quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quem será o próximo monstro a ser executado em nome da humanidade?

Carta Maior - Internacional:
"A execução de Bin Laden: uma vitória de Pirro
A “guerra contra o terror” não possui um inimigo homogêneo representado na figura de Bin Laden como quer fazer-nos acreditar os EUA. Existem diversos grupos que, por compartilharem alguns interesses comuns, estabeleceram alianças estratégicas. Como muitos já alertaram, não é possível carimbar como terror islâmico tudo aquilo que contesta a ocupação militar dos EUA naquela região. Quem será o próximo monstro a ser executado em nome da humanidade? O artigo é de Reginaldo Nasser e Marina Mattar Nasser.

Reginaldo Nasser e Marina Mattar Nasser

Uma das grandes perguntas que se colocam agora, após a morte de Bin Laden, diz respeito ao futuro da Al-Qaeda e da “guerra contra o terror” iniciada pelos Estados Unidos logo após os atentados do 11 de Setembro. Com a morte de seu líder, a Al -Qaeda se enfraquecerá? Isso representa a vitória dos EUA contra o terrorismo? Afinal, o que representa a morte de Bin Laden? Em que muda a situação atual no Iraque, Afeganistão e em seus países vizinhos?

A imagem da Al-Qaeda construída pela política externa norte-americana e veiculada pela mídia ocidental mostra-nos uma organização forte e homogênea com atuação global cujo principal objetivo é o de combater a civilização ocidental e reestabelecer o regime de Califados no mundo islâmico. A Al-Qaeda, entretanto, funciona mais como uma empresa de capital de risco, proporcionando dinheiro, contatos e assessoria a numerosos grupos e indivíduos militantes de todo o mundo islâmico. Ou seja, a organização tem como estratégia vincular aos grupos locais que não necessariamente compartilham seus ideais e objetivos, mas que por interesses circunstanciais, estabelecem uma aliança. Em muitos casos, a relação destes grupos com a Al-Qaeda é apenas nominal.

Talvez por esta razão que os EUA e as informações da grande imprensa não tenham percebido – ou revelado - que a Al-Qaeda está se enfraquecendo há anos. Em 2007, o atual número 1 da Al-Qaeda, al-Zawahiri, percebendo a crescente impopularidade da organização, realizou um debate aberto em um fórum de jihadistas, de perguntas e respostas, no qual foi amplamente questionado sobre a morte de civis muçulmanos em atentados realizados pela a Al-Qaeda. Diversas pesquisas mostram a crescente queda em popularidade da Al-Qaeda em diversas sociedades do mundo árabe e islâmico após terem sofrido atentados terroristas da organização. Um bom exemplo disso é a Jordânia, onde o índice de aprovação da Al-Qaeda entre a população teve uma queda brusca de 70%(quando?) para 10% no ano de 2005 quando três explosões em hotéis da capital Amman mataram e feriram centenas de pessoas, muitas delas estavam celebrando um casamento.

Em pesquisa desenvolvida pelo centro PEW sobre a confiança das populações muçulmanas de diversos países do mundo árabe e islâmico em Bin Laden prova que os diversos atentados da Al-Qaeda que mataram civis muçulmanos afetou, em grande medida, sua popularidade entre as sociedades. No Paquistão, sua popularidade caiu de 46%, em 2003, para 18% em 2010; na Palestina, de 72% para 34%; e na Jordânia, caso de maior índice de queda, de 56% para 13%.

De acordo com relatório da RAND Corporation de 2008, houve uma mudança na estratégia do braço da Al-Qaeda no Iraque, a partir de 2005, quando deixaram de atacar os oficiais dos EUA e de seus aliados e passaram a atacar a própria sociedade iraquiana, o que não foi bem recebido pela população. A onda de atentados entre 2005 e 2007 liderada pela Al-Qaeda iraquiana matou, em média, 16 civis por dia. Durante todos os anos de guerra, de 2003 aos dias atuais, os anos de 2006 e 2007 foram os que mais civis morreram, superando, até mesmo, os bombardeios dos EUA em 2003.

Basta perceber que a Al-Qaeda não está presente na chamada primavera árabe. Estes movimentos civis, por meio de protestos pacíficos, conseguiram derrubar governos que a Al-Qaeda se propõe a combater, há mais de duas décadas, apresentando uma alternativa às sociedades árabes e marginalizando, ainda mais, o grupo terrorista.

Assim, além das áreas tribais no norte do Paquistão, a Al-Qaeda está presente apenas em regiões marginais do mundo árabe e islâmico por contatos, muitas vezes, superficiais como no nordeste do Yemen, na Somália e no sul da Argélia. Por conta das diversas alianças realizadas, a Al-Qaeda não conseguiu liderar uma única estratégia e seu principal objetivo de tornar-se um movimento insurgente, caracterizado, sobretudo, pelo grande apoio da comunidade, acabou, portanto, por falhar.

Prova disso foram os desentendimentos entre Bin Laden e Al-Zarqawi, que liderou o braço da Al-Qaeda iraquiano, quanto às formas de agir no país. A CIA interceptou cartas entre eles que mostravam discordância de Bin Laden com a crescente onda de atentados no Iraque uma vez que isto impossibilitaria a aproximação da Al-Qaeda da sociedade iraquiana. a Al-Qaeda já enfrentava, portanto, um momento de crise e de possível mudança estratégica, anterior à morte de seu líder.

A “guerra contra o terror” não possui um inimigo homogêneo representado na figura de Bin Laden como quer fazer-nos acreditar os EUA. Existem diversos grupos que, por compartilharem alguns interesses comuns, estabeleceram alianças estratégicas. Como muitos já alertaram, não é possível carimbar como terror islâmico tudo aquilo que contesta a ocupação militar dos EUA naquela região. Quem será o próximo monstro a ser executado em nome da humanidade?



– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

quarta-feira, 4 de maio de 2011

IBGE explica por que a elite odeia Lula

BLOG DO SARAIVA:

Posted by eduguim on 04/05/11

Foi uma luta para encontrar dados que mostrassem a evolução do índice de Gini do Brasil entre 1995 e 2010. A mídia esconde esses dados porque mostram um fato que destrói a versão que vem sendo alardeada após a divulgação da maior queda de concentração de renda no Brasil durante os últimos 50 anos, de que ocorreu nos governos FHC e Lula.

