descoladas da Selic, podendo ser mais de dez vezes maior, como no caso do cheque especial de 188%, que é 17 (!) vezes a Selic.
Na China, por exemplo, a taxa básica de juros equivalente à Selic é de 3% e a cobrada pelos bancos ao consumo de 6%. Quando é alterada a taxa básica, repercute na taxa ao consumidor. Assim, a taxa básica tem eficácia no controle da demanda. Na quase totalidade dos países é isso que ocorre. Aqui temos essa jabuticaba de ter, por mais de uma década, as mais elevadas taxas de juros básica e bancária do mundo.
A análise do mercado financeiro peca, também, ao desconsiderar que a Selic influi significativamente sobre a decisão das empresas em investir, pois oferece aos investidores ganhos financeiros sem risco e com liquidez imediata, ao passo que investir num negócio tem baixa liquidez e riscos. Ao inibir investimentos, freia a ampliação da oferta, criando inflação futura.
Em síntese, a Selic em vez de atenuar a inflação a agrava. Mas o dano causado à economia é muito maior. Por ser elevada, a Selic causa um rombo gigantesco nas contas públicas.
Isso ocorre nos juros pagos pelo governo aos aplicadores em títulos do governo federal, que atinge cerca de 6% do PIB por ano e no custo de carregamento das reservas internacionais, que pelos dados do balanço do BC neste primeiro semestre, atingiu R$ 46,2 bilhões. Neste ano deverá ultrapassar R$ 100 bilhões!
Além desses danos, a Selic distorce o câmbio supervalorizando o real, criando rombo nas contas externas e desindustrialização ao tornar menos competitivas as empresas face à concorrência externa.
Apesar disso, ainda existem analistas que, usando o falso argumento do controle da inflação, querem que a Selic permaneça elevada. A inflação pode até permanecer em patamar acima da meta de 4,5% por um período prolongado devido aos preços internacionais dos alimentos em ascensão e da inflação de serviços, que pode alcançar 9% neste ano, mas a Selic não interfere nisso.
O BC usou a repercussão da crise internacional sobre a atividade no País como um dos argumentos para abaixar meio ponto na Selic. Mas o mercado financeiro e as consultorias dependentes dele usaram como argumento que a crise não é tão ameaçadora quanto a de 2008, com a quebra do Lehmon Brothers. Ou seja, seria necessária nova crise da intensidade da ocorrida em 2008, para o BC justificadamente reduzir a Selic!
A Selic reduzida para 12,0%, descontando a inflação prevista para os próximos doze meses, atinge 6,2%, que é mais do dobro (!) do segundo colocado, a Hungria, com 2,8%. A média para uma amostra representativa de 40 países está negativa em 0,8%. A Selic se caísse de 12% para 8,5% ainda seria a mais alta do mundo.
As taxas de juros transferem recursos do governo, no caso da Selic, e da sociedade, no caso dos juros bancários, para o sistema financeiro. Para reverter essa sangria o governo deve enfrentar o poderio do mercado financeiro, reduzindo a Selic ao nível internacional e limitando as taxas de juros e tarifas bancárias.
A decisão do Copom é o primeiro sinal de que o governo face à tendência de encolhimento da economia, juntamente com um cenário internacional desfavorável, resolveu fazer o que devia ter feito há muito tempo, que é tomar decisões macroeconômicas de forma integrada, olhando não apenas a inflação, mas também o câmbio e o crescimento econômico.
Dia 29 último o governo anunciou sua estratégia para enfrentar a crise internacional. Elevou o esforço fiscal em R$ 10 bilhões passando o superávit primário de R$ 81,8 bilhões para R$ 91,8 bilhões. Esses R$ 10 bilhões são de excesso de arrecadação. Não é o que as análises ortodoxas querem. Defendem a redução das despesas do governo para diminuir a demanda, o que permitiria ao BC reduzir a Selic. Mas, sob o ponto de vista macroeconômico uma elevação da receita pública tem o mesmo efeito que uma redução do mesmo montante na despesa.
Ao elevar o superávit primário o governo comprou, em parte, a tese do mercado financeiro de que a Selic só vai cair se houver melhor desempenho fiscal. É o contrário: a Selic caindo é que permite o maior e mais rápido desempenho fiscal.
A sinalização do governo de aperto fiscal pode ser a estratégia do possível tentando contornar o enfrentamento dos interesses do mercado financeiro de manter a Selic elevada. Na verdade, o mercado financeiro reagirá sempre à redução da Selic. É seu lucro em jogo.
Ao juntar controle da expansão das despesas de custeio com a redução das despesas com juros pela queda da Selic, o governo conseguirá notável desempenho fiscal, que será tanto melhor quanto maior for o crescimento econômico que repercute na arrecadação.
Resta ver se a manutenção da inflação a nível superior à meta de 4,5% não irá mudar a estratégia do governo. Os analistas ortodoxos estão apostando que a inflação mantida em níveis superiores à meta irá desacreditar o BC, forçando o governo a ceder.
Ao que tudo indica o governo joga uma cartada perigosa contra o mercado financeiro, mas não tem como recuar. Se persistir tem forte chance de reduzir a força do rentismo no País e criar os espaços fiscais necessários ao financiamento das suas atividades, como a da expansão das despesas com a saúde e educação.
Será uma guinada na política econômica, que tem tudo para fortalecer o governo e diferenciá-lo dos que o antecederam. Vamos aguardar.
(*) Mestre em Finanças públicas pela FGV e consultor.
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A decisão do Copom é o primeiro sinal de que o governo face à tendência de encolhimento da economia, juntamente com um cenário internacional desfavorável, resolveu fazer o que devia ter feito há muito tempo, que é tomar decisões macroeconômicas de forma integrada, olhando não apenas a inflação, mas também o câmbio e o crescimento econômico. Será uma guinada na política econômica, que tem tudo para fortalecer o governo e diferenciá-lo dos que o antecederam. O artigo é de Amir Khair.
Amir Khair (*)
A decisão do Banco Central (BC) de iniciar o processo de redução da Selic surpreendeu o mercado financeiro, que esperava que isso não fosse ocorrer neste ano apesar da crise internacional em processo contínuo de deterioração e a economia brasileira já sendo afetada, com quedas sistemáticas na taxa de crescimento. No início do ano era prevista em 5% e agora tende para 3%, com os resultados do PIB do 2º trimestre.
O mercado financeiro apostou suas fichas na tese do crescimento da inflação no País, o que faria com que o BC não reduziria a Selic, para conter a demanda. Essa análise peca, pois a Selic não controla a demanda. O que pode influenciá-la são as taxas de juros bancárias, que estão descoladas da Selic, podendo ser mais de dez vezes maior, como no caso do cheque especial de 188%, que é 17 (!) vezes a Selic.
Na China, por exemplo, a taxa básica de juros equivalente à Selic é de 3% e a cobrada pelos bancos ao consumo de 6%. Quando é alterada a taxa básica, repercute na taxa ao consumidor. Assim, a taxa básica tem eficácia no controle da demanda. Na quase totalidade dos países é isso que ocorre. Aqui temos essa jabuticaba de ter, por mais de uma década, as mais elevadas taxas de juros básica e bancária do mundo.
A análise do mercado financeiro peca, também, ao desconsiderar que a Selic influi significativamente sobre a decisão das empresas em investir, pois oferece aos investidores ganhos financeiros sem risco e com liquidez imediata, ao passo que investir num negócio tem baixa liquidez e riscos. Ao inibir investimentos, freia a ampliação da oferta, criando inflação futura.
Em síntese, a Selic em vez de atenuar a inflação a agrava. Mas o dano causado à economia é muito maior. Por ser elevada, a Selic causa um rombo gigantesco nas contas públicas.
Isso ocorre nos juros pagos pelo governo aos aplicadores em títulos do governo federal, que atinge cerca de 6% do PIB por ano e no custo de carregamento das reservas internacionais, que pelos dados do balanço do BC neste primeiro semestre, atingiu R$ 46,2 bilhões. Neste ano deverá ultrapassar R$ 100 bilhões!
Além desses danos, a Selic distorce o câmbio supervalorizando o real, criando rombo nas contas externas e desindustrialização ao tornar menos competitivas as empresas face à concorrência externa.
Apesar disso, ainda existem analistas que, usando o falso argumento do controle da inflação, querem que a Selic permaneça elevada. A inflação pode até permanecer em patamar acima da meta de 4,5% por um período prolongado devido aos preços internacionais dos alimentos em ascensão e da inflação de serviços, que pode alcançar 9% neste ano, mas a Selic não interfere nisso.
O BC usou a repercussão da crise internacional sobre a atividade no País como um dos argumentos para abaixar meio ponto na Selic. Mas o mercado financeiro e as consultorias dependentes dele usaram como argumento que a crise não é tão ameaçadora quanto a de 2008, com a quebra do Lehmon Brothers. Ou seja, seria necessária nova crise da intensidade da ocorrida em 2008, para o BC justificadamente reduzir a Selic!
A Selic reduzida para 12,0%, descontando a inflação prevista para os próximos doze meses, atinge 6,2%, que é mais do dobro (!) do segundo colocado, a Hungria, com 2,8%. A média para uma amostra representativa de 40 países está negativa em 0,8%. A Selic se caísse de 12% para 8,5% ainda seria a mais alta do mundo.
As taxas de juros transferem recursos do governo, no caso da Selic, e da sociedade, no caso dos juros bancários, para o sistema financeiro. Para reverter essa sangria o governo deve enfrentar o poderio do mercado financeiro, reduzindo a Selic ao nível internacional e limitando as taxas de juros e tarifas bancárias.
A decisão do Copom é o primeiro sinal de que o governo face à tendência de encolhimento da economia, juntamente com um cenário internacional desfavorável, resolveu fazer o que devia ter feito há muito tempo, que é tomar decisões macroeconômicas de forma integrada, olhando não apenas a inflação, mas também o câmbio e o crescimento econômico.
Dia 29 último o governo anunciou sua estratégia para enfrentar a crise internacional. Elevou o esforço fiscal em R$ 10 bilhões passando o superávit primário de R$ 81,8 bilhões para R$ 91,8 bilhões. Esses R$ 10 bilhões são de excesso de arrecadação. Não é o que as análises ortodoxas querem. Defendem a redução das despesas do governo para diminuir a demanda, o que permitiria ao BC reduzir a Selic. Mas, sob o ponto de vista macroeconômico uma elevação da receita pública tem o mesmo efeito que uma redução do mesmo montante na despesa.
Ao elevar o superávit primário o governo comprou, em parte, a tese do mercado financeiro de que a Selic só vai cair se houver melhor desempenho fiscal. É o contrário: a Selic caindo é que permite o maior e mais rápido desempenho fiscal.
A sinalização do governo de aperto fiscal pode ser a estratégia do possível tentando contornar o enfrentamento dos interesses do mercado financeiro de manter a Selic elevada. Na verdade, o mercado financeiro reagirá sempre à redução da Selic. É seu lucro em jogo.
Ao juntar controle da expansão das despesas de custeio com a redução das despesas com juros pela queda da Selic, o governo conseguirá notável desempenho fiscal, que será tanto melhor quanto maior for o crescimento econômico que repercute na arrecadação.
Resta ver se a manutenção da inflação a nível superior à meta de 4,5% não irá mudar a estratégia do governo. Os analistas ortodoxos estão apostando que a inflação mantida em níveis superiores à meta irá desacreditar o BC, forçando o governo a ceder.
Ao que tudo indica o governo joga uma cartada perigosa contra o mercado financeiro, mas não tem como recuar. Se persistir tem forte chance de reduzir a força do rentismo no País e criar os espaços fiscais necessários ao financiamento das suas atividades, como a da expansão das despesas com a saúde e educação.
Será uma guinada na política econômica, que tem tudo para fortalecer o governo e diferenciá-lo dos que o antecederam. Vamos aguardar.
(*) Mestre em Finanças públicas pela FGV e consultor.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Como derrotar gigantes
Blog da Cidadania:
Golias, o lendário gigante filisteu das escrituras bíblicas vivia desafiando o exército israelita a lhe enviar um contendor à altura. Reza a lenda que o descomunal guerreiro ostentava três metros de altura e vestia uma armadura de 50 quilos. Diante da supremacia desproporcional do desafiante, portanto, não havia quem ousasse enfrentá-lo.
Certo dia, porém, o desafio foi aceito por um jovem e franzino israelita, Davi, que derrotaria o monstruoso adversário em combate usando uma mera, porém certeira, funda. O jovem que se tornaria rei após vitória de tal monta se valeu não só da coragem, mas da crença em que nada ou ninguém é invencível.
Há quem acredite, até com certa razão, que a mídia corrupta e golpista que se abate sobre esta nação há décadas e mais décadas, é invencível. Não poderia ser derrotada também na internet porque aqui também continua gigantesca diante de blogs e sites que imaginam que podem derrotá-la neste novo campo de luta.
Penso diferente. O elefante, por exemplo, é descomunal. Seria o Golias das selvas. Todavia, se tentar atravessar um rio infestado de diminutas piranhas, sucumbirá. Pode demorar mais tempo para ser devorado, mas será. Juntos e em seu habitat natural, os peixes são invencíveis (?) por qualquer ser vivo.
Sim, a grande mídia construiu gigantescos portais de internet que atraem milhões de internautas enquanto que blogs como este não passam de milhares ou até dezenas de milhares. Com tal poder de divulgação – televisão, rádio, revistas, jornais, portais de internet –, a direita midiática conseguiu colocar algumas multidões nas ruas.
No Senado, ontem, o senador tucano Álvaro Dias deitou entusiasmada falação sobre os genéricos “movimentos contra corrupção” formados por alguns inocentes úteis e por outros nada inocentes, mas igualmente úteis à oposição demo-tucana e à mídia corrupta e golpista.
A prova da serventia que tais movimentos têm para grupos políticos apeados do poder central no início do século e mantidos fora dele até este limiar da segunda década do novo milênio reside – e se esconde – na euforia demo-tucano-midiática com eles.
Como, então, derrotar esses gigantescos impérios de comunicação? Ora, com o que pode ser usado como uma analogia para a funda de Davi ou para as piranhas que devoram o elefante. A blogosfera tanto pode ser a funda como os peixes carnívoros – a união, segundo dizem, faz a força.
