quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Precisamos de um discurso de esquerda alternativo"

Carta Maior - Política :

o mundo sem conquistar o poder e cobra espaço institucional para que a mídia possa de fato refletir a sociedade, por exemplo, com jornais, rádios e tevês para universidades e sindicatos. Intelectual comprometido em provar que as idéias pertencem ao mundo através da ação, Safatle vê limites na ascensão da classe C sem mudanças radicais na repartição da riqueza e defende: “Precisamos de um discurso de esquerda alternativo que esteja em circulação no momento em que as possibilidades de ascensão social (da chamada classe C) baterem no teto”.

Saul Leblon

Carta Maior conversou com o filósofo Vladimir Safatle, professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais instigantes analistas da cena política atual. Dotado de uma radicalidade não imobilista, o pensamento de Safatle joga luz nova sobre temas difíceis em torno dos quais a polaridade do campo da esquerda brasileira (PT versus não-PT) em geral patina, anda em círculos e não avança. Nesta entrevista à Carta Maior, o filósofo fala sobre as explosões populares (no mundo árabe e na Europa), a partir das quais alguns inferem a suposta agonia dos partidos políticos e discute os limites e trunfos conquistados pela chegada do PT ao poder no Brasil.

O filósofo rejeita a idéia de mudar o mundo sem conquistar o poder e cobra espaço institucional para que a mídia possa de fato refletir a sociedade, por exemplo, com jornais, rádios e tevês para universidades e sindicatos. Intelectual comprometido em provar que as idéias pertencem ao mundo através da ação, Safatle vê limites na ascensão da classe C sem mudanças radicais na repartição da riqueza e convoca seus pares: “Precisamos de um discurso de esquerda alternativo que esteja em circulação no momento em que as possibilidades de ascensão social (da chamada classe C) baterem no teto”. Por fim aconselha Lula a transformar seu instituto numa ‘internacional Lulista’ –um instrumento que ajude a esquerda latinoamericana a chegar ao poder. Leia a seguir a entrevista concedida por email:

Carta Maior - O longo descrédito com os políticos e suas siglas parece ter inspirado uma sentença cada vez mais freqüente no debate: a de que a forma partido está esgotada . Ao mesmo tempo, esse diagnóstico parece embutir um desejo conservador – que não é novo - de desqualificar a representação do conflito social. O que existe de esgotamento e o que existe de vontade de antecipar o funeral de um adversário incômodo?

Vladimir Safatle - Diria que temos um desafio de novo tipo. Primeiro, é certo que uma geracao de partidos de esquerda se esgotou exatamente por não dar conta da representacão do conflito social. Há uma camada de conflitos sociais que é simplesmente sub-representada ou invisível no interior da 'forma partido'. No exterior, o exemplo maior disto é a expoliacão econômica de imigrantes: pessoas sem voz no interior da dinâmica partidária. No Brasil, temos um embate em torno da dita nova classe média ao mesmo tempo que encontramos uma sub-representacão de conflitos próprias à 'velha classe pobre'. As revoltas dos trabalhadores em Jirau é um bom exemplo. Nenhum partido vocaliza tais revoltas.

CM - Há uma variante desse diagnóstico, à esquerda. Ela se apóia em evidências, como as recentes manifestações de rua no mundo árabe e na Europa, supostamente convocadas e coordenadas via facebook. Aqui parece haver um ludismo com sinal trocado na medida em que se dá à tecnologia tratos de um fetiche. Tudo se passa como se 'a tecnologia partidos' tivesse se esgotado. E uma nova ferramenta, agora em versão mais potente, viesse a sucedê-los com vantagens. Entre elas a ausência de intermediários e de corrupção. Mistificação ou novo espaço público?

VS - É verdade, há muito de mistificacão nesta maneira de anunciar a internet como a esperanca redentora da política. O que ela fez foi, em larga medida, permitir o desenvolvimento de uma militância virtual e intermitente. É mais fácil fazer militância hoje, já que você pode operar da sua casa através de redes de contra-informacão.

No entanto, insistiria que há uma tendência de mobilizacão social que tem pêgo os partidos a contra-pelo. Falta uma nova geracão de partidos capaz de dar forca institucional a tais mobilizacões. Este partidos talvez não funcionarão de maneira 'tradicional', mas como uma frente, uma federacão de pequenos grupos que se organizam para certas disputas eleitorais e depois se dissolvem. É difícil ainda saber o que virá. Certo é apenas o fato de que os movimentos políticos mais importantes (revoltas na Grécia, Espanha, Portugal) parecem ser feitos atualmente à despeito dos partidos. O que limita seus resultados. Não creio que podemos 'mudar o mundo sem conquistar o poder'. Quem gosta de ouvir isto são aqueles que continuam no poder. Para conquistar o poder, temos que vencer embates eleitorais.