Em primeiro lugar, o noticiário deixa claro um fato sobre o qual pouco se fala: a ditadura militar (1964-1985) foi implantada para concentrar renda, ou seja, para tornar os ricos mais ricos e os pobres, mais pobres. Em 1960, antes da ditadura, o índice de Gini era de 0,537 e, em 1995, estava em 0,610. A concentração de renda foi brutal, no período.

Mas o fato mais contemporâneo também é surpreendente e pode ser bem constatado no gráfico acima: durante o primeiro mandato de FHC, a desigualdade permaneceu praticamente intocada e só caiu um pouco a partir do segundo mandato. Já no governo Lula, a queda foi impressionante, fazendo o índice de Gini cair a 0,530 – quanto mais próxima de zero, menor é a concentração de renda.

O IBGE também explica por que os estratos superiores da pirâmide social odeiam tanto Lula. Entre os 20% mais ricos, que se concentram no Sul e no Sudeste, a escolaridade aumentou 8,1% e a renda cresceu 8,9%. No recorte dos 20% mais pobres, que ficam no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste, a escolaridade aumentou 55,6%, e foi acompanhada de um aumento de renda de 49,5%.

Por etnia, os negros também experimentaram aumento de renda muito maior do que os brancos, vale dizer. Sobretudo porque negros e descendentes de negros são muito mais numerosos no Norte e no Nordeste.

O governo FHC é tão defendido pelos ricos, que também são donos da mídia, porque foi o que puderam conseguir em termos de, se não aumentar a concentração de renda, ao menos retardar a sua queda. Lula virou as costas para a elite e promoveu a maior distribuição de renda da história deste país. Por isso a elite branca do Sul e do Sudeste o odeia com tanto fervor.

Do Blog da Cidadania.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Bin Laden e a última aventura do Super Homem

Carta Maior:


Para entender por que agora, justamente agora, nesta data entre todas as outras possíveis, decidiu-se realizar o “justiçamento” de Bin Laden, talvez seja necessário vincular sua morte repentina e desejada com dois acontecimentos aparentemente desconectados que surgiram na semana passada: o anúncio do Super Homem (na sua história n° 900) de que pensava ir às Nações Unidas para renunciar à cidadania norteamericana, e a divulgação pelo presidente Barack Obama da certidão de nascimento que comprova sua nacionalidade estadunidense. Terá sido uma suprema coincidência? O artigo é de Ariel Dorfman.

Ariel Dorfman 

Pode ser uma suprema coincidência? Ou por acaso tem gato – ou super herói – nesta tuba?

Para entender por que agora, justamente agora, nesta data entre todas as outras possíveis, decidiu-se realizar o “justiçamento” de Bin Laden, talvez seja necessário vincular sua morte repentina e desejada com dois acontecimentos aparentemente desconectados que surgiram na semana passada.

O primeiro, que causou entre os fanáticos da guerra entre o bem e o mal quase tanta consternação como o assassinato do funesto e lúgubre chefe da Al Qaeda, ainda que menos júbilo, foi o anúncio do Super Homem (na história n° 900 do aniversário que celebra suas peripécias) de que pensava ir às Nações Unidas para renunciar à cidadania norteamericana. O Homem de Aço que, desde sua primeira aparição inaugural na revista Action, em junho de 1938, veste-se com as cores da bandeira estadunidense e age em nome dos valores norteamericanos, chegou a essa decisão tão drástica depois de sofrer críticas do encarregado de segurança do governo estadunidense (um homem negro parecido com Colin Powell) por ter voado até Teerã para demonstrar, durante 24 horas, sua solidariedade com os manifestantes da Revolução Verde que protestavam contra o despotismo de Ahmadinejad e seus partidários.

O governo do Irã (na história em quadrinhos, é claro, já que duvido que os aiatolás reais se dediquem a ler dissimuladamente as aventuras de Superman) denunciou esse ato – por silencioso que fosse e motivado pela não violência – como uma ingerência do Grande Satã em seus assuntos internos, quase como uma declaração de guerra. Os autocratas do Irã me desagradam muito, mas não se objetar sua lógica de aceitar as palavras do próprio Homem de Aço que encarna há décadas o conjunto “truth, justice and the American way” (verdade, justiça e o modo americano de vida). De modo que o Super Homem, para poder agir daqui em diante para além das fronteiras nacionais e os interesses circunstanciais de qualquer Estado, se viu obrigado a estabelecer sua independência frente a seu país adotivo. Porque, de fato, o Super Homem não nasceu nos Estados Unidos, mas sim no planeta Krypton, chegando bebê (sem passar por aduanas nem imigração) ao Kansas em uma pequena nave espacial, sendo acolhido neste território, no centro dos EUA, pelos Kent, fazendeiros que personificam personificam precisamente o “american way”. Era Ka-El. Virou Clark Kent.

É difícil exagerar a indignação com que este ato audacioso de renunciar à cidadania, esta “bofetada” do Superman, foi recebida pelo povo norteamericano. Eu li blogueiros defendendo seriamente que o novo campeão do internacionalismo fosse deportado para seu planeta de origem (como se fosse um mexicano ilegal), e já circula um abaixo assinado para que os executivos da Time Warner (donos da empresa que comercializa o Super Homem) forcem os autores da história a se retratar. Além disso, vários comentaristas conservadores viram esse insulto do super herói como a prova definitiva da decadência do país mais poderoso da terra: até o ídolo que representa mais universalmente nosso modo de vida está nos dando as costas!.

Não sei se o presidente Obama segue atentamente as aventuras do Super Homem (sabe-se que é um fã do Homem Aranha, de cuja origem nova-iorquina não cabem dúvidas), mas alguém deve ter chamado a sua atenção sobre a perda de prestígio que significa a deserção de um tal titã. O que acontece, por exemplo, se o Homem de Aço, guia dos despossuídos, decide fechar Guantánamo ou usar seus olhos de raios X para liberar alguns Super Wikileaks, agora que já deve lealdade à bandeira norteamericana? O que acontece se ele se põe a serviço de uma potência como a China? – ainda que, pensando bem, não haja muita Verdade ou Justiça neste país, de modo que ele seguramente não aceitaria esse tipo de aliança. Em todo o caso, os conselheiros de Obama devem ter lhe explicado que a defecção de Super Homem deveria ser tratada como uma imensa crise cultural e ideológica que inclusive poderia custar a reeleição ao presidente, uma vez que os republicanos já cozinhavam planos para acusá-lo de ter “perdido” o Super Homem (como ocorreu com Cuba ou Vietnã).