Além disso, há que ver a qualidade dos manifestantes de lá e de cá. Para quem não sabe, há gente prometendo vir de Belo Horizonte, de Porto Alegre, de Curitiba, do Rio de Janeiro e até de Fortaleza e de Salvador para o Ato Contra a Corrupção da Mídia que ocorrerá em São Paulo no próximo sábado.
Gastarão dinheiro, viajarão horas, até, para se unirem em resposta à nova estratégia da direita midiática de pôr pessoas bem e mal-intencionadas nas ruas em atos que serão usados como “prova” de repúdio popular à “corrupção” do governo Dilma e do governo do ex-presidente Lula.
O movimento contra a corrupção da mídia foi desencadeado por um blog que logo se transformou em vários blogs e em exércitos de leitores que espalham a notícia de que haverá reação à ofensiva destro-midiática. É gente que dedica horas incontáveis para, sem ganhar nada, lutar contra essa elite que infelicita este país há 500 anos.
Eis a fórmula para matar o Golias midiático que pode até falar mais alto também na internet, mas que não fala mais sozinho. Antes da rede, jamais um representante comercial sem formação jornalística poderia se fazer ouvir por milhares de pessoas. O gigante ainda é descomunal, mas a funda de Davi está bem mais potente.
Para concluir, deixo o leitor com uma reflexão: não terá “Davi” logrado impor derrotas a “Golias” em 2002, em 2006 e no ano passado?
—–
Amigos leitores sugerem a redação de um documento-base sobre as razões dos atos públicos contra a corrupção da mídia que ocorrerão até o fim desta inesquecível semana. Será feito. A última contribuição que este blogueiro dará ao movimento em curso será compilar as idéias dos que aqui comentaram e propuseram.
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terça-feira, 13 de setembro de 2011
Nós, os imperialistas
Carta Maior - José Roberto Torero :
Há duas semanas a revista The Economist disse que o Brasil tem ocupado o espaço deixado pelos EUA na América do Sul. Ou seja, estamos nos tornando imperialistas. Pelo menos, imperialistas regionais. E podemos ver isso claramente no futebol. Paradoxalmente, talvez só venhamos a ser realmente um império no futebol quando derrubarmos nosso imperador.
José Roberto Torero
Vou começar citando a The Economist para parecer sério: há duas semanas a revista britânica disse que o Brasil tem ocupado o espaço deixado pelos Estados Unidos na América do Sul.
Ou seja, estamos nos tornando imperialistas. Pelo menos, imperialistas regionais.
E podemos ver isso claramente no futebol.
Atualmente, no Campeonato Brasileiro, temos mais de vinte jogadores estrangeiros.
Fazemos com o resto da América do Sul o que a Europa faz conosco, tirando-lhes bons e promissores jogadores. Do mesmo jeito que xingamos espanhóis e italianos por levarem nossos melhores atletas, nossos clubes devem estar sendo xingados por nossos hermanos.
Vejamos por exemplo o Internacional, que faz jus ao nome com os argentinos D´Alessandro, Guiñazu e Bolatti.
O Flamengo prefere os chilenos, e tem Maldonado e Fierro como volantes.
O Fluminense pode entrar com um meio de campo totalmente estrangeiro, escalando o colombiano Valencia, os argentinos Lanzini e Martinuccio, e o português Deco, nascido em São Bernardo do Campo.
Quanto ao Botafogo já entrou em algumas partidas com um ataque formado por Loco Abreu e Herrera.
O Atlético Paranaense fez a maior compra de sua história ao trazer o uruguaio Santiago Garcia, e neste fim de semana o equatoriano Guerrón fez o gol da vitória sobre o Flamengo.
O Cruzeiro tem um uruguaio (Victorino), dois argentinos (Montillo e Farias) e um paraguaio (Ortigoza). E o Galo, seu arqui-inimigo, no ano passado chegou a ter cinco jogadores importados ao mesmo tempo.
O chileno Valdívia está no Palmeiras (ou melhor, no Departamento Médico do Palmeiras), os laterais paraguaios Piris e Irrazábal estão no São Paulo e no Vasco, e Escudero e Miralles (mais dois argentinos) jogam no Grêmio.
Orgulho ou vergonha?
Agora, eu vos pergunto, caros leitores:
Devemos ter orgulho ou vergonha de importar tantos atletas? Isso mostra que estamos bem economicamente ou que nossos elencos estão enfraquecidos?
Devemos ter orgulho ou vergonha de vender nossos jogadores para a Europa? Isso mostra que temos o pé de obra mais valorizado do mundo ou que não conseguimos segurá-los aqui?
Na minha opinião, as respostas são orgulho e vergonha.
Devemos ter orgulho por trazer bons jogadores, o que deixa nosso campeonato melhor, com mais arte. E devemos ter vergonha por perder nossos atletas, pois assim vemos jogos piores e somos menos felizes. Só trazendo os melhores de lá e mantendo os melhores daqui conseguiremos realmente ser um império no futebol.
Pois, atualmente, somos um reles subimpério.
Nossos jogadores têm tirado seus passaportes numa velocidade impressionante. Alguns nem fazem dezoito anos e já estão com passagens compradas para Espanha, Itália, Inglaterra, França, Portugal e Alemanha. E, mais recentemente, também para Coreia, China e Leste europeu.
Além disso, acabamos ficando com os sul-americanos que ainda não tiveram destaque suficiente para saírem do continente. Somos apenas um entreposto. O argentino Conca, por exemplo, depois de seu ótimo 2010, trocou o Fluminense pelo Guangzhou Evergrande, da China.
Imperius Rex
Mas as coisas estão mudando. Não perdemos nenhum grande jogador na última janela de transferência. E na penúltima repatriamos Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Luís Fabiano. A valorização do real e uma pequena melhora no nível de nossos dirigentes de clubes está mudando o futebol brasileiro. Já não exportamos tanto e importamos cada vez mais.
Para que realmente nos tornemos um império, é preciso que todo o planeta veja nosso campeonato nacional. Temos que vender o show para bilhões de pessoas, e para isso temos que manter os artistas por aqui, o que se faz com competência e honestidade.
Paradoxalmente, talvez só venhamos a ser realmente um império quando derrubarmos nosso imperador.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
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Há duas semanas a revista The Economist disse que o Brasil tem ocupado o espaço deixado pelos EUA na América do Sul. Ou seja, estamos nos tornando imperialistas. Pelo menos, imperialistas regionais. E podemos ver isso claramente no futebol. Paradoxalmente, talvez só venhamos a ser realmente um império no futebol quando derrubarmos nosso imperador.
José Roberto Torero
Vou começar citando a The Economist para parecer sério: há duas semanas a revista britânica disse que o Brasil tem ocupado o espaço deixado pelos Estados Unidos na América do Sul.
Ou seja, estamos nos tornando imperialistas. Pelo menos, imperialistas regionais.
E podemos ver isso claramente no futebol.
Atualmente, no Campeonato Brasileiro, temos mais de vinte jogadores estrangeiros.
Fazemos com o resto da América do Sul o que a Europa faz conosco, tirando-lhes bons e promissores jogadores. Do mesmo jeito que xingamos espanhóis e italianos por levarem nossos melhores atletas, nossos clubes devem estar sendo xingados por nossos hermanos.
Vejamos por exemplo o Internacional, que faz jus ao nome com os argentinos D´Alessandro, Guiñazu e Bolatti.
O Flamengo prefere os chilenos, e tem Maldonado e Fierro como volantes.
O Fluminense pode entrar com um meio de campo totalmente estrangeiro, escalando o colombiano Valencia, os argentinos Lanzini e Martinuccio, e o português Deco, nascido em São Bernardo do Campo.
Quanto ao Botafogo já entrou em algumas partidas com um ataque formado por Loco Abreu e Herrera.
O Atlético Paranaense fez a maior compra de sua história ao trazer o uruguaio Santiago Garcia, e neste fim de semana o equatoriano Guerrón fez o gol da vitória sobre o Flamengo.
O Cruzeiro tem um uruguaio (Victorino), dois argentinos (Montillo e Farias) e um paraguaio (Ortigoza). E o Galo, seu arqui-inimigo, no ano passado chegou a ter cinco jogadores importados ao mesmo tempo.
O chileno Valdívia está no Palmeiras (ou melhor, no Departamento Médico do Palmeiras), os laterais paraguaios Piris e Irrazábal estão no São Paulo e no Vasco, e Escudero e Miralles (mais dois argentinos) jogam no Grêmio.
Orgulho ou vergonha?
Agora, eu vos pergunto, caros leitores:
Devemos ter orgulho ou vergonha de importar tantos atletas? Isso mostra que estamos bem economicamente ou que nossos elencos estão enfraquecidos?
Devemos ter orgulho ou vergonha de vender nossos jogadores para a Europa? Isso mostra que temos o pé de obra mais valorizado do mundo ou que não conseguimos segurá-los aqui?
Na minha opinião, as respostas são orgulho e vergonha.
Devemos ter orgulho por trazer bons jogadores, o que deixa nosso campeonato melhor, com mais arte. E devemos ter vergonha por perder nossos atletas, pois assim vemos jogos piores e somos menos felizes. Só trazendo os melhores de lá e mantendo os melhores daqui conseguiremos realmente ser um império no futebol.
Pois, atualmente, somos um reles subimpério.
Nossos jogadores têm tirado seus passaportes numa velocidade impressionante. Alguns nem fazem dezoito anos e já estão com passagens compradas para Espanha, Itália, Inglaterra, França, Portugal e Alemanha. E, mais recentemente, também para Coreia, China e Leste europeu.
Além disso, acabamos ficando com os sul-americanos que ainda não tiveram destaque suficiente para saírem do continente. Somos apenas um entreposto. O argentino Conca, por exemplo, depois de seu ótimo 2010, trocou o Fluminense pelo Guangzhou Evergrande, da China.
Imperius Rex
Mas as coisas estão mudando. Não perdemos nenhum grande jogador na última janela de transferência. E na penúltima repatriamos Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Luís Fabiano. A valorização do real e uma pequena melhora no nível de nossos dirigentes de clubes está mudando o futebol brasileiro. Já não exportamos tanto e importamos cada vez mais.
Para que realmente nos tornemos um império, é preciso que todo o planeta veja nosso campeonato nacional. Temos que vender o show para bilhões de pessoas, e para isso temos que manter os artistas por aqui, o que se faz com competência e honestidade.
Paradoxalmente, talvez só venhamos a ser realmente um império quando derrubarmos nosso imperador.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
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Torres gêmeas: a queda das mentiras
Carta Maior : Torres gêmeas: a queda das mentiras
O governo mais mentiroso na história dos Estados Unidos colocou sobre a mesa três informes para esclarecer o que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001. O que dizem é muito simples: esse dia foi realmente histórico porque se romperam as leis mais elementares da física. Mais de 1.500 engenheiros, arquitetos e físicos pedem uma nova investigação sobre o que ocorreu neste dia em Manhattan. O artigo é de Alejandro Nadal, do La Jornada.
Alejandro Nadal - La Jornada
Qualquer um que tenha dúvidas sobre o colapso das Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 conhece a síndrome. Seus conhecidos perguntarão invariavelmente: então você acredita na teoria da conspiração? E aqui é onde você não deve fraquejar. As dúvidas são sobre o “colapso”. Não se deve recuar nem um centímetro dessa questão: a queda das Torres Gêmeas e do arranha-céu WTC 7 (de 47 andares, que não foi atingido pelos aviões) não recebeu uma explicação adequada. É preciso não perder isso de vista. E as discussões sobre conspirações não ajudam em nada a esclarecer a forma e a velocidade do dito colapso.
Esse é o ponto central sobre o qual se concentra a análise dos membros da organização Arquitetos e Engenheiros pela Verdade do 9/11. Qualquer um pode examinar o volumoso expediente de provas reunido por essa organização em sua página na internet - www.ae911truth.org. Já são 1.549 engenheiros, arquitetos e físicos estadunidenses que assinaram uma petição pedindo uma investigação séria sobre o que ocorreu neste dia em Manhattan. Ninguém pode deixar de dar uma olhada no material desse portal.
Tudo isso merece uma explicação mais detalhada. Os aviões que foram lançados contra as Torres Gêmeas provocaram uma forte explosão e um grande incêndio. Os informes oficiais das agências estadunidenses se limitam a examinar o que ocorreu nos edifícios no período transcorrido entre o impacto dos aviões e o início do colapso. Uma vez iniciada a queda das torres os informes abandonam o relato.
Após falar do impacto e do incêndio, tudo se passa como se o tema tivesse sido esgotado e já não fosse necessário seguir a análise. Os informes do Instituto de Normatização e Tecnologia (NISTP), da Agência de Administração de Emergências (FEMA) e da Comissão Especial formada pelo então presidente Bush apresentam diferenças. Mas coincidem em que os incêndios não fundiram a estrutura de aço e que o impacto e o fogo debilitaram os suportes dos pisos diretamente afetados fazendo com que cedessem e provocando assim a queda dos edifícios. A sua explicação vai até aqui.
Mas o essencial é o seguinte: os informes não dizem nada sobre a forma em que se desenvolve o colapso das Torres Gêmeas ou do edifício WTC7. Entre outras coisas, não explicam por que os três edifícios caíram na velocidade de uma queda livre. A evidência das filmagens das três quedas é claríssima. Nos três casos, o colapso ocorre como se entre os pisos superiores e a planta baixa não houvesse nada que oferecesse resistência.
Isso é uma anomalia que surpreende qualquer arquiteto ou engenheiro. As estruturas de aço dos pisos inferiores são feitas para resistir e estavam intactas depois do impacto dos aviões. Elas tinham que oferecer resistência. Os informes especiais não dizem nada sobre isso.
Por outro lado, as duas Torres Gêmeas eram compostas de várias centenas de milhares de toneladas de concreto que foram pulverizadas na queda. Os engenheiros, físico e arquitetos que examinaram as evidências depois do colapso sabem bem que, se se lança um bloque de concreto de uma altura de cem andares, a única coisa que se consegue é que ele se despedace.