CM - O debate sobre a irrelevância dos partidos convive com a realidade de um torniquete menos debatido: a captura da vida democrática pela supremacia das finanças. Ao normatizar o que pode e o que não pode ser objeto de conflito e de escrutínio, a hegemonia das finanças não teria engessado a própria democracia representativa? E assim contaminado todos os seus protagonistas com a sombra da irrelevância?

VS - Certamente. Este é um dos limites da democracia parlamentar. Não há como escaparmos disto no interior da democracia parlamentar. Só se contrapõe ao domínio do mundo financeiro através de um aprofundamento da democracia plebicitária, como a Islândia demonstrou ao colocar em plebiscito o auxílio estatal a um banco falido. Devemos simplesmente deslocar questões econômicas desta natureza para fora da democracia parlamentar. Um Estado não pode emprestar bilhões para massa financeira falida sem uma manifestação direta daqueles que pagarão a conta. O problema é que vivemos em uma fase do capitalismo de espoliação.

CM - A mídia é muitas vezes apontada como a caixa de ressonância dessa subordinação do conflito aos limites da finança. Nesse sentido a sua regulação não seria tão ou mais importante que o financiamento público de campanha?

VS - Acho que a sociedade ocidental (e não apenas a brasileira) precisa, de fato, encarar a defasagem das leis a respeito da regulação econômica da mídia. Trata-se de um dos mercados mais oligopolizados e concentrados do planeta, o que está longe de ser algo bom para a democracia. Seria importante que houvesse um sistema que facilitasse a entrada de novos atores no campo midiático. Não consigo admitir, por exemplo, que universidades públicas, sindicatos e associacões tenham tão pouca presença em rádios, televisões e jornais.

CM - O PT no Brasil condensa todos esses impasses ao personificar, na opinião de alguns, uma trágica verdade: o preço do poder é a necrose da identidade mudancista. Isso é fatal? Ou dito de outro modo:um partido depois de passar pelo poder ainda pode suprir o anseio de mudança da sociedade?

VS - Ele pode suprir tais anseios, mas desde que esteja realmente disposto a avancar nos processos de modernização política e criatividade institucional, o que não creio ter sido o caso do PT. Há um profundo déficit de participacão popular nos governos do PT. Claro que se olharmos para a direita brasileira (PSDB e seus aliados) a situacão é infinitamente pior. Mas o PT, neste ponto, tem nos obrigado a votar fazendo o cálculo do mal menor. Ele tirou da sua pauta o aprofundamento de mecanismos de participação popular. O resultado será um embotamento político que pode se voltar contra a própria esquerda.

CM - Algumas avaliações dizem que o governo Lula foi em parte a causa desse entorpecimento petista. Outros sugerem que o próprio Lula foi refém de uma energia política insuficiente para promover um projeto de mudança mais profundo na sociedade. Que ponto da régua estaria mais próximo da realidade em sua opinião?

VS - Creio que Lula foi bem sucedido em ser uma espécie de Mata Hari do capitalismo global. Ele soube jogar em dois tabuleiros, um pouco como Getúlio Vargas. Sua política foi bipolar. Por exemplo, enquanto recebia George Bush falando que era seu maior aliado, seu partido fazia manifestacões contra a vinda do próprio George Bush. O resultado final deste processo foi criar um sistema muito parecido àquele deixado por Vargas. O PT é, hoje, herdeiro direto do PTB. O PMDB parece uma espécie de PSD sem uma figura carismática como Juscelino e a oposicão esmera-se no seu figurino UDN. Bem, é triste perceber que, quando o Brasil comeca a andar, ele sempre volta ao mesmo ponto de estabilidade política. Parece que nunca conseguimos ultrapassar este mecanismo bipolar.

CM - O Governo Dilma será a culminância dessa acomodação histórica? Ou a crise mundial pode destravar o processo e inaugurar um novo ciclo, na medida em que impõe escolhas duras entre desenvolvimentismo versus financeirização?

VS - Creio que o governo Dilma será um governo que usará a margem de manobra fornecida pelo crescimento econômico em uma era onde as economias dos países europeus (assim como os EUA) continuarão em crise. Neste sentido, nossa única esperanca concreta de mudanca virá quando a dita nova classe média perceber que ele só continuará seu ciclo de ascenção se não precisar gastar fortunas com educacão e saúde privadas. No entanto, a consolidação de um verdadeiro sistema público de educacão e saúde não será feito sem uma pesada taxação sobre a classe rica e um aumento considerável na tributacão da renda. Isto, em um país como o Brasil, tem o peso de uma revolucão armada. Vejam que engracado, vivemos em um país onde a implantação de um modelo tributário das sociais-democracias européias dos anos 50 equivaleria a uma ação política da mais profunda radicalidade. Não creio que o PT fará algo neste sentido. Mesmo a discussão a respeito de um imposto sobre grandes fortunas foi abandonada. Precisamos de um discurso de esquerda alternativo que esteja em circulacão no momento em que as possibilidades de ascenção social baterem no teto.