A resposta de Obama foi genial: ao matar Bin Laden, provava que os EUA não necessitava de um homem musculoso que voa e atravessa paredes para defender-se dos terroristas, pois, para isso, tem helicópteros e tropas especiais como os Seals, computadores e armas – como que não – de aço. Um modo de restaurar a confiança nacional que estava machucada e que dificilmente poderia tolerar outro menosprezo à sua auréola.

É claro que, antes de poder realizar aquela operação no Paquistão, Obama tinha que acertar outro assunto, um problema que o rondava há vários anos. Como iria apresentar-se perante o mundo e anunciar o assassinato de Bin Laden em nome dos Estados Unidos se uma insólita porcentagem de seu próprio povo duvidada que seu presidente era, de fato, norteamericano? Como criar o contraste com o trânsfuga Super Homem se Obama mesmo era acusado de ter nascido no estrangeiro, no Quênia, que, como se sabe, está muito mais longe do Kansas do que o planeta Krypton, por mais que os três lugares compartilhem a kafkiana letra K?

Isso levou Obama a divulgar, há alguns dias, sua certidão de nascimento, tapando a boca daqueles que o apontavam como um “alien” (alheio, estrangeiro, mas também extraterrestre, outro significativo paralelo entre o presidente e o super herói). Por certo que um conjunto de seus concidadãos segue acreditando que Obama não nasceu em território norteamericano. Insistem que o documento foi flasificado, que o hospital foi subornado e que a mãe (nascida originalmente nada mais nada menos que no Kansas) trouxe o menino de contrabando para o Wawaí, porque sabia que, dali a quarenta e tantos anos, aquele menino mulato seria presidente. Creio que a única maneira desses recalcitrantes aceitarem que Obama nasceu nos EUA seria ele branquear inteiramente a cara e toda a pele. Aí ele já não seria mais um “alien”.

Mas, para a maioria de seus compatriotas, Obama conseguiu em uma semana uma verdadeira e tripla proeza. Ao provar que era um presidente legítimo, pode, armado de seu certificado de nascimento e também do exército mais poderoso do globo, eliminar o sinistro inimigo número um dos Estados Unidos. E sem precisar da intervenção do Super Homem.

E agora?

Agora, proponho uma façanha de verdade: já que a razão pela qual Bush invadiu o Afeganistão era o apoio que os talibãs ofereciam a Bin Laden, não chegou o momento de retirar todas as forças norte-americanas desse país de montanhas e guerrilhas?

Estou seguro que o Super Homem, em parceria com as Nações Unidas e esgrimindo seu novo passaporte cosmopolita e global, ficaria feliz em ajudar no transporte rápido das tropas. Seria bonito vermos isso nas próximas aventuras do Homem de Aço, seria alentador que Obama e o Superman – ambos com suas origens no Kansas, ambos menosprezados por serem “estrangeiros” – colaborassem para criar pelo menos um pequeno oásis de paz no mundo onde infelizmente escasseiam hoje tanto a verdade como a justiça.

(*) Ariel Dorfman é escritor. Seu romance mais recente é “Americanos: Los passos de Murieta”.

Tradução: Katarina Peixoto



– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

terça-feira, 3 de maio de 2011

Corrupção tucana e de peemedebistas do Pará tem contracheques de R$ 85 mil e desvio de milhões

Reproduzido do blog Os Amigos do Presidente Lula:

O senador tucano Mario Couto e a base do governador Simão Jatene.


A ALEPA (Assembléia Legislativa do Pará ) é alvo de operação do Ministério Público estadual, contra corrupção e fraudes na folha de pagamento e em contratos.

Em operação deflagrada no dia 19 de abril, houve prisões cautelares de alguns funcionários, busca e apreensão em diversos endereços, inclusive de deputados. Na casa do ex-deputado Robgol (PTB), a polícia encontrou R$ 500 mil em espécie R$ 40 mil em tíquetes-alimentação que eram distribuídos pela ALEPA.

A ALEPA foi presidida pelo atual senador Mario Couto (PSDB/PA) até 2006, sendo sucedido por Domingos Juvenil (PMDB/PA) até 2010, e agora é presidida pelo Dep. Manoel Pioneiro (PSDB).

Juvenil concorreu ao governo do estado nas últimas eleições e perdeu, ficando fora do segundo turno, quando passou a apoiar o tucano Simão Jatene (PSDB), que foi eleito.

Guerra do PIG tucano versus o PIG peemedebista

Os jornais do PIG (Partido da Imprensa Golpista) paraense, cada um ligado a um partido, empurra o escândalo para o colo do outro.

O LIBERAL que é tucano,' mete bala' no ex-presidente da ALEPA Domingos Juvenil.

O DIARIO DO PARÁ, do peemedebista Jader Barabalho 'atira' no senador Mario Couto.


Blogueiro censurado

Nessa briga de cachorros grandes, sobrou 'bala perdida' para o Blog do Barata, que está denunciando toda essa maracutaia, e foi censurado, proibido de citar o Deputado Carmona (outro ex-presidente da ALEPA), por decisão da Juíza Danielle de Cássia Silveira Bührnheim.

Contracheques de quase R$ 85 mil

Na Folha de pagamento, foram identificados 13 supersalários. Um contracheque é de R$ 85 mil, muito acima do limite máximo permitido por lei, de R$ 26,7 mil.

Também houve inserção de funcionários fantasmas, laranjas, salários aumentados criminosamente através de atos secretos, e até sonegação de impostos na folha de pagamento.


Escândalo bate na porta do DETRAN

As buscas e apreensões foram feitas em 12 endereços, um deles o gabinete do diretor-presidente do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito), Sérgio Duboc, cargo de confiança do governador tucano Simão Jatene, indicado pelo senador Mário Couto, a quem coube o 'feudo' do DETRAN na partilha de cargos.

Duboc foi diretor financeiro da ALEPA quando Mário Couto (PSDB) e Domingos Juvenil (PMDB) foram presidentes da casa.

No gabinete da presidência do DETRAN, foram apreendidos quatro contratos da ALEPA com a Croc Tapiocas com a ALEPA, além de notas fiscais.

A Croc Tapiocas, remete à uma denúncia já conhecida anteriormente.