Mas não vai se pulverizar. Para isso, se requer uma fonte de energia adicional. Os pisos superiores poderiam comprimir e pulverizar o concreto dos pisos inferiores? A resposta é negativa: se os pisos superiores tivessem comprimido os pisos inferiores, provocando a pulverização, a queda não teria ocorrido a uma velocidade gravitacional.
Como foi eliminada a resistência dos pisos inferiores para permitir o colapso à velocidade de queda livre? De onde saiu a energia que permitiu pulverizar as centenas de milhares de toneladas de concreto das duas torres? Essas duas perguntas carecem de uma resposta oficial. Vários estudos sérios apontam em uma direção: explosivos.
Não se trata de explosivos convencionais, como os usados em qualquer demolição controlada. A análise de amostras de pó e de fragmentos das construções revela a presença de microesferas de ferro fundido e alumínio, que é um sinal de reações com o explosivo incendiário térmita. Vários estudos sobre amostras de poeira concluíram pela presença de estilhaços com compostos de nanotermita (partículas de óxido ferroso incrustradas em uma matriz rica em carbono). Tudo isso indica, segundo esses estudos, a presença de explosivos não convencionais nos acontecimentos do 11 de setembro, que poderiam ter eliminado a resistência dos pisos inferiores, explicando assim a velocidade de queda livre do colapso.
O governo mais mentiroso na história dos Estados Unidos colocou sobre a mesa três informes para esclarecer o que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001. O que dizem é muito simples: esse dia foi realmente histórico porque se romperam as leis mais elementares da física.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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O governo mais mentiroso na história dos Estados Unidos colocou sobre a mesa três informes para esclarecer o que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001. O que dizem é muito simples: esse dia foi realmente histórico porque se romperam as leis mais elementares da física. Mais de 1.500 engenheiros, arquitetos e físicos pedem uma nova investigação sobre o que ocorreu neste dia em Manhattan. O artigo é de Alejandro Nadal, do La Jornada.
Alejandro Nadal - La Jornada
Qualquer um que tenha dúvidas sobre o colapso das Torres Gêmeas no dia 11 de setembro de 2001 conhece a síndrome. Seus conhecidos perguntarão invariavelmente: então você acredita na teoria da conspiração? E aqui é onde você não deve fraquejar. As dúvidas são sobre o “colapso”. Não se deve recuar nem um centímetro dessa questão: a queda das Torres Gêmeas e do arranha-céu WTC 7 (de 47 andares, que não foi atingido pelos aviões) não recebeu uma explicação adequada. É preciso não perder isso de vista. E as discussões sobre conspirações não ajudam em nada a esclarecer a forma e a velocidade do dito colapso.
Esse é o ponto central sobre o qual se concentra a análise dos membros da organização Arquitetos e Engenheiros pela Verdade do 9/11. Qualquer um pode examinar o volumoso expediente de provas reunido por essa organização em sua página na internet - www.ae911truth.org. Já são 1.549 engenheiros, arquitetos e físicos estadunidenses que assinaram uma petição pedindo uma investigação séria sobre o que ocorreu neste dia em Manhattan. Ninguém pode deixar de dar uma olhada no material desse portal.
Tudo isso merece uma explicação mais detalhada. Os aviões que foram lançados contra as Torres Gêmeas provocaram uma forte explosão e um grande incêndio. Os informes oficiais das agências estadunidenses se limitam a examinar o que ocorreu nos edifícios no período transcorrido entre o impacto dos aviões e o início do colapso. Uma vez iniciada a queda das torres os informes abandonam o relato.
Após falar do impacto e do incêndio, tudo se passa como se o tema tivesse sido esgotado e já não fosse necessário seguir a análise. Os informes do Instituto de Normatização e Tecnologia (NISTP), da Agência de Administração de Emergências (FEMA) e da Comissão Especial formada pelo então presidente Bush apresentam diferenças. Mas coincidem em que os incêndios não fundiram a estrutura de aço e que o impacto e o fogo debilitaram os suportes dos pisos diretamente afetados fazendo com que cedessem e provocando assim a queda dos edifícios. A sua explicação vai até aqui.
Mas o essencial é o seguinte: os informes não dizem nada sobre a forma em que se desenvolve o colapso das Torres Gêmeas ou do edifício WTC7. Entre outras coisas, não explicam por que os três edifícios caíram na velocidade de uma queda livre. A evidência das filmagens das três quedas é claríssima. Nos três casos, o colapso ocorre como se entre os pisos superiores e a planta baixa não houvesse nada que oferecesse resistência.
Isso é uma anomalia que surpreende qualquer arquiteto ou engenheiro. As estruturas de aço dos pisos inferiores são feitas para resistir e estavam intactas depois do impacto dos aviões. Elas tinham que oferecer resistência. Os informes especiais não dizem nada sobre isso.
Por outro lado, as duas Torres Gêmeas eram compostas de várias centenas de milhares de toneladas de concreto que foram pulverizadas na queda. Os engenheiros, físico e arquitetos que examinaram as evidências depois do colapso sabem bem que, se se lança um bloque de concreto de uma altura de cem andares, a única coisa que se consegue é que ele se despedace.
Mas não vai se pulverizar. Para isso, se requer uma fonte de energia adicional. Os pisos superiores poderiam comprimir e pulverizar o concreto dos pisos inferiores? A resposta é negativa: se os pisos superiores tivessem comprimido os pisos inferiores, provocando a pulverização, a queda não teria ocorrido a uma velocidade gravitacional.
Como foi eliminada a resistência dos pisos inferiores para permitir o colapso à velocidade de queda livre? De onde saiu a energia que permitiu pulverizar as centenas de milhares de toneladas de concreto das duas torres? Essas duas perguntas carecem de uma resposta oficial. Vários estudos sérios apontam em uma direção: explosivos.
Não se trata de explosivos convencionais, como os usados em qualquer demolição controlada. A análise de amostras de pó e de fragmentos das construções revela a presença de microesferas de ferro fundido e alumínio, que é um sinal de reações com o explosivo incendiário térmita. Vários estudos sobre amostras de poeira concluíram pela presença de estilhaços com compostos de nanotermita (partículas de óxido ferroso incrustradas em uma matriz rica em carbono). Tudo isso indica, segundo esses estudos, a presença de explosivos não convencionais nos acontecimentos do 11 de setembro, que poderiam ter eliminado a resistência dos pisos inferiores, explicando assim a velocidade de queda livre do colapso.
O governo mais mentiroso na história dos Estados Unidos colocou sobre a mesa três informes para esclarecer o que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001. O que dizem é muito simples: esse dia foi realmente histórico porque se romperam as leis mais elementares da física.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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Havia alternativa? Chomsky revisita o 11 de Setembro
Carta Maior:
A resposta ao 11 de Setembro, um ataque maciço a uma população muçulmana, conduziu os Estados Unidos à 'armadilha diabólica' estendida por Bin Laden. O resultado foi que Washington continuou a ser o único aliado indispensável de Bin Laden, mesmo após a sua morte. Gastos militares grotescamente aumentados e dependência da dívida... pode ser o mais pernicioso legado do homem que pensou que poderia derrotar os Estados Unidos. O artigo é de Noam Chomsky.
Noam Chomsky
Estamos a aproximar-nos do 10º aniversário das horrendas atrocidades do 11 de setembro de 2001, que, como se diz habitualmente, mudaram o mundo. No dia 1° de Maio deste ano, o presumível mentor do crime, Osama Bin Laden, foi assassinado no Paquistão por um comando militar de elite dos EUA, os SEALs da Marinha, depois de ter sido capturado, desarmado e indefeso, na Operação Geronimo.
Uma série de analistas observaram que Bin Laden, apesar de ter sido finalmente morto, obteve importantes sucessos na sua guerra contra os EUA. “Ele afirmou muitas vezes que a única maneira de expulsar os EUA do mundo muçulmano e derrotar os seus sátrapas era atrair os americanos para uma série de pequenas mas caras guerras, que acabariam por arruiná-los”, escreve Eric Margolis. “'Sangrar os EUA', nas suas próprias palavras.
Os Estados Unidos, primeiro sob George W. Bush e depois sob Barack Obama, correram diretamente para a armadilha de Bin Laden... Gastos militares grotescamente aumentados e dependência da dívida... pode ser o mais pernicioso legado do homem que pensou que poderia derrotar os Estados Unidos” – particularmente quando a dívida está a ser cinicamente explorada pela extrema-direita, com a conivência do establishment democrata, para minar o que resta de programas sociais, de educação pública, de sindicatos, e, em geral, das restantes barreiras à tirania empresarial.
Logo se tornou evidente que Washington estava inclinado a realizar os mais fervorosos desejos de Bin Laden. Como discuti no meu livro “9-11”, escrito pouco depois da ocorrência dos ataques, qualquer um que conhecesse a região poderia reconhecer “que um ataque maciço a uma população muçulmana era a resposta às orações de Bin Laden e dos seus seguidores, e conduziria os Estados Unidos e os seus aliados a uma 'armadilha diabólica', nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros francês”.
O analista sênior da CIA responsável por perseguir Osama Bin Laden desde 1996, Michael Scheuer, escreveu pouco depois que “Bin Laden tem dito com precisão as razões que o levaram a desencadear a guerra contra nós. [Ele] pretende mudar de forma drástica as políticas dos EUA e do Ocidente em relação ao mundo islâmico”, e com um amplo sucesso: “As forças e as políticas dos EUA estão a provocar a radicalização do mundo islâmico, algo que Osama Bin Laden vem tentando fazer com sucesso substancial, mas incompleto, desde o início dos anos 90. O resultado, parece-me justo concluir, é que os Estados Unidos da América continuam a ser o único aliado indispensável de Bin Laden.” E possivelmente continuam a sê-lo, mesmo após a sua morte.
O primeiro 11/9
Havia uma alternativa? Há todas as probabilidades de que o movimento jihadista, muito do qual altamente crítico a Bin Laden, pudesse ter sido dividido e minado após o 11/9. O “crime contra a humanidade”, como era correctamente chamado, poderia ter sido abordado como um crime, com uma operação internacional para deter os presumíveis suspeitos. Na época esta ideia foi reconhecida, mas a sua execução sequer foi considerada.
Em “9-11”, citei a conclusão de Robert Fisk de que “o crime horrendo” de 11/9 foi cometido “com maldade e crueldade impressionante,” um juízo exato. É útil ter em mente que os crimes poderiam ter sido ainda piores. Suponham, por exemplo, que o ataque tivesse ido tão longe ao ponto de bombardear a Casa Branca, matando o presidente, de impor uma ditadura militar brutal que matasse milhares e torturasse dezenas de milhares, instalando ao mesmo tempo um centro de terror internacional que ajudasse a impor estados similares de tortura-e-terror noutros países, e executando uma campanha internacional de assassinato; e como um incentivo suplementar, tivesse trazido uma equipa de economistas – chamemos-lhes de “os Kandahar boys” – que rapidamente conduzissem a economia a uma das piores depressões da sua história. Claramente, teria sido muito pior do que o 11/9.
Infelizmente, nada disto é especulação. Aconteceu. A única inexatidão neste breve relato é que os números devem ser multiplicados por 25 para produzir equivalentes per capita, a medida apropriada. Refiro-me, naturalmente, àquilo que na América Latina é frequentemente chamado de “o primeiro 11/9”: o 11 de Setembro de 1973, quando os Estados Unidos culminaram com sucesso os seus esforços para derrubar o governo democrático de Salvador Allende, no Chile, com um golpe militar que levou ao poder o regime brutal do general Pinochet. O objetivo, nas palavras da administração Nixon, era matar o “vírus” que poderia estimular todos esses “estrangeiros [que] andam a querer tramar-nos” e que queriam assumir o controle dos seus próprios recursos e aplicar uma política intolerável de desenvolvimento independente. A apoiar esta política estava a conclusão do Conselho de Segurança Nacional que, se os EUA não conseguiam controlar a América Latina, não se podia esperar que conseguissem realizar a sua Ordem “em qualquer outro lugar no mundo.”
O primeiro 11/9, ao contrário do segundo, não mudou o mundo. Não era “nada de grandes consequências”, como garantiu Henry Kissinger ao seu chefe poucos dias depois.
Estes eventos de poucas consequências não se limitaram ao golpe militar que destruiu a democracia chilena e pôs em movimento a história de horror que se seguiu. O primeiro 11/9 foi apenas um ato de um drama que começou em 1962, quando John F. Kennedy alterou a missão dos militares latino-americanos de “defesa hemisférica” – um resquício anacrônico da Segunda Guerra Mundial – para a “segurança interna”, um conceito com uma interpretação arrepiante nos círculos latino-americanos dominados pelos EUA.
Na “História da Guerra Fria”, recentemente publicada pela Universidade de Cambridge, o acadêmico latino-americano John Coatsworth escreve que daquele tempo até “ao colapso soviético em 1990, o número de presos políticos, de vítimas de tortura, e de execuções de dissidentes políticos não violentos na América Latina excedeu amplamente os da União Soviética e seus satélites europeus do Leste,” incluindo também muitos mártires religiosos e massacres em massa, sempre apoiados ou iniciado em Washington. O último grande ato violento foi o assassinato brutal de seis importantes intelectuais latino-americanos, sacerdotes jesuítas, poucos dias depois da queda do Muro de Berlim. Os criminosos foram um batalhão de elite salvadorenho, que já tinha deixado um chocante rasto de sangue, recém saído de um treinamento na Escola de Guerra Especial JFK, que actua sob as ordens diretas do Alto Comando do estado cliente dos Estados Unidos.
Evidentemente, as consequências desta praga hemisférica ainda ecoam.
Dos raptos à tortura e ao assassinato
Tudo isto, e muitas coisas semelhantes, são desvalorizadas como sendo de pouca importância, e esquecidas. Aqueles cuja missão é governar o mundo desfrutam de uma imagem mais reconfortante, muito bem articulada na atual edição do prestigiado (e valioso) jornal do Royal Institute of International Affairs, em Londres. O artigo principal discute “a ordem internacional visionária” da “segunda metade do século XX” marcada pela “universalização de uma visão americana da prosperidade comercial”. Eis uma visão que não chega a exprimir a percepção daqueles que estão do lado errado das armas.
O mesmo vale para o assassinato de Osama Bin Laden, que põe fim, pelo menos, a uma fase da “guerra contra o terror” re-declarada pelo presidente George W. Bush no segundo 11/9. Façamos algumas reflexões sobre esse evento e o seu significado.
Em 1° maio de 2011, Osama Bin Laden foi morto na sua praticamente desprotegida residência por uma incursão de 79 SEALs da Marinha, que entraram no Paquistão de helicóptero. Depois de muitas histórias sensacionalistas fornecidas pelo governo e retiradas, os relatórios oficiais tornaram cada vez mais claro que a operação foi um assassinato planejado, violando multiplamente as normas elementares do direito internacional, começando com a invasão em si.
Não parece ter havido qualquer tentativa de deter a vítima desarmada, como presumivelmente poderia ter sido feito por 79 comandos que não enfrentaram oposição – excepto, relatam, da sua esposa, também desarmada, contra a qual dispararam em legítima defesa, quando ela “arremeteu” sobre eles, de acordo com a Casa Branca.
A reconstrução plausível dos acontecimentos foi feita pelo veterano correspondente no Oriente Médio, Yochi Dreazen, e colegas na revista Atlantic. Dreazen, ex-correspondente militar do Wall Street Journal, é correspondente sênior do Grupo National Journal, cobrindo assuntos militares e de segurança nacional. De acordo com a sua investigação, o planeamento da Casa Branca não parece ter considerado a opção de capturar Bin Laden vivo: “O governo deixou claro ao clandestino Comando Conjunto de Operações Especiais que queria Bin Laden morto, de acordo com uma autoridade sênior dos EUA que teve conhecimento das discussões. Um oficial de alta patente militar que foi informado do assalto disse que os SEALs sabiam que a sua missão não era levá-lo vivo.”
Os autores acrescentam: “Para muitos, no Pentágono e na CIA, que tinham passado quase uma década a caçar Bin Laden, matar o militante foi um ato necessário e justificado de vingança”. Além disso, “a captura de Bin Laden vivo teria também posto a administração diante de uma série de incômodos desafios jurídicos e políticos”. Melhor, então, assassiná-lo, deitar o corpo ao mar sem a autópsia considerada essencial depois de uma morte – um ato que previsivelmente provocou raiva e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Como observa a investigação da Atlantic: “A decisão de matar Bin Laden sem rodeios foi a ilustração mais clara até agora de um aspecto pouco notado da política de contra-terrorismo da administração Obama. O governo Bush capturou milhares de militantes suspeitos e enviou-os para campos de detenção no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo. A administração Obama, em contraste, tem-se concentrado em eliminar terroristas individuais em vez de tentar capurá-los vivos.” Trata-se de uma diferença significativa entre Bush e Obama. Os autores citam o ex-chanceler da Alemanha Ocidental Helmut Schmidt, que “disse à TV alemã que a invasão dos EUA foi 'muito claramente uma violação do direito internacional' e que Bin Laden deveria ter sido detido e levado a julgamento”, contrapondo Schmidt ao Procurador Geral dos EUA, Eric Holder, que “defendeu a decisão de matar Bin Laden, embora este não representasse uma ameaça imediata para os SEALs, dizendo a um painel da Câmara ... que o assalto tinha sido 'legal, legítimo e adequado em todos os sentidos'”.
A eliminação do corpo sem autópsia também foi criticada por aliados. O eminente advogado britânico Geoffrey Robertson, que apoiou a intervenção e se opôs à execução em grande parte por razões pragmáticas, considerou no entanto a afirmação de Obama de que “fora feita justiça” como um “absurdo”, o que deveria ser óbvio para um ex-professor de direito constitucional. A lei do Paquistão “exige um inquérito sobre a morte violenta e a legislação internacional de direitos humanos insiste que o 'direito à vida' obriga a um inquérito sempre que ocorre uma morte violenta por acção de um governo ou da polícia. Os EUA têm, portanto, o dever de realizar um inquérito que satisfaça o mundo quanto às verdadeiras circunstâncias desta morte.”
Robertson, a propósito, recorda-nos que “nem sempre foi assim. Quando chegou a hora de decidir o destino de homens muito mais mergulhados na maldade que Osama Bin Laden – a liderança nazi – o governo britânico queria que eles fossem enforcados seis horas após a captura. O presidente Truman hesitou, citando a conclusão de Robert Jackson, do Supremo Tribunal, que a execução sumária “não se sentaria facilmente na consciência americana nem seria lembrada pelos nossos filhos com orgulho... o único caminho é determinar a inocência ou culpa do acusado depois de uma audiência tão desapaixonada quanto os tempos permitam e após um registo que vai deixar claros as nossas razões e motivos”.
Eric Margolis comenta que “Washington nunca publicou provas da sua afirmação de que Osama bin Laden esteve por trás dos ataques do 11 de Setembro”, presumivelmente uma razão pela qual “as sondagens mostram que pelo menos um terço dos americanos que responderam acredita que o governo de Estados Unidos e/ou Israel estiveram por trás do 11 de Setembro”, enquanto no mundo muçulmano o ceticismo é muito mais alto. “Um julgamento aberto nos Estados Unidos ou em Haia teria exposto essas afirmações à luz do dia”, continua, razão prática pela qual Washington deveria ter seguido a lei.
Em sociedades que professam algum respeito pela lei, os suspeitos são detidos e levados a um julgamento justo. Sublinho "suspeitos". Em junho de 2002, o chefe do FBI Robert Mueller, no que o Washington Post descreveu como “entre os seus comentários públicos mais detalhados sobre a origem dos ataques”, pôde dizer apenas que “os investigadores crêem na ideia de que os ataques do 11 de Setembro ao World Trade Center e ao Pentágono vieram de líderes da Al Qaeda no Afeganistão, a maquinação efectiva foi feita na Alemanha, e o financiamento veio através dos Emirados Árabes Unidos a partir de fontes no Afeganistão.”
O que o FBI acreditou e pensou em junho de 2002 não o sabia oito meses antes, quando Washington repeliu ofertas provisórias dos Taliban (quão sérias, não sabemos) para permitir um novo julgamento de Bin Laden se lhes fossem apresentadas provas. Assim, não é verdade, como o presidente Obama afirmou nas suas declarações da Casa Branca depois da morte de Bin Laden, que “rapidamente soubemos que os ataques do 11 de Setembro foram executados pela Al-Qaeda.”
Nunca houve alguma razão para duvidar do que o FBI acreditou em meados de 2002, mas isto deixa-nos longe da prova da culpa requerida em sociedades civilizadas – e quaisquer que as provas fossem, não justificam o assassinato de um suspeito que, parece, teria sido facilmente detido e levado a julgamento. O mesmo é mais ou menos verdade quanto às provas fornecidas desde então. Assim, a Comissão do 11 de Setembro forneceu provas circunstanciais extensas do papel de Bin Laden no 11 de Setembro, baseando-se principalmente no que lhe tinha sido dito sobre confissões de presos de Guantánamo. É duvidoso que muito disso se sustivesse num julgamento independente, tendo em conta as maneiras como as confissões foram extraídas. Mas, em qualquer caso, as conclusões de uma investigação autorizada pelo Congresso, por muito convincentes que se possam achar, claramente ficariam aquém de uma sentença por um tribunal credível, que é o que passa a categoria do acusado de suspeito para condenado.
Fala-se muito da "confissão" de Bin Laden, mas aquilo foi uma fanfarronice, não uma confissão, com tanta credibilidade quanto a minha "confissão" de que ganhei a maratona de Boston. A fanfarronice diz-nos muito do seu caráter, mas nada da sua responsabilidade pelo que ele considerou como um grande feito, do qual quis ficar com o crédito.
De novo, tudo isso é, de forma transparente, bastante independente do nosso juízo sobre a sua responsabilidade, que pareceu clara imediatamente, mesmo antes do inquérito do FBI, e que ainda parece.
Crimes de Agressão
Vale a pena acrescentar que a responsabilidade de Bin Laden foi reconhecida na maior parte do mundo muçulmano e condenada. Um exemplo significativo é o do eminente clérigo libanês, xeique Fadlallah, muito respeitado em geral pelo Hezbollah e por grupos xiitas, também fora do Líbano. Ele tinha alguma experiência com assassinatos. Tinha sido visado para assassínio: por um caminhão-bomba fora duma mesquita, numa operação organizada pela CIA em 1985. Escapou, mas 80 outros foram mortos, na maior parte mulheres e meninas ao saírem da mesquita – um daqueles crimes inumeráveis que não entram para os anais do terror por causa da falácia “da agência errada.” O xeique Fadlallah condenou marcadamente os ataques do 11 de Setembro.
Um dos especialistas principais do movimento jihadista, Fawaz Gerges, sugere que o movimento poderia ter-se dividido, tivessem os Estados Unidos explorado a oportunidade, em vez de mobilizar o movimento, em particular com o ataque ao Iraque, um grande benefício para Bin Laden, que levou a um aumento acentuado do terror, como as agências de espionagem tinham antecipado. Nas audições Chilcot, ao investigar o contexto da invasão do Iraque, por exemplo, o antigo chefe da agência de informações internas britânica MI5 declarou que tanto a agência britânica como a dos Estados Unidos estavam conscientes de que Saddam não representava qualquer ameaça séria, que a invasão provavelmente aumentaria o terror e que as invasões do Iraque e do Afeganistão tiveram partes de uma geração radicalizada de muçulmanos que viram as acções militares como “um ataque ao Islão”. Como acontece muitas vezes, a segurança não foi uma prioridade alta para a acção do estado.
Poderia ser instrutivo perguntarmo-nos como estaríamos reagindo se comandos iraquianos tivessem aterrado no complexo militar de George W. Bush, o assassinassem e lançassem o corpo no Atlântico (depois dos rituais fúnebres devidos, naturalmente). Sem sombra de controvérsia, ele não era um "suspeito" mas sim o "decisor" que deu as ordens para invadir o Iraque – isto é, cometer “o crime internacional supremo que só se diferencia de outros crimes de guerra por conter dentro de si a maldade acumulada da totalidade” pelo qual os criminosos nazis foram enforcados: as centenas de milhares de mortes, os milhões de refugiados, a destruição da maior parte do país e do seu patrimônio nacional e o conflito sectário assassino que agora se estendeu ao resto da região. Igualmente de forma incontroversa, esses crimes excederam vastamente tudo o atribuído a Bin Laden.
Dizer que tudo isso é incontroverso, conforme é, não quer dizer que não seja negado. A existência de aplanadores da Terra não muda o fato de que, de forma incontroversa, a terra não é plana. De forma semelhante, é incontroverso que Stalin e Hitler foram responsáveis por crimes horrendos, embora os seus partidários o neguem. Tudo isto deveria, de novo, ser demasiado óbvio para ser comentado, e sê-lo-ia, excepto numa atmosfera de histeria tão extrema que bloqueasse o pensamento racional.
De forma semelhante, é incontroverso que Bush e seus parceiros cometeram mesmo o “crime internacional supremo” – o crime da agressão. Aquele crime foi definido de forma suficientemente clara pelo magistrado Robert Jackson, o Chefe do Conselho dos Estados Unidos em Nuremberga. "Um agressor", propôs Jackson ao Tribunal na sua declaração de abertura, é um estado que é o primeiro a cometer tais ações como a “invasão pelas suas forças armadas, com ou sem declaração da guerra, do território de outro estado”. Ninguém, nem mesmo o apoiante mais extremo da agressão, nega que Bush e parceiros fizeram precisamente isso.
Também faríamos bem em lembrar as palavras eloquentes de Jackson em Nuremberga sobre o princípio da universalidade: “Se certos atos na violação de tratados são crimes, são crimes sejam os Estados Unidos ou seja a Alemanha fazê-los e não estamos preparados para estabelecer uma regra da conduta criminal contra outros que não estivéssemos dispostos a ter invocado contra nós”.
É também claro que intenções anunciadas são irrelevantes, mesmo se nelas se acreditar verdadeiramente. Registos internos revelam que os fascistas japoneses aparentemente acreditaram que, ao assolar a China, se esforçavam por a converter “num paraíso terrestre”. E embora possa ser difícil imaginar, é concebível que Bush e companhia acreditassem que protegiam o mundo da destruição pelas armas nucleares de Saddam. Tudo irrelevante, embora partidários ardentes em todos os lados possam tentar convencer-se de outra coisa.
Deixam-nos duas escolhas: ou Bush e seus parceiros são culpados do “crime internacional supremo” incluindo de todos os males que se seguem, ou então declaramos que os processos de Nuremberga foram uma farsa e que os aliados eram culpados de assassinato judicial.
A Mentalidade Imperial e o 11 de Setembro
Alguns dias antes do assassinato de Bin Laden, Orlando Bosch morreu pacificamente na Flórida, onde viveu juntamente com o seu cúmplice Luis Posada Carriles e muitos outros parceiros do terrorismo internacional. Depois de ter sido acusado de dúzias de crimes terroristas pelo FBI, Bosch recebeu um perdão presidencial de Bush I, passando por cima das objecções do Departamento de Justiça que considerou a conclusão “inevitável de que seria prejudicial para o interesse público dos Estados Unidos fornecer um porto seguro a Bosch”. A coincidência dessas mortes imediatamente traz a doutrina de Bush II à lembrança – “já … uma regra de facto das relações internacionais”, segundo o notável especialista de relações internacional de Harvard Graham Allison – que renega “a soberania de estados que fornecem santuário a terroristas”.
Allison refere-se à declaração oficial de Bush II, dirigida aos Taliban, de que “aqueles que abrigam terroristas são tão culpados como os próprios terroristas”. Tais estados, portanto, perderam a sua soberania e são objectivos prontos para bombardeamento e terror – por exemplo, o estado que abrigou Bosch e o seu parceiro. Quando Bush emitiu esta nova “ regra de fato das relações internacionais,” ninguém pareceu notar que ele apelava à invasão e destruição dos Estados Unidos e ao assassínio dos seus presidentes criminosos.