Tapiocão de 2,3 milhões

Entre 2005 e 2006, quando Mário Couto (PSDB) presidia a Assembléia, e a casa comprou R$ 2,3 milhões de material elétrico da firma J.C.Rodrigues de Souza, uma micro-empresa (CNPJ 02431246/0001-34). Nas investigações consta que essa empresa nunca vendeu peças, muito menos de material elétrico. Vendia farinha de mandioca e de tapioca. Daí, segundo a imprensa local, surgiu o apelido de “Senador Tapioca”.

Com escândalo transbordando da Assembléia para o entorno do governador tucano, sob pressão da bancada petista de oposição, Duboc pediu sua exoneração do cargo.

Contratos suspeitos de R$ 8 milhões na gestão de Mário Couto

Os documentos apreendidos revelam que o dinheiro público também era desviado por contratos com prestadores de serviço.

O promotor Nelson Medrado diz que servidores da ALEPA tinham ligações suspeitas com empresas forncedoras, em nome de parentes ou laranjas.

A ex-servidora Daura Irene Xavier Hage, que era responsável pelos processos de contratação de obras e serviço é suspeita de ter contratado serviços de pelo menos seis empresas ligadas a familiares seus.

Em dois anos (2005 e 2006, na gestão do ex-bicheiro e hoje senador Mário Couto como presidente da Alepa), essas empresas fecharam com a Assembleia Legislativa contratos que somaram R$ 8 milhões.

As seis empresas, que funcionavam em apenas dois endereços, pertenciam a pessoas com sobrenomes Hage. Vendiam de tudo para a AL. Em poder do MPE estão contratos para obras, material de expediente e até computadores. “Ainda não sabemos se os sócios eram filhas ou genros de Daura Hage, mas está claro que havia uma rede por causa da coincidência de nomes e endereços”, diz o promotor.

Notas fiscais apreendidas durante busca e apreensão no último dia 19 revelaram ainda que a maioria dos contratos fechados pelas empresas do grupo era em valores próximos a R$ 79 mil.

A suspeita é de que esse valor era usado como forma de fugir do processo de licitação do tipo tomada de preço, muito mais rigoroso. Compras e serviços até o valor de R$ 80 mil poderiam ser contratados pela modalidade carta-convite em que são analisadas propostas de três fornecedores.

“Já percebemos inúmeras irregularidades. Algumas das empresas contratadas não têm base física [prédios-sede], as notas fiscais não trazem o destaque do imposto recolhido e a venda de computadores, por exemplo, foi feita por firma que não estava inscrita [na Junta Comercial] para comercializar esse produto”, diz o promotor.

Operação 'abafa' para atrapalhar quebra de sigilo bancário da ALEPA

A quebra do sigilo bancário já foi decretada por juiz, para dar acesso aos promotores aos extratos mensais das contas bancárias da ALEPA, além de dados referentes ao pagamento de pessoal desde janeiro de 1994.

Entre os documentos a serem repassados aos promotores estão também contra-cheques recebidos, ofícios, transferências, créditos em conta, entre outros que comprovem os pagamentos e permitam identificar a quem eles foram feitos.

O atual presidente da casa, o deputado tucano Manoel Pioneiro (PSDB), em vez de colocar à disposição as contas bancárias da Assembléia Legislativa, que movimenta dinheiro público, cujos gastos devem ser transparentes, luta para ocultá-las.

Diz que 'defende a apuração', mas reclamou da decisão judicial da quebra de sigilo, alegando haver 'invasão' de outros poderes no Legislativo. Chegou a declarar:

- Acho estanho, porque eles (os promotores de Justiça) poderiam solicitar diretamente a nós as informações desejadas.

O promotor Nelson Medrado afirma que não há nenhuma afronta ao legislativo. Disse que, desde agosto de 2009, tenta obter acesso a estas informações diretamente, mas o então presidente da casa (Domingos Juvenil), se recusou a colaborar, manifestando, por ofício, que só atenderia com ordem judicial, alegando o direito constitucional ao sigilo bancário.

O promotor apenas cumpriu o ofício, e tomou as medidas cabíveis de praxe, e seguindo recomendação da Assembleia, conforme o ofício.

Ainda insatisfeito com a quebra do sigilo, o deputado Manoel Pioneiro (PSDB), convocou uma reunião de líderes para decidir a contestação. Ele defendeu que a quebra não poderia ter sido dada por um juiz de primeiro grau, como foi feita, mas apenas pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJE), devido às 'prerrogativas' do Poder Legislativo.

Por trás da 'chicana' de contestar a quebra de sigilo, pode existir mais do que a proteção aos companheiros de partido.

Manoel Pioneiro já era deputado no período dos acontecimentos, e votou a favor do “imoral e ilegal” Plano de Cargos e Salários na gestão passada. Ele foi o relator, na Comissão de Finanças, do projeto que criou quase 200 cargos comissionados, outro acinte aos cofres públicos.

Note que nem se trata da privacidade da conta bancária funcional dos deputados, nem de servidores. Essa briga é para ocultar a movimentação bancária da ALEPA, da pessoa jurídica, do órgão público. (Com informações do leitor Allan, do blog do Barata, e do Diário do Pará).

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Reforma Política, mas não a qualquer custo

DEBATE ABERTO
Carta Maior:

É imprescindível desmistificar a concepção que considera a falta de representatividade política que o atual sistema detém como uma má formação ahistórica, algo mecânico, que poderia ser corrigido por meros reparos legais. O problema é muito mais complexo.

Pedro Eugênio*

A Reforma Política é uma oportunidade importante de aperfeiçoamento das instituições políticas brasileiras. Entretanto, considero que ela, se não ocorrer, não causará um desastre nacional. E se for para produzir um resultado que diminua a representação popular, aí é melhor que não ocorra.

Consequentemente, o que deveremos procurar construir é um novo sistema eleitoral que melhore a participação popular, que reduza o peso do poder econômico (reduzindo o custo das campanhas) e que melhore a eficiência do sistema representativo.

Mas antes de discutir como poderia ser uma reforma política aperfeiçoadora, considero imprescindível desmistificar a concepção que considera a falta de representatividade política que o atual sistema detém como uma má formação ahistórica, algo mecânico, que poderia ser corrigido por meros reparos legais.