Nada disto é problemático, claro, se rejeitarmos o princípio da universalidade do magistrado Jackson, e adotarmos antes o princípio de que os Estados Unidos são auto-imunes contra o direito internacional e as convenções – como, de fato, o governo tornou frequentemente muito claro.
Vale a pena também pensar no nome dado à operação de Bin Laden: Gerônimo. A mentalidade imperial é tão profunda que poucos parecem capazes de perceber que a Casa Branca está a glorificar Bin Laden chamando-lhe “Gerônimo” - o chefe índio apache que conduziu a resistência corajosa aos invasores das terras Apache.
A escolha descuidada do nome lembra a tranquilidade com que damos nomes às nossas armas de assassinato a partir das vítimas dos nossos crimes: Apache, Blackhawk [1]… Poderíamos reagir diferentemente se a Luftwaffe tivesse chamado aos seus aviões de combate "Judeu" e "Cigano".
Os exemplos mencionados caem dentro da categoria “excepcionalismo americano,” não fosse o facto de uma supressão fácil dos crimes próprios ser virtualmente ubíqua entre estados poderosos, pelo menos naqueles que não são derrotados e obrigados a reconhecer a realidade.
Talvez o assassinato tenha sido percebido pela administração como “um ato de vingança,” como Robertson conclui. E talvez a rejeição da opção legal de um julgamento reflicta uma diferença entre a cultura moral de 1945 e a de hoje, como ele sugere. Qualquer que fosse o motivo, dificilmente podia ter sido apenas a segurança. Como no caso de “crime internacional supremo” no Iraque, o assassinato de Bin Laden é outra ilustração do fato importante de que a segurança é muitas vezes não uma alta prioridade da ação do estado, ao contrário da doutrina que recebemos.
(*) Noam Chomsky é Professor emérito do Instituto no Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É autor de numerosas obras políticas de topo de vendas, incluindo “9-11: Was There an Alternative?” (Seven Stories Press), uma versão atualizada do seu relato clássico, que acaba de ser publicada esta semana juntamente com um novo ensaio destacado – a partir do qual este post foi adaptado – levando em conta os 10 anos desde os ataques do 11 de Setembro.
(**) Tradução de Luis Leiria e Paula Sequeiros para o Esquerda.net
A partir de texto publicado em Tom Dispatch
[1] NT: Blackhawk, líder guerreiro dos nativos Norte-Americanos Sauk que demonstrou ser um poderoso opositor dos invasores colonizadores ingleses
– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google
A resposta ao 11 de Setembro, um ataque maciço a uma população muçulmana, conduziu os Estados Unidos à 'armadilha diabólica' estendida por Bin Laden. O resultado foi que Washington continuou a ser o único aliado indispensável de Bin Laden, mesmo após a sua morte. Gastos militares grotescamente aumentados e dependência da dívida... pode ser o mais pernicioso legado do homem que pensou que poderia derrotar os Estados Unidos. O artigo é de Noam Chomsky.
Noam Chomsky
Estamos a aproximar-nos do 10º aniversário das horrendas atrocidades do 11 de setembro de 2001, que, como se diz habitualmente, mudaram o mundo. No dia 1° de Maio deste ano, o presumível mentor do crime, Osama Bin Laden, foi assassinado no Paquistão por um comando militar de elite dos EUA, os SEALs da Marinha, depois de ter sido capturado, desarmado e indefeso, na Operação Geronimo.
Uma série de analistas observaram que Bin Laden, apesar de ter sido finalmente morto, obteve importantes sucessos na sua guerra contra os EUA. “Ele afirmou muitas vezes que a única maneira de expulsar os EUA do mundo muçulmano e derrotar os seus sátrapas era atrair os americanos para uma série de pequenas mas caras guerras, que acabariam por arruiná-los”, escreve Eric Margolis. “'Sangrar os EUA', nas suas próprias palavras.
Os Estados Unidos, primeiro sob George W. Bush e depois sob Barack Obama, correram diretamente para a armadilha de Bin Laden... Gastos militares grotescamente aumentados e dependência da dívida... pode ser o mais pernicioso legado do homem que pensou que poderia derrotar os Estados Unidos” – particularmente quando a dívida está a ser cinicamente explorada pela extrema-direita, com a conivência do establishment democrata, para minar o que resta de programas sociais, de educação pública, de sindicatos, e, em geral, das restantes barreiras à tirania empresarial.
Logo se tornou evidente que Washington estava inclinado a realizar os mais fervorosos desejos de Bin Laden. Como discuti no meu livro “9-11”, escrito pouco depois da ocorrência dos ataques, qualquer um que conhecesse a região poderia reconhecer “que um ataque maciço a uma população muçulmana era a resposta às orações de Bin Laden e dos seus seguidores, e conduziria os Estados Unidos e os seus aliados a uma 'armadilha diabólica', nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros francês”.
O analista sênior da CIA responsável por perseguir Osama Bin Laden desde 1996, Michael Scheuer, escreveu pouco depois que “Bin Laden tem dito com precisão as razões que o levaram a desencadear a guerra contra nós. [Ele] pretende mudar de forma drástica as políticas dos EUA e do Ocidente em relação ao mundo islâmico”, e com um amplo sucesso: “As forças e as políticas dos EUA estão a provocar a radicalização do mundo islâmico, algo que Osama Bin Laden vem tentando fazer com sucesso substancial, mas incompleto, desde o início dos anos 90. O resultado, parece-me justo concluir, é que os Estados Unidos da América continuam a ser o único aliado indispensável de Bin Laden.” E possivelmente continuam a sê-lo, mesmo após a sua morte.
O primeiro 11/9
Havia uma alternativa? Há todas as probabilidades de que o movimento jihadista, muito do qual altamente crítico a Bin Laden, pudesse ter sido dividido e minado após o 11/9. O “crime contra a humanidade”, como era correctamente chamado, poderia ter sido abordado como um crime, com uma operação internacional para deter os presumíveis suspeitos. Na época esta ideia foi reconhecida, mas a sua execução sequer foi considerada.
Em “9-11”, citei a conclusão de Robert Fisk de que “o crime horrendo” de 11/9 foi cometido “com maldade e crueldade impressionante,” um juízo exato. É útil ter em mente que os crimes poderiam ter sido ainda piores. Suponham, por exemplo, que o ataque tivesse ido tão longe ao ponto de bombardear a Casa Branca, matando o presidente, de impor uma ditadura militar brutal que matasse milhares e torturasse dezenas de milhares, instalando ao mesmo tempo um centro de terror internacional que ajudasse a impor estados similares de tortura-e-terror noutros países, e executando uma campanha internacional de assassinato; e como um incentivo suplementar, tivesse trazido uma equipa de economistas – chamemos-lhes de “os Kandahar boys” – que rapidamente conduzissem a economia a uma das piores depressões da sua história. Claramente, teria sido muito pior do que o 11/9.
Infelizmente, nada disto é especulação. Aconteceu. A única inexatidão neste breve relato é que os números devem ser multiplicados por 25 para produzir equivalentes per capita, a medida apropriada. Refiro-me, naturalmente, àquilo que na América Latina é frequentemente chamado de “o primeiro 11/9”: o 11 de Setembro de 1973, quando os Estados Unidos culminaram com sucesso os seus esforços para derrubar o governo democrático de Salvador Allende, no Chile, com um golpe militar que levou ao poder o regime brutal do general Pinochet. O objetivo, nas palavras da administração Nixon, era matar o “vírus” que poderia estimular todos esses “estrangeiros [que] andam a querer tramar-nos” e que queriam assumir o controle dos seus próprios recursos e aplicar uma política intolerável de desenvolvimento independente. A apoiar esta política estava a conclusão do Conselho de Segurança Nacional que, se os EUA não conseguiam controlar a América Latina, não se podia esperar que conseguissem realizar a sua Ordem “em qualquer outro lugar no mundo.”
O primeiro 11/9, ao contrário do segundo, não mudou o mundo. Não era “nada de grandes consequências”, como garantiu Henry Kissinger ao seu chefe poucos dias depois.
Estes eventos de poucas consequências não se limitaram ao golpe militar que destruiu a democracia chilena e pôs em movimento a história de horror que se seguiu. O primeiro 11/9 foi apenas um ato de um drama que começou em 1962, quando John F. Kennedy alterou a missão dos militares latino-americanos de “defesa hemisférica” – um resquício anacrônico da Segunda Guerra Mundial – para a “segurança interna”, um conceito com uma interpretação arrepiante nos círculos latino-americanos dominados pelos EUA.
Na “História da Guerra Fria”, recentemente publicada pela Universidade de Cambridge, o acadêmico latino-americano John Coatsworth escreve que daquele tempo até “ao colapso soviético em 1990, o número de presos políticos, de vítimas de tortura, e de execuções de dissidentes políticos não violentos na América Latina excedeu amplamente os da União Soviética e seus satélites europeus do Leste,” incluindo também muitos mártires religiosos e massacres em massa, sempre apoiados ou iniciado em Washington. O último grande ato violento foi o assassinato brutal de seis importantes intelectuais latino-americanos, sacerdotes jesuítas, poucos dias depois da queda do Muro de Berlim. Os criminosos foram um batalhão de elite salvadorenho, que já tinha deixado um chocante rasto de sangue, recém saído de um treinamento na Escola de Guerra Especial JFK, que actua sob as ordens diretas do Alto Comando do estado cliente dos Estados Unidos.
Evidentemente, as consequências desta praga hemisférica ainda ecoam.
Dos raptos à tortura e ao assassinato
Tudo isto, e muitas coisas semelhantes, são desvalorizadas como sendo de pouca importância, e esquecidas. Aqueles cuja missão é governar o mundo desfrutam de uma imagem mais reconfortante, muito bem articulada na atual edição do prestigiado (e valioso) jornal do Royal Institute of International Affairs, em Londres. O artigo principal discute “a ordem internacional visionária” da “segunda metade do século XX” marcada pela “universalização de uma visão americana da prosperidade comercial”. Eis uma visão que não chega a exprimir a percepção daqueles que estão do lado errado das armas.
O mesmo vale para o assassinato de Osama Bin Laden, que põe fim, pelo menos, a uma fase da “guerra contra o terror” re-declarada pelo presidente George W. Bush no segundo 11/9. Façamos algumas reflexões sobre esse evento e o seu significado.
Em 1° maio de 2011, Osama Bin Laden foi morto na sua praticamente desprotegida residência por uma incursão de 79 SEALs da Marinha, que entraram no Paquistão de helicóptero. Depois de muitas histórias sensacionalistas fornecidas pelo governo e retiradas, os relatórios oficiais tornaram cada vez mais claro que a operação foi um assassinato planejado, violando multiplamente as normas elementares do direito internacional, começando com a invasão em si.
Não parece ter havido qualquer tentativa de deter a vítima desarmada, como presumivelmente poderia ter sido feito por 79 comandos que não enfrentaram oposição – excepto, relatam, da sua esposa, também desarmada, contra a qual dispararam em legítima defesa, quando ela “arremeteu” sobre eles, de acordo com a Casa Branca.
A reconstrução plausível dos acontecimentos foi feita pelo veterano correspondente no Oriente Médio, Yochi Dreazen, e colegas na revista Atlantic. Dreazen, ex-correspondente militar do Wall Street Journal, é correspondente sênior do Grupo National Journal, cobrindo assuntos militares e de segurança nacional. De acordo com a sua investigação, o planeamento da Casa Branca não parece ter considerado a opção de capturar Bin Laden vivo: “O governo deixou claro ao clandestino Comando Conjunto de Operações Especiais que queria Bin Laden morto, de acordo com uma autoridade sênior dos EUA que teve conhecimento das discussões. Um oficial de alta patente militar que foi informado do assalto disse que os SEALs sabiam que a sua missão não era levá-lo vivo.”
Os autores acrescentam: “Para muitos, no Pentágono e na CIA, que tinham passado quase uma década a caçar Bin Laden, matar o militante foi um ato necessário e justificado de vingança”. Além disso, “a captura de Bin Laden vivo teria também posto a administração diante de uma série de incômodos desafios jurídicos e políticos”. Melhor, então, assassiná-lo, deitar o corpo ao mar sem a autópsia considerada essencial depois de uma morte – um ato que previsivelmente provocou raiva e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.
Como observa a investigação da Atlantic: “A decisão de matar Bin Laden sem rodeios foi a ilustração mais clara até agora de um aspecto pouco notado da política de contra-terrorismo da administração Obama. O governo Bush capturou milhares de militantes suspeitos e enviou-os para campos de detenção no Afeganistão, no Iraque e na Baía de Guantánamo. A administração Obama, em contraste, tem-se concentrado em eliminar terroristas individuais em vez de tentar capurá-los vivos.” Trata-se de uma diferença significativa entre Bush e Obama. Os autores citam o ex-chanceler da Alemanha Ocidental Helmut Schmidt, que “disse à TV alemã que a invasão dos EUA foi 'muito claramente uma violação do direito internacional' e que Bin Laden deveria ter sido detido e levado a julgamento”, contrapondo Schmidt ao Procurador Geral dos EUA, Eric Holder, que “defendeu a decisão de matar Bin Laden, embora este não representasse uma ameaça imediata para os SEALs, dizendo a um painel da Câmara ... que o assalto tinha sido 'legal, legítimo e adequado em todos os sentidos'”.
A eliminação do corpo sem autópsia também foi criticada por aliados. O eminente advogado britânico Geoffrey Robertson, que apoiou a intervenção e se opôs à execução em grande parte por razões pragmáticas, considerou no entanto a afirmação de Obama de que “fora feita justiça” como um “absurdo”, o que deveria ser óbvio para um ex-professor de direito constitucional. A lei do Paquistão “exige um inquérito sobre a morte violenta e a legislação internacional de direitos humanos insiste que o 'direito à vida' obriga a um inquérito sempre que ocorre uma morte violenta por acção de um governo ou da polícia. Os EUA têm, portanto, o dever de realizar um inquérito que satisfaça o mundo quanto às verdadeiras circunstâncias desta morte.”
Robertson, a propósito, recorda-nos que “nem sempre foi assim. Quando chegou a hora de decidir o destino de homens muito mais mergulhados na maldade que Osama Bin Laden – a liderança nazi – o governo britânico queria que eles fossem enforcados seis horas após a captura. O presidente Truman hesitou, citando a conclusão de Robert Jackson, do Supremo Tribunal, que a execução sumária “não se sentaria facilmente na consciência americana nem seria lembrada pelos nossos filhos com orgulho... o único caminho é determinar a inocência ou culpa do acusado depois de uma audiência tão desapaixonada quanto os tempos permitam e após um registo que vai deixar claros as nossas razões e motivos”.
Eric Margolis comenta que “Washington nunca publicou provas da sua afirmação de que Osama bin Laden esteve por trás dos ataques do 11 de Setembro”, presumivelmente uma razão pela qual “as sondagens mostram que pelo menos um terço dos americanos que responderam acredita que o governo de Estados Unidos e/ou Israel estiveram por trás do 11 de Setembro”, enquanto no mundo muçulmano o ceticismo é muito mais alto. “Um julgamento aberto nos Estados Unidos ou em Haia teria exposto essas afirmações à luz do dia”, continua, razão prática pela qual Washington deveria ter seguido a lei.
Em sociedades que professam algum respeito pela lei, os suspeitos são detidos e levados a um julgamento justo. Sublinho "suspeitos". Em junho de 2002, o chefe do FBI Robert Mueller, no que o Washington Post descreveu como “entre os seus comentários públicos mais detalhados sobre a origem dos ataques”, pôde dizer apenas que “os investigadores crêem na ideia de que os ataques do 11 de Setembro ao World Trade Center e ao Pentágono vieram de líderes da Al Qaeda no Afeganistão, a maquinação efectiva foi feita na Alemanha, e o financiamento veio através dos Emirados Árabes Unidos a partir de fontes no Afeganistão.”
O que o FBI acreditou e pensou em junho de 2002 não o sabia oito meses antes, quando Washington repeliu ofertas provisórias dos Taliban (quão sérias, não sabemos) para permitir um novo julgamento de Bin Laden se lhes fossem apresentadas provas. Assim, não é verdade, como o presidente Obama afirmou nas suas declarações da Casa Branca depois da morte de Bin Laden, que “rapidamente soubemos que os ataques do 11 de Setembro foram executados pela Al-Qaeda.”
Nunca houve alguma razão para duvidar do que o FBI acreditou em meados de 2002, mas isto deixa-nos longe da prova da culpa requerida em sociedades civilizadas – e quaisquer que as provas fossem, não justificam o assassinato de um suspeito que, parece, teria sido facilmente detido e levado a julgamento. O mesmo é mais ou menos verdade quanto às provas fornecidas desde então. Assim, a Comissão do 11 de Setembro forneceu provas circunstanciais extensas do papel de Bin Laden no 11 de Setembro, baseando-se principalmente no que lhe tinha sido dito sobre confissões de presos de Guantánamo. É duvidoso que muito disso se sustivesse num julgamento independente, tendo em conta as maneiras como as confissões foram extraídas. Mas, em qualquer caso, as conclusões de uma investigação autorizada pelo Congresso, por muito convincentes que se possam achar, claramente ficariam aquém de uma sentença por um tribunal credível, que é o que passa a categoria do acusado de suspeito para condenado.
Fala-se muito da "confissão" de Bin Laden, mas aquilo foi uma fanfarronice, não uma confissão, com tanta credibilidade quanto a minha "confissão" de que ganhei a maratona de Boston. A fanfarronice diz-nos muito do seu caráter, mas nada da sua responsabilidade pelo que ele considerou como um grande feito, do qual quis ficar com o crédito.
De novo, tudo isso é, de forma transparente, bastante independente do nosso juízo sobre a sua responsabilidade, que pareceu clara imediatamente, mesmo antes do inquérito do FBI, e que ainda parece.
Crimes de Agressão
Vale a pena acrescentar que a responsabilidade de Bin Laden foi reconhecida na maior parte do mundo muçulmano e condenada. Um exemplo significativo é o do eminente clérigo libanês, xeique Fadlallah, muito respeitado em geral pelo Hezbollah e por grupos xiitas, também fora do Líbano. Ele tinha alguma experiência com assassinatos. Tinha sido visado para assassínio: por um caminhão-bomba fora duma mesquita, numa operação organizada pela CIA em 1985. Escapou, mas 80 outros foram mortos, na maior parte mulheres e meninas ao saírem da mesquita – um daqueles crimes inumeráveis que não entram para os anais do terror por causa da falácia “da agência errada.” O xeique Fadlallah condenou marcadamente os ataques do 11 de Setembro.
Um dos especialistas principais do movimento jihadista, Fawaz Gerges, sugere que o movimento poderia ter-se dividido, tivessem os Estados Unidos explorado a oportunidade, em vez de mobilizar o movimento, em particular com o ataque ao Iraque, um grande benefício para Bin Laden, que levou a um aumento acentuado do terror, como as agências de espionagem tinham antecipado. Nas audições Chilcot, ao investigar o contexto da invasão do Iraque, por exemplo, o antigo chefe da agência de informações internas britânica MI5 declarou que tanto a agência britânica como a dos Estados Unidos estavam conscientes de que Saddam não representava qualquer ameaça séria, que a invasão provavelmente aumentaria o terror e que as invasões do Iraque e do Afeganistão tiveram partes de uma geração radicalizada de muçulmanos que viram as acções militares como “um ataque ao Islão”. Como acontece muitas vezes, a segurança não foi uma prioridade alta para a acção do estado.
Poderia ser instrutivo perguntarmo-nos como estaríamos reagindo se comandos iraquianos tivessem aterrado no complexo militar de George W. Bush, o assassinassem e lançassem o corpo no Atlântico (depois dos rituais fúnebres devidos, naturalmente). Sem sombra de controvérsia, ele não era um "suspeito" mas sim o "decisor" que deu as ordens para invadir o Iraque – isto é, cometer “o crime internacional supremo que só se diferencia de outros crimes de guerra por conter dentro de si a maldade acumulada da totalidade” pelo qual os criminosos nazis foram enforcados: as centenas de milhares de mortes, os milhões de refugiados, a destruição da maior parte do país e do seu patrimônio nacional e o conflito sectário assassino que agora se estendeu ao resto da região. Igualmente de forma incontroversa, esses crimes excederam vastamente tudo o atribuído a Bin Laden.
Dizer que tudo isso é incontroverso, conforme é, não quer dizer que não seja negado. A existência de aplanadores da Terra não muda o fato de que, de forma incontroversa, a terra não é plana. De forma semelhante, é incontroverso que Stalin e Hitler foram responsáveis por crimes horrendos, embora os seus partidários o neguem. Tudo isto deveria, de novo, ser demasiado óbvio para ser comentado, e sê-lo-ia, excepto numa atmosfera de histeria tão extrema que bloqueasse o pensamento racional.
De forma semelhante, é incontroverso que Bush e seus parceiros cometeram mesmo o “crime internacional supremo” – o crime da agressão. Aquele crime foi definido de forma suficientemente clara pelo magistrado Robert Jackson, o Chefe do Conselho dos Estados Unidos em Nuremberga. "Um agressor", propôs Jackson ao Tribunal na sua declaração de abertura, é um estado que é o primeiro a cometer tais ações como a “invasão pelas suas forças armadas, com ou sem declaração da guerra, do território de outro estado”. Ninguém, nem mesmo o apoiante mais extremo da agressão, nega que Bush e parceiros fizeram precisamente isso.
Também faríamos bem em lembrar as palavras eloquentes de Jackson em Nuremberga sobre o princípio da universalidade: “Se certos atos na violação de tratados são crimes, são crimes sejam os Estados Unidos ou seja a Alemanha fazê-los e não estamos preparados para estabelecer uma regra da conduta criminal contra outros que não estivéssemos dispostos a ter invocado contra nós”.
É também claro que intenções anunciadas são irrelevantes, mesmo se nelas se acreditar verdadeiramente. Registos internos revelam que os fascistas japoneses aparentemente acreditaram que, ao assolar a China, se esforçavam por a converter “num paraíso terrestre”. E embora possa ser difícil imaginar, é concebível que Bush e companhia acreditassem que protegiam o mundo da destruição pelas armas nucleares de Saddam. Tudo irrelevante, embora partidários ardentes em todos os lados possam tentar convencer-se de outra coisa.
Deixam-nos duas escolhas: ou Bush e seus parceiros são culpados do “crime internacional supremo” incluindo de todos os males que se seguem, ou então declaramos que os processos de Nuremberga foram uma farsa e que os aliados eram culpados de assassinato judicial.
A Mentalidade Imperial e o 11 de Setembro
Alguns dias antes do assassinato de Bin Laden, Orlando Bosch morreu pacificamente na Flórida, onde viveu juntamente com o seu cúmplice Luis Posada Carriles e muitos outros parceiros do terrorismo internacional. Depois de ter sido acusado de dúzias de crimes terroristas pelo FBI, Bosch recebeu um perdão presidencial de Bush I, passando por cima das objecções do Departamento de Justiça que considerou a conclusão “inevitável de que seria prejudicial para o interesse público dos Estados Unidos fornecer um porto seguro a Bosch”. A coincidência dessas mortes imediatamente traz a doutrina de Bush II à lembrança – “já … uma regra de facto das relações internacionais”, segundo o notável especialista de relações internacional de Harvard Graham Allison – que renega “a soberania de estados que fornecem santuário a terroristas”.
Allison refere-se à declaração oficial de Bush II, dirigida aos Taliban, de que “aqueles que abrigam terroristas são tão culpados como os próprios terroristas”. Tais estados, portanto, perderam a sua soberania e são objectivos prontos para bombardeamento e terror – por exemplo, o estado que abrigou Bosch e o seu parceiro. Quando Bush emitiu esta nova “ regra de fato das relações internacionais,” ninguém pareceu notar que ele apelava à invasão e destruição dos Estados Unidos e ao assassínio dos seus presidentes criminosos.
Nada disto é problemático, claro, se rejeitarmos o princípio da universalidade do magistrado Jackson, e adotarmos antes o princípio de que os Estados Unidos são auto-imunes contra o direito internacional e as convenções – como, de fato, o governo tornou frequentemente muito claro.
Vale a pena também pensar no nome dado à operação de Bin Laden: Gerônimo. A mentalidade imperial é tão profunda que poucos parecem capazes de perceber que a Casa Branca está a glorificar Bin Laden chamando-lhe “Gerônimo” - o chefe índio apache que conduziu a resistência corajosa aos invasores das terras Apache.
A escolha descuidada do nome lembra a tranquilidade com que damos nomes às nossas armas de assassinato a partir das vítimas dos nossos crimes: Apache, Blackhawk [1]… Poderíamos reagir diferentemente se a Luftwaffe tivesse chamado aos seus aviões de combate "Judeu" e "Cigano".
Os exemplos mencionados caem dentro da categoria “excepcionalismo americano,” não fosse o facto de uma supressão fácil dos crimes próprios ser virtualmente ubíqua entre estados poderosos, pelo menos naqueles que não são derrotados e obrigados a reconhecer a realidade.
Talvez o assassinato tenha sido percebido pela administração como “um ato de vingança,” como Robertson conclui. E talvez a rejeição da opção legal de um julgamento reflicta uma diferença entre a cultura moral de 1945 e a de hoje, como ele sugere. Qualquer que fosse o motivo, dificilmente podia ter sido apenas a segurança. Como no caso de “crime internacional supremo” no Iraque, o assassinato de Bin Laden é outra ilustração do fato importante de que a segurança é muitas vezes não uma alta prioridade da ação do estado, ao contrário da doutrina que recebemos.
(*) Noam Chomsky é Professor emérito do Instituto no Departamento de Linguística e Filosofia do MIT. É autor de numerosas obras políticas de topo de vendas, incluindo “9-11: Was There an Alternative?” (Seven Stories Press), uma versão atualizada do seu relato clássico, que acaba de ser publicada esta semana juntamente com um novo ensaio destacado – a partir do qual este post foi adaptado – levando em conta os 10 anos desde os ataques do 11 de Setembro.
(**) Tradução de Luis Leiria e Paula Sequeiros para o Esquerda.net
A partir de texto publicado em Tom Dispatch
[1] NT: Blackhawk, líder guerreiro dos nativos Norte-Americanos Sauk que demonstrou ser um poderoso opositor dos invasores colonizadores ingleses
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segunda-feira, 12 de setembro de 2011
JORNALISTAS NÃO SÃO PROPRIEDADES DOS JORNAIS
JORNALISTAS NÃO SÃO PROPRIEDADES DOS JORNAIS:
Postado por Cláudio Camargo
Reproduzo postagem de Leandro Fortes para um debate extremamente necessário e urgente sobre a condição do jornalista em tempos de monopólio da grande mídia e confusão entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa.
Jornalistas interditados
Por Leandro Fortes, no Brasília, eu vi
"As relações arcaicas que ainda prevalecem nas redações brasileiras, sobretudo naquelas ancoradas nos oligopólios familiares de mídia, revelam um terrível processo de adaptação às novas tecnologias no qual, embora as empresas usufruam largamente de suas interfaces comerciais, estabeleceu-se um padrão de interdição ideológica dos jornalistas. Isso significa que a adequação de rotinas e produtos da mídia ao que há de mais moderno e inovador no mercado de informática tem, simplesmente, servido para coibir e neutralizar a natureza política da atividade jornalística no Brasil.
Baseados na falsa noção de que o jornalista deve ser isento, as grandes empresas de comunicação criaram normas internas cada vez mais rígidas para impedir a livre manifestação dos jornalistas nas redes sociais e, assim, evitar o vazamento do clima sufocante e autoritário que por muitas vezes permeia o universo trabalhista da mídia. Em suma, a opinião dos jornalistas e, por analogia, sua função crítica social, está sendo interditada.
Recentemente, a ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, opinou que jornalista não deveria ter Twitter pessoal. Usou como argumento o fato de que, ao tuitar algo “ofensivo”, o jornalista corre o risco de, mais para frente, ter que entrevistar o ofendido. A preocupação da ombudsman tem certa legitimidade funcional, mas é um desses absurdos sobre os quais me sinto obrigado a, de vez em quando, me debruçar, nem que seja para garantir o mínimo de dissociação entre a profissão, que tem caráter universal, e os guetos corporativos onde, desde os anos 1980, um sem número de manuais de redação passaram a ditar todo tipo de norma, inclusive comportamental, sobretudo para os repórteres.