O problema é muito mais complexo. A despolitização reinante em amplos segmentos sociais, desde a base até a muitos subsetores médios, tem raízes sociológicas, ideológicas e políticas profundas. O período autoritário não foi apenas - e já seria muito! - de supressão de liberdades, mas também, e principalmente, de quebra do fio histórico de muitas lutas sociais e políticas, construtoras da identidade nacional.

Após a redemocratização o processo de alienação da consciência nacional prosseguiu avante através de métodos mais sutis, porém mais eficientes de despolitização das massas.

Dou alguns exemplos.

O fim do sistema seriado de ensino nas universidades e sua substituição pelo sistema de créditos, onde os alunos 'pagam' cadeiras ao invés de apreender seus conhecimentos, fragmentou as universidades e estabeleceu forte golpe na dinâmica sócio-política dos movimentos estudantis, berçário istórico de tantas lideranças políticas de nosso país forjadas em lutas durante o período do pós guerra até a primavera de 68. O fato ocorreu em 1972, com Médici no poder e Jarbas Passarinho no Ministério da Educação.

Outro exemplo: o esmagamento da MPB que, na redemocratização se colocava com majoritária presença na preferência popular foi sendo cubstituída pela música americana ou nacional de quinta categoria, impostas por fortíssimos esquemas de divulgação, portanto de massificação através de uma mídia subordinada aos jabás e outras formas de controle econômico. Reduziu-se a voz de nossos artistas de raiz, sempre prontos a cantar as lutas do povo, por sons mecânicos, línguas incompreensíveis ou produções nada artísticas, aquilo que Alceu Valença chama com propriedade de 'fuleragem'. Esta virada ocorreu nos anos 90 e a desvalorização de nossa música continua até hoje pelas forças de um mercado nada independente, moldado pelas gravadoras e emissoras. Cultiva-se assim a alienação política e o preconceito.

Por fim, há de se considerar o sistema partidário em si e sua história. O fim dos partidos políticos promovidos pelo golpe de 64 e as sucessivas medidas de cerceamento do parlamento, inclusive o seu fechamento quando do AI5 e as muitas reformas políticas autoritárias criadoras de instrumentos como a sublegenda, destruíram o liame histórico, a continuidade político-partidária e praticamente empurraram a esquerda à luta armada, mais grito agônico de revolta que processo de construção de novos desenhos partidários de massa e democráticos.

A derrota destes agrupamentos consolidou o vazio político que não foi preenchido jamais pelo MDB, mesmo este tendo se transformado em tribuna na qual alguns bradavam por liberdade. O vácuo partidário, do ponto de vista da capacidade de gestarmos processos amplos e orgânicos de transformação estava implantado.

A anistia e a redemocratização vieram como processo dúbio - de um lado respondendo a anseios de amplos setores médios da sociedade, ávidos por liberdade, mas também fruto de estratégia cuidadosamente urdida no laboratório do senhor Golbery, significando, por sua sinuosa forma lenta gradual e segura, o abandono voluntário do autoritarismo e sua substituição pela institucionalização democrática formal, capaz de tocar para frente o processo político e econômico sem riscos das rupturas tão temidas pelas elites e pelo Departamento de Estado norte americano.

Quem pensa que o povo nas ruas, a clamar por Diretas Já, da mesma forma que fariam os caras pintadas a exigir a cassação de Collor, quem pensa que estes movimentos de massa substituíram o esfacelamento do fio da historia promovido pela ditadura está muito enganado. Foram belos movimentos sim, democratizantes sim, mas incapazes de recompor a fratura causada pela censura, pelo desmantelamento armado não só das organizações foquistas, mas também do PCB que entendeu a época que havia de se perseguir o ligar-se a base social operária, camponesa e média do país, sem luta armada e que, não obstante e talvez por isso mesmo, teve sua direção nacional dizimada a bala.

Agora, que discutimos a tal reforma política e quando os meios de comunicação não cansam de bradar sobre a falência do nosso modelo de representação popular, não podemos nos esquecer que todas as fragilidades de nosso sistema foram criadas por este processo de rompimento da ordem democrática materializado pela deposição de Jango em 64 e de redemocratização capenga, promovida 20 e, poucos anos, depois sob o comando dos coveiros da democracia.

É verdade que, com a redemocratização, a sociedade brasileira produziu novas alternativas partidárias. De Brizola surrupiaram o PTB que tentou refundar e acabou em mãos, à época, que não se comprometiam com a tradição trabalhista de Getúlio. Funda-se o PDT que tenta restabelecer aquela tradição sem, no entanto, lográ-lo. É que os tempos eram outros, houvera o milagre econômico dos anos 70 e surgira uma afluente classe média ancorada no novo modelo de consumo concentrado, nascera uma nova classe operária no ABC paulista, tributária deste mesmo modelo, pois fabricante do maior ícone do novo padrão de consumo concentrador - o automóvel.

Nasce aí o PT que agrega outras forças políticas de esquerda, remanescentes da luta contra a ditadura. De todos os partidos é o que melhor se coloca no novo momento, pois não tenta restabelecer o passado rompido, mas construir o futuro. Mas é segmentado e, no início, pouco representativo do complexo social nacional.

Como o PDT, o PSB que fora no passado partido de uma elite intelectual de esquerda, abriga Arraes, o que lhe da dimensão política, mas não consegue lhe conferir, como Brizola ao PDT, caráter de partido de massas. Como disse, os tempos eram outros.

Logo adiante surge o PSDB que intenta ser partido social-democrata para logo se tornar partido de centro-direita, pelo caráter elitista de seus quadros e pela natureza conservadora de sua aliança estratégica com os
herdeiros da Arena.

Não pretendo aqui fazer a análise dos partidos no Brasil a partir da Nova República, mas apenas afirmar que o quadro partidário atual traz consigo a marca indelével da destruição autoritária do antigo sistema e das limitações de uma redemocratização tutelada. Pensar que os males do nosso sistema representativo são defeitos da norma legal que podem ser corrigidos por uma reforma nas leis é, no mínimo, ilusão. O que só a luta política pode conferir a lei, por si só não consegue criar. Afinal a lei, para ter alma, deve emanar da vontade popular.

Não se trata de aprovar a Reforma de qualquer maneira, portanto. Só vale a pena aprová-la se a alma não for pequena e, se desta reforma, pudermos retirar avanços sociais e políticos para o país que detenham a legitimidade que só a vontade social pode outorgar.

(*) Presidente estadual do PT-PE e deputado federal.


– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

segunda-feira, 2 de maio de 2011

"Há uma guerra civil rastejante na sociedade capitalista"

Carta Maior:
A crise do capitalismo alimenta o crescimento, na Europa, de um populismo inquietante e autoritário que tem em Sílvio Berlusconi o maior intérprete. Mas abre também espaço inédito para uma política que tenda à sua superação, defende o filósofo esloveno Slavoj Zizek em entrevista a Benedetto Vecchi, do Il Manifesto. 'Há uma guerra civil rastejante na sociedade capitalista. A inquietação ambiental atingiu os níveis de vigilância. A democracia é reduzida a um simulacro. Ainda assim, nem tudo está perdido', diz Zizek.

Benedetto Vecchi - Il Manifesto

Escrita em estilo sóbrio, a obra analisa o mundo depois da crise econômica e a tendência de muitos governos de intervir, por meio de financiamento das dívidas dos bancos e das grandes instituições financeiras, para evitar aquilo que apenas há poucos anos parecia a trama de um filme de ficção sobre o colapso do capitalismo. 
Mas o autor procura distanciar-se das posições teóricas de muitos estudiosos marxistas, que sempre viram o neoliberalismo como um parêntese que, eventualmente, seria substituído por uma realidade social e política mais consentânea com as leis económicas, dando pouco espaço para os rentistas que enriqueceram com as loucuras especulativas das últimas décadas.

Para Zizek, ao contrário, o neoliberalismo tem sido uma adequada contra-revolução que cancelou a constituição material e formal surgida após a II Guerra Mundial, quando o capitalismo era sinonimo de democracia representativa. No início do terceiro milênio, a contra-revolução terminou, abrindo espaço para uma política radical que Zizek, em sintonia com o filósofo francês Alain Badiou, chama enfaticamente de “hipótese comunista”.

O filósofo esloveno não fecha, porém, os olhos para o fato de que os sinais provenientes de toda a Europa apontam para a ascensão de uma direita populista que conquista consensos onde os partidos social-democratas eram tradicionalmente fortes – como na Holanda, Noruega, Suécia. E também era irônico que com os democratas e norte-americanos radicais, que “nos Estados Unidos, depois de haver saudado a eleição de Obama para a Casa Branca como um evento divino, agora se deleitassem em discutir se é politicamente mais incisivo 'Avatar', de James Cameron, ou 'Estado de Guerra', de Kathryn Bigelow”. Eis a entrevista:

Num artigo, você lançou farpas contra “Avatar”, definindo-o como um filme apolítico. No entanto, no filme de Cameron, há fortes referências tanto à guerra do Iraque quanto à destruição da floresta amazônica: em ambos os casos, os vilões são as multinacionais…

Slavoj Zizek: O filme de James Cameron é agradável, divertido, uma obra inovadora do ponto de vista do uso das tecnologias digitais. Mas aqueles que sustentam que os críticos radicais nos Estados Unidos são uma espécie de ala marxista de Hollywood não me convencem. Eles escreveram que Avatar retrata a luta de classes e a luta dos pobres contra os ricos, com o fim de auto-determinarem a sua vida. Há um planeta, Pandora, que é invadido por uma tropa de mercenários a soldo de multinacionais. O objetivo é depredar os seus recursos naturais, colocando, assim, em perigo o milenário equilíbrio que os seres vivos estabeleceram com o luxuriante ecossistema. Podemos estabelecer certa analogia com o que as multinacionais e os países imperialistas fazem com a Floresta Amazônica, com o Iraque ou com toda aquela realidade onde estão as fontes energéticas e as matérias primas fundamentais para a produção de riqueza. No filme, os aborígenes de Pandora, em nome de uma visão holística de relação com a natureza, opõem-se ao capitalismo, vencendo, no final, a sua batalha. Mas a natureza é um produto cultural que muda com a mudança das relações sociais.

Os seres sempre retiraram da natureza os meios para viver e se reproduzir como espécie. Mas ao fazê-lo, transformaram a natureza. Não é, portanto, retornando a uma idade de ouro idealizada, como sugere James Cameron, que se pode derrotar o capitalismo. “Avatar” é pura fantasia, fascinante por certo, mas sempre fantasia.

Você tem frequentemente sublinhado que o populismo é uma doença do Político. Não lhe parece que o populismo, mais que uma doença, seja a forma política que, melhor que as outras, se adapta ao capitalismo contemporâneo?

Zizek: Até há alguns anos, afirmava-se que o capitalismo era sinônimo de democracia na sua forma liberal, fundada sobre a tolerância, o multiculturalismo e o politicamente correto. Agora, ao contrário, assistimos às forças ou aos líderes políticos que invocam a mobilização do povo para combater os inimigos do estilo de vida moderno. O filósofo argentino Ernesto Laclau analisou a fundo a lógica do populismo, sustentando que existe uma variante de esquerda e uma variante de direita. A tarefa do pensamento crítico consistiria em evitar a derivação de direita.

Não estou de acordo com essa posição. Em primeiro lugar, o populismo é sempre de direita. Além disso, o povo, como a natureza, é uma invenção. Laclau acredita que para fazê-lo tornar-se realidade deve-se imaginar um universal que contenha e supere as diferenças dentro dele. Daí a necessidade de identificar um inimigo que impede a formação do povo. Não é uma coincidência, então, que a forma acabada de populismo seja o anti-semitismo, porque indica um inimigo que vive entre nós. O mesmo fazem os populistas contemporâneos quando indicam os migrantes como a quinta-coluna entre nós.

Na sua avaliação, o populismo dirigirá o conflito contra inimigos de conveniência, para esconder o sistema de exploração do capitalismo. Isso quer dizer que esta tendência ocupa um espaço político abandonado, por exemplo, pela esquerda. Como recuperar esse espaço?

Zizek: Walter Benjamin escreveu que o fascismo emerge de onde uma revolução foi derrotada. Um conceito que, aplicado à realidade contemporânea, explica o fato de o populismo emergir quando a hipótese comunista, que não coincide com o socialismo real, é retirada da discussão pública. Entretanto, no tolerante capitalismo contemporâneo assistimos à campanha midiática contra os migrantes, porque atentam contra a nossa segurança. Ou ficamos atordoados com intelectuais que, como Bernard Henri-Levy, debatem longamente sobre a superioridade da civilização ocidental e sobre o perigo representado pelo fundamentalismo islâmico, qualificado como islamo-facismo.

Creio, todavia, que há fortes pontos de contacto entre a ideologia liberal e o populismo: ambos são pensamentos políticos que levam em conta o estilo de vida capitalista ocidental como o único mundo possível. Os liberais, em nome da superioridade da democracia, os populistas em nome do único estilo de vida que as pessoas se dão. Há também diferenças. Os liberais estão impondo, mesmo com as armas, a democracia e a tolerância entre quem não é democrático nem tolerante. Os populistas desejam, ao contrário, aniquilar de modo suave de polícia étnica as diversidades culturais, sociais, de estilo de vida. O populismo é, portanto, uma das formas políticas do capitalismo global, mas não a única. Silvio Berlusconi, frequentemente julgado como um comediante ou um personagem de opereta, é, ao contrário, um líder político para ser estudado com atenção, porque pretende conjugar a democracia liberal com o populismo.

O primeiro-ministro italiano está, todavia, acelerando uma tendência presente em todos os sistemas políticos democráticos. Sua obra visa modificar o equilíbrio dos poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário – para benefício do Executivo, de modo tal que o executivo englobe o Legislativo e o Judiciário, mas sem cancelar os direitos civis e políticos. As eleições são consideradas como uma sondagem sobre a obra do executivo. Se Berlusconi perde, invoca em seguida a soberania popular representada por ele. A forma política que propõe é, sim, uma mescla entre democracia e populismo, se bem que a sua ideia de democracia seja uma democracia pós-constitucional que faz da invenção do povo o seu traço distintivo. Tudo isso faz com que a Itália, mais que um país atípico, seja um laboratório inquietante onde se desenvolveu uma democracia pós-constitucional. Desse ponto de vista, na Itália está sendo construído o futuro dos sistemas políticos ocidentais…

O que quer dizer com pós-constitucional?

Zizek: Uma democracia que elimina a antiga divisão e equilíbrio entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Equilíbrio dos poderes definido por todas as constituições europeias e pelo Bill of Rights dos Estados Unidos…

Na Europa, tudo isso é chamado pós-democracia. Claro, Sílvio Berlusconi deseja superar a democracia representativa que conhecemos no capitalismo. Por isso é um líder político mais que nenhum outro. Acho que o presidente Nicolas Sakozy tem uma visão muito mais clara do que aquela posta em jogo no capitalismo. Isso quer dizer que é mais perigoso do que os outros expoentes da direita europeia ou dos EUA. Não nos encontramos, portanto, em frente a um personagem de opereta, que vai às mulheres e promulga leis ad personam. A tragédia apresenta sempre momentos de opereta. Mas há tragédia quando se manifestam conflitos radicais, onde não há possibilidade nem de mediação nem de salvação.

Será, por isso, interessante ver como evoluirá a situação italiana, que não representa – e sobre isso, estou de acordo consigo – uma anomalia, mas um laboratório político cuja existência condicionará muitíssimo o futuro político da Europa. Na Holanda, na Suécia, na Noruega, na Dinamarca, na França, na Inglaterra há, de fato, forças políticas populistas que recolhem sempre mais consensos eleitorais graças às campanhas anti-migratórias que conduzem, mas não têm aquele radicalismo que apresenta a situação italiana.

Dito isso, não é preciso, no entanto, desenvolver uma visão apocalíptica da realidade. É claro: há uma guerra civil rastejante na sociedade capitalista. A inquietação ambiental atingiu os níveis de vigilância. A democracia é reduzida a um simulacro. Ainda assim, nem tudo está perdido.

Pelo contrário. Como demonstra a recente crise econômica, quando tudo parece perdido, abre-se espaço para uma ação política radical, que eu chamo de comunista. Tomemos o recente encontro sobre ambiente realizado no ano passado em Copenhaga. O resultado final, mais que um êxito decepcionante, foi um desastre político. Há propostas, derrotadas nos trabalhos da cúpula, que indicam na salvaguarda do ambiente uma das prioridades para salvar o capitalismo. Podemos pensar numa aliança tática com quem o carrega avante.

A crise econômica, além disso, exigiu uma intervenção do Estado para salvar da bancarrota empresas, bancos e sociedades financeiras. Mas isso significou que o tabu sobre a periculosidade da intervenção reguladora do Estado foi quebrada. Isso pode reforçar os socialistas — isto é, aqueles que apontam para uma redistribuição dos rendimentos e de poder. Não é a política que eu amo, mas abre espaço a propostas mais radicais. Por outras palavras, volta forte a ideia comunista de transformar a realidade. O que proponho não é um mero exercício de otimismo da razão, mas a consciência de que há forças e relações sociais que podem ser liberadas a partir da camisa de força do capitalismo.

Toni Negri e Michael Hardt acham que enfatizando as características do capitalismo pós-moderno criam-se condições para o governo da comuna — isto é, do comunismo – graças àquilo que definiu a virtude prometeica da multidão. Mais realisticamente, acho que devemos organizar as forças sociais oprimidas para uma ação praticável no presente e no futuro imediato.

VocÊ escreve, em sintonia com Alain Badiou, que o comunismo é uma ideia eterna. Uma política “comunista” deve, todavia, ancorar-se numa análise das relações sociais de produção e das formas que ela assume numa contingência histórica. Pode-se estar de acordo ou em discordância com a tese de Negri e Hardt sobre o capitalismo cognitivo, mas os seus escritos assinalam exatamente essa necessidade. Caso contrário, o comunismo torna-se uma teologia política, não acha?

Zizek: Não acredito, como Hardt e Negri, que com o desenvolvimento capitalista as forças produtivas, mais cedo ou mais tarde, entrem em rota de colisão com as relações sociais de produção. Precisamos agir politicamente para que isso aconteça. É esse o legado de Lenin que não pode mais ser apagado. Mas deixemos fora os textos sagrados e olhemos o capitalismo real. Existe certamente uma setor de força-trabalho cognitiva, mas que também continua a trabalhar em fábrica e que, como os migrantes, é reduzida a uma condição de submissão servil no processo laboral.

Para não jogar no lixo da história esses “excluídos”, ou “marginais”, é preciso uma forte imaginação política, capaz de recompor e unir os diferentes setores da força-trabalho. A teologia é sempre fascinante, mas, quando digo que a ideia comunista é eterna, refiro-me ao fato de que é uma constante na história humana a tensão de superar a condição de escravidão e exploração. Por isso, o comunismo volta sempre, mesmo quando tudo previa que fosse permanecer definitivamente sepultado sob os escombros do socialismo real.