Suzana Singer deu um exemplo prosaico, desses com enorme potencial para servir de case em cursinhos de formação de monstrinhos corporativos que pululam nas redações: ‘Hoje o jornalista pode estar em um churrasco, com os amigos, e ser ofensivo com os palmeirenses porque eles ganharam o jogo de domingo. E na semana seguinte ele tem que ir entrevistar o presidente do Palmeiras. Ou seja, é uma situação muito desagradável, que poderia ter sido evitada se o repórter tivesse a postura adequada de não misturar as coisas. Não tem como ter dupla personalidade, separar a sua vida pessoal da profissional, assim como não dá para ter duas contas no twitter’.
Bom, primeiro é preciso esclarecer duas coisas, principalmente para os leitores desse blog que não são jornalistas: é possível, sim, separar a vida pessoal da profissional; e, claro, dá para ter duas contas no twitter. Essa história de que jornalista tem que ser jornalista 24 horas é a base do sistema de exploração trabalhista que obriga repórteres, em todo o Brasil, a trabalhar sem hora extra, ser incomodado nas férias e interrompido nos fins de semana, como se fossem cirurgiões de guerra. Também é responsável, na outra ponta, por estimular jornalistas que se tornam escravos de si mesmo, ao ponto de, mesmo em festas de crianças e batizados de bonecas, passarem todo tempo molestando alguma fonte infeliz que calhou de freqüentar o mesmo espaço.
A interdição imposta aos jornalistas pelas empresas de comunicação tem servido, entre outras coisas, para a despolitização das novas gerações de repórteres, instadas a acreditar que são meros repassadores de notícias e tarefeiros de redações. Desse triste amálgama é que surgem esses monstrinhos entusiasmados com teses fascistas, bajuladoras profissionais e bestas-feras arremessados sobre o cotidiano como cães raivosos, com carta branca para fazer, literalmente, qualquer coisa.
Não causa mais estranheza, mas é sempre bom expor o paradoxo dessa posição da ombudsman, que não é só dela, mas do sistema na qual ela está inevitavelmente inserida, desde que o pensamento reacionário e de direita passou a ser bússola fundamental da imprensa brasileira. Digo paradoxo porque o mesmo patronato que confunde, deliberadamente, liberdade de expressão com liberdade de imprensa, para evitar a regulação formal da atividade midiática, é esse que baixa norma sobre norma para impedir seus funcionários de se manifestarem no ambiente de total liberdade das redes sociais, notadamente o Twitter e o Facebook. Não o fazem, contudo, por zelo profissional.
Essa interdição visa, basicamente, evitar que os jornalistas opinem, publicamente, sobre a própria rotina e, assim, exponham as mazelas internas das corporações de mídia. Ou que expressem opiniões contrárias à de seus patrões. Foi assim, por exemplo, no caso da bolinha de papel na cabeça de José Serra, na campanha de 2010. Aquela farsa ridícula foi encampada, sem nenhum respeito ao cidadão consumidor de notícia, por quase toda a imprensa, por imposição editorial. Diversos colegas jornalistas, alguns que sequer conheço, me mandaram mensagens (um me abordou numa livraria de Brasília) implorando para que eu tratasse do assunto nas redes sociais. Todos me informaram que seriam demitidos sumariamente se contestassem, no Twitter e no Facebook, a tese patética do segundo ataque com um rolo de fita crepe. Todos, sem exceção.
O jornalista Claudio Abramo |
A ética do jornalista é a ética do cidadão, dizia um grande jornalista brasileiro, Cláudio Abramo, aliás, responsável pela modernização de O Estado de S. Paulo e da Folha, nos anos 1960 e 1970. Portanto, nada mais natural que tenha o jornalista os mesmos direitos do cidadão, aí incluído o de se expressar. Impedi-lo, sob um argumento funcional, de exercer seu direito de opinião e crítica é, no fim das contas, mais um desses sinais de decadência moral da mídia brasileira. E, claro, retrato fiel do que ela se tornou nos últimos anos."
Postado por Cláudio Camargo
11 de setembro e o papel da mídia
11 de setembro e o papel da mídia: Por Altamiro Borges
Os bárbaros atentados de 11 de setembro de 2001 continuam gerando intensas polêmicas. Há divergências sobre as suas causas e sobre a resposta dos EUA. Há suspeitas, até, sobre a postura de George W. Bush. Infelizmente, porém, pouco se fala sobre o papel que a mídia desempenhou neste episódio que abalou o mundo. Na verdade, a mídia prefere evitar este tema tão constrangedor.
Os atentados confirmaram a tese de que os impérios midiáticos servem aos interesses políticos e econômicos da classe dominante. Como já ensinou o marxista Antonio Gramsci, nos momentos de crise e tensão, a imprensa desempenha o papel de partido do capital. Ou, segundo a máxima do senador ianque Hiram Johnson, “a primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade”.
A máquina de propaganda da guerra
A ligação entre as corporações midiáticas e as potências capitalistas ficou patente na difusão acrítica das mentiras de George Bush sobre os atentados e na cobertura amplamente favorável à posterior invasão e genocídio no Iraque e Afeganistão. A mídia virou uma poderosa máquina de propaganda da “guerra ao terror” desencadeada pelo governo terrorista dos EUA.
A Fox, do mafioso Rupert Murdoch, foi a mais agressiva no apoio. Ela chegou fazer campanha de boicote aos produtos franceses em repúdio ao governo deste país que criticou a “guerra”. Já a CNN abandonou seu falso ecletismo. No primeiro dia da ocupação, ela introduziu a vinheta “começou a libertação” e criou um sistema de script approval (aprovação do original), censurando seus repórteres. Oficiais militares, muitos deles ligados às empresas contratadas pelo governo do EUA – como a firma de mercenários Blackwater – foram usados como “articulistas” pelas TVs.
Caiu a máscara dos “independentes”
Nas rádios, a retórica belicista foi descarada. A principal emissora comercial dos EUA, a Clear Channel Wordwide, convocou manifestações favoráveis à invasão e orientou suas 1.200 estações filiadas em 50 estados a não transmitir música de protesto e a atacar os ativistas da paz, rotulados de “comunistas e antiamericanos”.
Em Atlanta, um radialista esbravejou: “Estamos rodeados de loucos, de mulheres que não raspam as axilas e de lésbicas”. Já na mídia impressa, caiu a máscara de muitos jornais e colunistas “independentes”. Não foram apenas os veículos ligados aos neocons, como o Washington Times, da seita Moon, ou o New York Post, de Murdoch, que reforçaram a onda belicista. O Washington Post e o New York Times também verteram sangue.
Mídia se dobra à histeria belicista
Da mesma forma como já ocultara os efeitos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a mídia silenciou sobre o genocídio de quase um milhão de iraquianos, num dos piores capítulos de sua história. Segundo o jornalista Argemiro Ferreira, no livro O império contra-ataca, a mídia “desistiu de qualquer resistência, ainda que tímida, à histeria belicista do governo Bush”.
Antes mesmo da invasão, “a grande maioria da mídia, liderada pelos excessos patrioteiros do magnata Rupert Murdoch, já estava quase totalmente dedicada ao papel de veiculadora passiva da propaganda bélica... Nenhum dos grandes veículos achou que deveria cumprir o dever primário de checar as supostas provas levadas à ONU – fantasiosas e fraudadas. Foi, enfim, um capítulo à altura da nossa mídia tupiniquim ao tempo da ditadura”.
A promíscua relação com o poder
No auge da histeria estadunidense, a mídia chegou a justificar as piores atrocidades do governo – o que também lembra o Brasil. Num artigo intitulado “É hora de pensar a tortura”, o articulista Jonathan Alter, da revista semanal Newsweek, escreveu: “É um mundo novo e a sobrevivência pode muito bem requerer velhas técnicas que estavam fora de questão”.
O jornal The Wall Street publicou o editorial “A segurança vem antes da liberdade”. Já na revista eletrônica Slate, Dahlia Lithwick escreveu que “torturar terroristas e os seus asseclas para obter informações é algo que funciona”. Na CNN, o comentarista Tucker Carlson afirmou que “a tortura é ruim. Mas algumas coisas são piores. E, em determinadas circunstancias, ela pode ser o menor dos dois males”.
935 mentiras difundidas como verdades
As mentiras plantadas pelo presidente-terrorista George Bush – segundo recente estudo, um total de 935 [19] – foram difundidas no mundo como verdades absolutas pela mídia. Entre outras, a de que o Iraque teria armas de destruição em massa (ADM), de que Saddam Hussein seria aliado da Al-Qaeda e que teria planejado os atentados de 11 de setembro.
Poucos veículos ou jornalistas se indignaram diante destes absurdos repetidos à exaustão. Robert Fisk, veterano correspondente de guerra, foi rotulado de “inocente útil de Saddam” pelo secretário britânico de Defesa, Geoff Honn, após mostrar que as “bombas inteligentes” atingiram um mercado em Bagdá, matando 62 civis.
Censura e perseguições de jornalistas
A censura imperou nos EUA sem que nenhum veículo defendesse a “liberdade de imprensa”. A MSNBC cancelou o programa de Phil Donahue, acusando-o de entrevistar ‘pessoas que estão contra a guerra e o presidente Bush’. O jornalista Brent Flynn, do Lewisville Leader, foi proibido de redigir sua coluna. Já o repórter Kurt Kauglie, do Michigan’Hurón Daily Tribune, pediu demissão após seu editor vetar um artigo crítico.
A página eletrônica Yellow Times foi retirada da internet após exibir imagens de prisioneiros de guerra e de vítimas civis iraquianas. O servidor que hospedava o sítio alegou que “nenhum canal de TV dos EUA permite a emissão dessas imagens”. O famoso correspondente de guerra Peter Arnett foi demitido da emissora NBC depois de conceder uma entrevista à televisão iraquiana, criticando a estratégia militar dos EUA [20].
Pentágono monitora os veículos
A manipulação midiática, que iludiu milhões de pessoas no planeta, foi monitorada diretamente pelo Pentágono, como atesta o documento “Mapa do caminho sobre operações de informação”, assinado pelo secretário de Defesa Donald Rumsfeld. Ele deixa explícito que não haveria limites na guerra de propaganda e que seriam lançadas inúmeras “operações psicológicas” (psy-ops, em inglês).
Entre outras medidas, o plano previa “a manipulação do pensamento do adversário” e “o ataque às redes de comunicação do inimigo”. “Devemos melhorar a nossa capacidade de ataque eletromagnético... As mensagens das psy-ops serão difundidas com freqüência pelos meios de comunicação para as maiores audiências, incluindo o público norte-americano”.
Escritório de Influência Estratégica
Antes mesmo da invasão, o New York Times informou que o Escritório de Influência Estratégica (OSI) do Pentágono desenvolvera “planos para fornecer informações, possivelmente até algumas falsas, para meios de comunicação estrangeiros no esforço para influenciar o sentimento público e os formuladores de políticas tanto em países aliados como inimigos”.
Oficiais do 4º Esquadrão de Fort Bragg, especializados em operações psicológicas, trabalharam diretamente nas sedes da CNN e da AOL, adestrando jornalistas. O coronel Christopher John, comandante do 4º Esquadrão, defendeu “a maior cooperação entre as Forças Armadas e os gigantes da mídia”. A mídia participou, “de maneira orgânica”, na campanha de informação e contra-informação.
Os bárbaros atentados de 11 de setembro de 2001 continuam gerando intensas polêmicas. Há divergências sobre as suas causas e sobre a resposta dos EUA. Há suspeitas, até, sobre a postura de George W. Bush. Infelizmente, porém, pouco se fala sobre o papel que a mídia desempenhou neste episódio que abalou o mundo. Na verdade, a mídia prefere evitar este tema tão constrangedor.
Os atentados confirmaram a tese de que os impérios midiáticos servem aos interesses políticos e econômicos da classe dominante. Como já ensinou o marxista Antonio Gramsci, nos momentos de crise e tensão, a imprensa desempenha o papel de partido do capital. Ou, segundo a máxima do senador ianque Hiram Johnson, “a primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade”.
A máquina de propaganda da guerra
A ligação entre as corporações midiáticas e as potências capitalistas ficou patente na difusão acrítica das mentiras de George Bush sobre os atentados e na cobertura amplamente favorável à posterior invasão e genocídio no Iraque e Afeganistão. A mídia virou uma poderosa máquina de propaganda da “guerra ao terror” desencadeada pelo governo terrorista dos EUA.
A Fox, do mafioso Rupert Murdoch, foi a mais agressiva no apoio. Ela chegou fazer campanha de boicote aos produtos franceses em repúdio ao governo deste país que criticou a “guerra”. Já a CNN abandonou seu falso ecletismo. No primeiro dia da ocupação, ela introduziu a vinheta “começou a libertação” e criou um sistema de script approval (aprovação do original), censurando seus repórteres. Oficiais militares, muitos deles ligados às empresas contratadas pelo governo do EUA – como a firma de mercenários Blackwater – foram usados como “articulistas” pelas TVs.
Caiu a máscara dos “independentes”
Nas rádios, a retórica belicista foi descarada. A principal emissora comercial dos EUA, a Clear Channel Wordwide, convocou manifestações favoráveis à invasão e orientou suas 1.200 estações filiadas em 50 estados a não transmitir música de protesto e a atacar os ativistas da paz, rotulados de “comunistas e antiamericanos”.
Em Atlanta, um radialista esbravejou: “Estamos rodeados de loucos, de mulheres que não raspam as axilas e de lésbicas”. Já na mídia impressa, caiu a máscara de muitos jornais e colunistas “independentes”. Não foram apenas os veículos ligados aos neocons, como o Washington Times, da seita Moon, ou o New York Post, de Murdoch, que reforçaram a onda belicista. O Washington Post e o New York Times também verteram sangue.
Mídia se dobra à histeria belicista
Da mesma forma como já ocultara os efeitos das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a mídia silenciou sobre o genocídio de quase um milhão de iraquianos, num dos piores capítulos de sua história. Segundo o jornalista Argemiro Ferreira, no livro O império contra-ataca, a mídia “desistiu de qualquer resistência, ainda que tímida, à histeria belicista do governo Bush”.
Antes mesmo da invasão, “a grande maioria da mídia, liderada pelos excessos patrioteiros do magnata Rupert Murdoch, já estava quase totalmente dedicada ao papel de veiculadora passiva da propaganda bélica... Nenhum dos grandes veículos achou que deveria cumprir o dever primário de checar as supostas provas levadas à ONU – fantasiosas e fraudadas. Foi, enfim, um capítulo à altura da nossa mídia tupiniquim ao tempo da ditadura”.
A promíscua relação com o poder
No auge da histeria estadunidense, a mídia chegou a justificar as piores atrocidades do governo – o que também lembra o Brasil. Num artigo intitulado “É hora de pensar a tortura”, o articulista Jonathan Alter, da revista semanal Newsweek, escreveu: “É um mundo novo e a sobrevivência pode muito bem requerer velhas técnicas que estavam fora de questão”.
O jornal The Wall Street publicou o editorial “A segurança vem antes da liberdade”. Já na revista eletrônica Slate, Dahlia Lithwick escreveu que “torturar terroristas e os seus asseclas para obter informações é algo que funciona”. Na CNN, o comentarista Tucker Carlson afirmou que “a tortura é ruim. Mas algumas coisas são piores. E, em determinadas circunstancias, ela pode ser o menor dos dois males”.
935 mentiras difundidas como verdades
As mentiras plantadas pelo presidente-terrorista George Bush – segundo recente estudo, um total de 935 [19] – foram difundidas no mundo como verdades absolutas pela mídia. Entre outras, a de que o Iraque teria armas de destruição em massa (ADM), de que Saddam Hussein seria aliado da Al-Qaeda e que teria planejado os atentados de 11 de setembro.
Poucos veículos ou jornalistas se indignaram diante destes absurdos repetidos à exaustão. Robert Fisk, veterano correspondente de guerra, foi rotulado de “inocente útil de Saddam” pelo secretário britânico de Defesa, Geoff Honn, após mostrar que as “bombas inteligentes” atingiram um mercado em Bagdá, matando 62 civis.
Censura e perseguições de jornalistas
A censura imperou nos EUA sem que nenhum veículo defendesse a “liberdade de imprensa”. A MSNBC cancelou o programa de Phil Donahue, acusando-o de entrevistar ‘pessoas que estão contra a guerra e o presidente Bush’. O jornalista Brent Flynn, do Lewisville Leader, foi proibido de redigir sua coluna. Já o repórter Kurt Kauglie, do Michigan’Hurón Daily Tribune, pediu demissão após seu editor vetar um artigo crítico.
A página eletrônica Yellow Times foi retirada da internet após exibir imagens de prisioneiros de guerra e de vítimas civis iraquianas. O servidor que hospedava o sítio alegou que “nenhum canal de TV dos EUA permite a emissão dessas imagens”. O famoso correspondente de guerra Peter Arnett foi demitido da emissora NBC depois de conceder uma entrevista à televisão iraquiana, criticando a estratégia militar dos EUA [20].
Pentágono monitora os veículos
A manipulação midiática, que iludiu milhões de pessoas no planeta, foi monitorada diretamente pelo Pentágono, como atesta o documento “Mapa do caminho sobre operações de informação”, assinado pelo secretário de Defesa Donald Rumsfeld. Ele deixa explícito que não haveria limites na guerra de propaganda e que seriam lançadas inúmeras “operações psicológicas” (psy-ops, em inglês).
Entre outras medidas, o plano previa “a manipulação do pensamento do adversário” e “o ataque às redes de comunicação do inimigo”. “Devemos melhorar a nossa capacidade de ataque eletromagnético... As mensagens das psy-ops serão difundidas com freqüência pelos meios de comunicação para as maiores audiências, incluindo o público norte-americano”.
Escritório de Influência Estratégica
Antes mesmo da invasão, o New York Times informou que o Escritório de Influência Estratégica (OSI) do Pentágono desenvolvera “planos para fornecer informações, possivelmente até algumas falsas, para meios de comunicação estrangeiros no esforço para influenciar o sentimento público e os formuladores de políticas tanto em países aliados como inimigos”.
Oficiais do 4º Esquadrão de Fort Bragg, especializados em operações psicológicas, trabalharam diretamente nas sedes da CNN e da AOL, adestrando jornalistas. O coronel Christopher John, comandante do 4º Esquadrão, defendeu “a maior cooperação entre as Forças Armadas e os gigantes da mídia”. A mídia participou, “de maneira orgânica”, na campanha de informação e contra-informação.
Enem: desempenho dos alunos melhora; MEC divulga notas por escola nesta segunda-feira
Jornal Correio do Brasil:
Enem: desempenho dos alunos melhora; MEC divulga notas por escola nesta segunda-feira
11/9/2011 15:51, Por Redação, com Abr- Brasília
O desempenho dos alunos que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010 foi superior ao de 2009. Enquanto no ano anterior a média nacional das provas objetivas – matemática, língua portuguesa, ciências humanas e da natureza – foi de 501,58 pontos, em 2010 a nota subiu para 511,21 pontos. Essas médias referem-se não a todos os participantes do Enem, mas apenas àqueles que estavam concluindo o ensino médio quando fizeram a prova.
Enem
Alunos fazem prova do Enem. Desempenho dos alunos concluintes do ensino médio aumentou na prova de 2010
Pela primeira vez desde que o exame foi criado, em 1998, é possível comparar os resultados de duas edições distintas. Isso porque em 2009 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) adotou uma nova metodologia chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI), que permite “calibrar” as provas para que elas tenham o mesmo nível de dificuldade de um ano para outro.
O Ministério da Educação (MEC) divulga nesta segunda-feira os resultados de cada uma das 23.900 escolas que participaram da prova no ano passado. Na redação a média foi 596,25 pontos no ano passado contra 585,06 em 2009. Para o ministro Fernando Haddad, o crescimento da nota dos candidatos foi satisfatório e indica melhoria na qualidade do ensino médio.
A meta do MEC é que a média chegue a 600 pontos até 2028. “O Brasil, de maneira inédita, trabalha com o conceito de meta de qualidade na educação básica e desde então nós temos superado as metas previstas.” Na avaliação do ministro “é o próprio Enem que melhorou o resultado do Enem”.
-O vestibular desorganiza o trabalho da escola e o Enem organiza. Quando você substitui um pelo outro você tem impacto na qualidade. Essa é a nossa pregação, que precisamos continuar nesse processo para transformar o ensino médio. O Enem dá impulso a uma ação de melhoria. O vestibular desorganiza pela própria irracionalidade do processo, em que cada universidade tem um processo seletivo e você acaba tendo uma sobreposição de conteúdos que nenhuma escola, em sã consciência, consegue cobrir em três anos. Você dispersa a energia, defende o ministro.
Para Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Conselho de Governança do movimento “Todos Pela Educação”, o Enem induz a melhoria, mas não conseguirá sozinho promover a mudança de qualidade necessária. Ele avalia que o incremento de 10 pontos na prova entre 2009 e 2010 é resultado de um trabalho mais direcionado que as escolas têm feito – tanto públicas quanto particulares – para preparar os seus alunos para o Enem. Isso porque desde 2009 o exame passou a substituir o vestibular de algumas universidades públicas, além de ser pré-requisito para quem quer disputar as bolsas oferecidas em instituições particulares por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), o que fez crescer o interesse e aumentou o número de inscritos.
-É natural que houvesse esse avanço a partir desse foco que as escolas estão dando, tanto públicas quanto privadas, na preparação para a prova. Por onde a gente anda vê propaganda de cursinhos e instituições que estão preparando o aluno para o Enem e o próprio aluno começa a se moldar para esse novo modelo avaliativo. Não necessariamente o aumento da nota significa que a qualidade do ensino médio melhorou. O ensino médio ainda está estagnado do ponto de vista do desempenho. O aluno precisa urgentemente de uma nova escola, disse Ramos.
O ministro aponta que a Prova Brasil – avaliação aplicada a todos os alunos do 5° e do 9° ano do ensino fundamental – foi responsável por uma melhoria da qualidade nesta etapa. Ele espera que o Enem tenha o mesmo efeito no ensino médio. “Quando me perguntavam porque o ensino fundamental avança mais do que o médio, eu atribuía a dois fatores. Primeiro, não há como melhorar a qualidade por cima, é preciso avançar da base. Por outro lado, o ensino médio não contava com um instrumento como a Prova Brasil, que ajuda na organização do trabalho da escola”, disse.
O índice de participação dos estudantes concluintes do ensino médio no Enem também cresceu. Em 2009, 45,8% dos alunos fez a prova e em 2010 o número chegou a 56,4%. Para a edição de 2011, que será aplicada nos dias 22 e 23 de outubro, há 5,4 milhões de inscritos. Desse total, 1,4 milhão estão terminando os estudos neste ano. A meta do ministro é que o exame chegue a ser universalizado, com a participação de 100% dos alunos do ensino médio.
-O que nós queremos é que o Enem seja uma espécie de componente curricular do ensino médio. Ou seja, que os estudantes façam a prova mesmo que não pretendam utilizar o resultado para ingressar em uma universidade, que façam como atividade de conclusão da educação básica, até para saber como terminaram, defendeu.
Os resultados do Enem 2010 por escola estarão disponíveis no site do Inep a partir desta segunda-feira.
– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google
Enem: desempenho dos alunos melhora; MEC divulga notas por escola nesta segunda-feira
11/9/2011 15:51, Por Redação, com Abr- Brasília
O desempenho dos alunos que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010 foi superior ao de 2009. Enquanto no ano anterior a média nacional das provas objetivas – matemática, língua portuguesa, ciências humanas e da natureza – foi de 501,58 pontos, em 2010 a nota subiu para 511,21 pontos. Essas médias referem-se não a todos os participantes do Enem, mas apenas àqueles que estavam concluindo o ensino médio quando fizeram a prova.
Enem
Alunos fazem prova do Enem. Desempenho dos alunos concluintes do ensino médio aumentou na prova de 2010
Pela primeira vez desde que o exame foi criado, em 1998, é possível comparar os resultados de duas edições distintas. Isso porque em 2009 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) adotou uma nova metodologia chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI), que permite “calibrar” as provas para que elas tenham o mesmo nível de dificuldade de um ano para outro.
O Ministério da Educação (MEC) divulga nesta segunda-feira os resultados de cada uma das 23.900 escolas que participaram da prova no ano passado. Na redação a média foi 596,25 pontos no ano passado contra 585,06 em 2009. Para o ministro Fernando Haddad, o crescimento da nota dos candidatos foi satisfatório e indica melhoria na qualidade do ensino médio.
A meta do MEC é que a média chegue a 600 pontos até 2028. “O Brasil, de maneira inédita, trabalha com o conceito de meta de qualidade na educação básica e desde então nós temos superado as metas previstas.” Na avaliação do ministro “é o próprio Enem que melhorou o resultado do Enem”.
-O vestibular desorganiza o trabalho da escola e o Enem organiza. Quando você substitui um pelo outro você tem impacto na qualidade. Essa é a nossa pregação, que precisamos continuar nesse processo para transformar o ensino médio. O Enem dá impulso a uma ação de melhoria. O vestibular desorganiza pela própria irracionalidade do processo, em que cada universidade tem um processo seletivo e você acaba tendo uma sobreposição de conteúdos que nenhuma escola, em sã consciência, consegue cobrir em três anos. Você dispersa a energia, defende o ministro.
Para Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Conselho de Governança do movimento “Todos Pela Educação”, o Enem induz a melhoria, mas não conseguirá sozinho promover a mudança de qualidade necessária. Ele avalia que o incremento de 10 pontos na prova entre 2009 e 2010 é resultado de um trabalho mais direcionado que as escolas têm feito – tanto públicas quanto particulares – para preparar os seus alunos para o Enem. Isso porque desde 2009 o exame passou a substituir o vestibular de algumas universidades públicas, além de ser pré-requisito para quem quer disputar as bolsas oferecidas em instituições particulares por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), o que fez crescer o interesse e aumentou o número de inscritos.
-É natural que houvesse esse avanço a partir desse foco que as escolas estão dando, tanto públicas quanto privadas, na preparação para a prova. Por onde a gente anda vê propaganda de cursinhos e instituições que estão preparando o aluno para o Enem e o próprio aluno começa a se moldar para esse novo modelo avaliativo. Não necessariamente o aumento da nota significa que a qualidade do ensino médio melhorou. O ensino médio ainda está estagnado do ponto de vista do desempenho. O aluno precisa urgentemente de uma nova escola, disse Ramos.
O ministro aponta que a Prova Brasil – avaliação aplicada a todos os alunos do 5° e do 9° ano do ensino fundamental – foi responsável por uma melhoria da qualidade nesta etapa. Ele espera que o Enem tenha o mesmo efeito no ensino médio. “Quando me perguntavam porque o ensino fundamental avança mais do que o médio, eu atribuía a dois fatores. Primeiro, não há como melhorar a qualidade por cima, é preciso avançar da base. Por outro lado, o ensino médio não contava com um instrumento como a Prova Brasil, que ajuda na organização do trabalho da escola”, disse.
O índice de participação dos estudantes concluintes do ensino médio no Enem também cresceu. Em 2009, 45,8% dos alunos fez a prova e em 2010 o número chegou a 56,4%. Para a edição de 2011, que será aplicada nos dias 22 e 23 de outubro, há 5,4 milhões de inscritos. Desse total, 1,4 milhão estão terminando os estudos neste ano. A meta do ministro é que o exame chegue a ser universalizado, com a participação de 100% dos alunos do ensino médio.
-O que nós queremos é que o Enem seja uma espécie de componente curricular do ensino médio. Ou seja, que os estudantes façam a prova mesmo que não pretendam utilizar o resultado para ingressar em uma universidade, que façam como atividade de conclusão da educação básica, até para saber como terminaram, defendeu.
Os resultados do Enem 2010 por escola estarão disponíveis no site do Inep a partir desta segunda-feira.
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