Tradução: Anete Amorim Pezzini para o Outras Palavras



– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Contrariar interesses empresariais, a agenda silenciosa de Dilma

Carta Maior:

Passados os primeiros cem dias de mandato, presidenta começa a impor uma agenda própria disposta a aproveitar maioria política e fragilidade de adversários para enfrentar alguns interesses empresariais que atrapalhariam o desenvolvimento e o interesse nacional. Bancos e telefônicas já sofrem com os planos governistas.

André Barrocal

BRASÍLIA – O principal assunto dos cem primeiros dias da gestão Dilma Rousseff, a consumir a energia presidencial, foi o combate da inflação. A pressão sobre os preços é anterior à posse de Dilma e, na avaliação do Palácio do Planalto, parece sob controle, graças a uma combinação de ações do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Com isso, aos poucos, o governo começará a impor sua própria agenda. Foi o que fez ao lançar, dia 28 de abril, programa para incentivar o ensino em escolas técnicas, o Pronatec. Em maio, anunciará plano contra a pobreza, principal bandeira da atual administração.

São iniciativas que o governo faz questão de divulgar com pompa, em solenidades com a presidenta. Mas há também uma agenda silenciosa, sobre a qual se fala de forma mais discreta, em gabinetes e corredores. Aproveitar a folgada maioria no Congresso e a fragilidade dos adversários para, mesmo fora do ambiente parlamentar, enfrentar e contrariar interesses empresariais que atrapalhariam o desenvolvimento e o interesse nacional.

No mesmo dia em que anunciou o Pronatec, por exemplo, Dilma assinou medida provisória (MP) que permite aos Correios montar um banco e atuar como operadora de telefone celular. A intenção é botar a estatal para acossar o sistema financeiro e as telefônicas e derrubar o preço das tarifas cobradas da população nas duas áreas.

O ministério das Comunicações, a quem os Correios se subordinam, tem orientação 'incisiva' de Dilma, de acordo com o ministro Paulo Bernardo, para tocar o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) a todo o vapor. É um projeto que também bate de frente com as telefônicas, que praticam preços que o governo considera altos demais e agora, vêem a rediviva Telebrás no seu encalço.

Dias antes de assinar a MP dos Correios, Dilma havia convocado à sua sala o presidente de quatro bancos públicos – Banco do Brasil, do Nordeste, da Amazônia e Caixa Econômica Federal – para cobrar que façam mais empréstimos do tipo “microcrédito”. É uma modalidade de crédito criada no governo Lula para pessoas pobres pegarem dinheiro a juros mais baixos, mas que o sistema financeiro boicota, por falta de interesse (lucro).

Ainda em abril, o governo viu sacramentar a troca no comando na Companhia Vale do Rio Doce, cujo ex-presidente, Roger Agnelli, tinha uma filosofia que desagradava o Palácio do Planalto desde a gestão Lula. A mudança resultou de uma operação liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com respaldo de Dilma. O governo acredita que, com o novo presidente, Murilo Ferreira, conseguirá influenciar a Vale a ter uma postura mais favorável ao que entende ser do interesse nacional. Exemplo: finalmente tirar do papel a construção de siderúrgicas no Brasil, em vez de só exportar minério de ferro.

A troca da direção da Vale é um caso ilustrativo de como o governo tira proveito político da fragilidade atual dos adversários. Se a oposição não estivesse reduzida e desarticulada, aposta-se que Agnelli teria mais chance de resistir no cargo. Ele apelaria a aliados no PSDB e no DEM para acertar alguma forma de reação no Congresso ou junto à opinião pública que poderia ter feito o governo abandonar a pressão.

Bancos, alvos preferenciais
O governo prepara-se ainda para instituir um fundo de pensão exclusivo para funcionários públicos, a fim de utilizá-lo como arma de captação de recursos e, com isso, também “contrariar interesses”. É possível criá-lo desde 2003, quando o Congresso alterou a Constituição para servidor público pagar contribuição previdenciária a um fundo específico. Mas não nasceu até hoje porque depende de lei. É um projeto com tal proposta de lei que o governo finalizará em breve.

O Palácio do Planalto calcula que, com a contratação federal média de 20 a 25 mil servidores por ano, o fundo tem potencial para ser tão poderoso quanto a Previ, dos trabalhadores do Banco do Brasil, o maior da América Latina, com patrimônio superior a R$ 150 bilhões.

No controle do fundo, que por um tempo apenas coletará dinheiro, sem ter de pagar aposentadorias, o governo escolherá onde investir. Poderá usá-lo, por exemplo, para rolar a própria dívida pública, a juros menores, contrariariando o “mercado” de novo. Fundos de pensão detém hoje 15% da trilionária dívida federal, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, que tem feito reuniões com gestores de fundos para incentivá-los a comprar mais títulos públicos.

Os banqueiros, aliás, serão alvos preferenciais da disposição presidencial de “contrariar interesses”. Como ela disse em viagem recente à China, o país tem “o grande desafio” que “vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez”, de derrubar a taxa real de juros, a maior do planeta. A equipe econômica recebeu a orientação de Dilma de estudar como fazer para diminuir os chamados spreads bancários, pedaço das taxas de juros que se reverte em lucros bancários. “O mercado será um foco de tensão permanente com o governo”, afirma um assessor do Palácio do Planalto.

Mesmo no processo de domar a inflação, agenda herdada de 2010, o governo já enfrenta o “mercado” e os bancos. A presidenta dá apoio total para que a área econômica enfatize o uso de medidas alternativas ao juro do BC contra o aumento dos preços. Ela acredita que, quanto menos a taxa do Banco Central subir agora, menor será o patamar a partir do qual o governo terá de forçar sua redução até níveis 'compatíveis com as taxas internacionais', como diz Dilma.

Ao montar a cúpula do BC, a presidenta já havia sinalizado suas intenções. Dos sete diretores, cinco são funcionários de carreira do banco, sem passagens pelo “mercado” - portanto, menos suscetíveis às influências do pensamento no setor.

(*) A Previ é o fundo dos trabalhadores do Banco do Brasil e não da Petrobras, como a matéria afirmou inicialmente. Matéria corrigida e atualizada às 15:40.


Fotos: Wilson Dias/ABr

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Postagens populares