CM - O que seria uma agenda relevante para Lula e o seu Instituto numa conjuntura como essa de flacidez partidária e atritos duros entre desenvolvimento, igualdade e acomodação à crise?

VS - O melhor que seu Instituto poderia fazer é organizar uma espécie de Internacional lulista que ajude a esquerda a vencer em países da América Latina.



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Dieese: 94% dos pisos salariais negociados em 2010 tiveram ganhos acima da inflação

Agencia Brasil:
"Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A maioria das negociações coletivas entre patrões e empregos teve reajustes salariais acima da inflação no ano passado, segundo o estudo Balanço dos Pisos Salariais Negociados em 2010, divulgado hoje (14) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

De acordo com o estudo, feito por meio do Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS), das 660 negociações de pisos salariais analisadas pelo Dieese no ano passado, 94% tiveram reajustes em percentuais acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indicador normalmente usados nas negociações de acordos coletivos. Em 2% das negociações, os aumentos foram iguais ao índice da inflação e em 4% os pisos salariais foram corrigidos em percentuais inferiores ao INPC acumulado desde a última data-base.

Segundo o Dieese, o bom resultado das negociações dos pisos salariais está vinculado ao comportamento da economia brasileira em 2010. Isso se deve, principalmente, ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 7,5%, ao aumento do salário mínimo e ao crescimento do emprego formal.

O0 maior reajuste salarial concedido no ano passado representou um ganho real de 34,3% acima do INPC, contatou o estudo do Dieese. O menor teve perda real de 8,6%. Ambos foram observados no setor industrial. O destaque foi o setor rural, onde todos os pisos analisados tiveram aumento acima da inflação.

Embora a maioria dos reajustes tenha sido acima da inflação, a maior parte das negociações de pisos acompanhadas pelo Dieese no ano passado se concentrou nas menores faixas salariais. Quase um terço do pisos negociados no ano passado tinha valor de até R$ 550 e metade não passava dos R$ 600. Os pisos superiores a R$ 1.000 representaram apenas 6% do total analisado. O menor valor de piso salarial registrado em 2010 foi de R$ 510, equivalente ao salário mínimo vigente no período, e o maior chegou a R$ 2,6 mil. O valor médio do piso foi R$ 669,16 no ano passado, superior a 2009, quando o valor médio do piso foi R$ 611,89.

“Se, por um lado, observa-se um quadro positivo de valorização dos pisos salariais via aumentos reais, por outro é notável como ainda são baixos os salários de entrada de boa parte dos trabalhadores brasileiros”, diz o Dieese.

Dos 660 pisos analisados, 639 envolviam funções para as quais não era necessário ter nível universitário para desempenhá-las. Para quem tem nível superior, o piso salarial médio no ano passado foi R$ 1.356,08. Para os trabalhadores que não tinham faculdade, o piso médio foi R$ 646,58.

No ano passado, o salário mínimo necessário para cobrir as despesas dos trabalhadores deveria ser R$ 2.110,26, valor 4,14 vezes superior ao mínimo do período (R$ 510).

Edição: João Carlos Rodrigues

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Arquivos da época da ditadura militar serão disponibilizados na internet

BRASIL! BRASIL!:
"Daniel Mello, Agência Brasil

“O projeto Brasil Nunca Mais Digital que vai repatriar a digitalizar o conteúdo de 707 processos instaurados no Superior Tribunal Militar durante a ditadura de 1964 a 1985 foi lançado hoje (14) na capital paulista. Os documentos serão hospedados no servidor do Ministério Público Federal e disponibilizados para consultas pela internet. A previsão é que o processo seja concluído em um ano.

Os arquivos do período entre 1961 e 1976 foram copiados e microfilmados ainda durante a ditadura, em um trabalho apoiado por entidades católicas e protestantes. Advogados pediam acesso aos processos com o pretexto de consulta e, em posse dos documentos, passava para um grupo que fazia fotocópias antes do material ser devolvido.

Depois tudo foi transformado em microfilme, como forma de reduzir o risco de apreensão e facilitar o transporte. Com medo que os militares destruíssem as provas das violações dos direitos humanos, as cópias em microfilme foram enviadas para os Estados Unidos onde ficaram sob a guarda do Center for Research Libraries. O material retornou ao Brasil e foi entregue hoje ao Ministério Público Federal.

O vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic, disse que, com o projeto, será possível aprofundar as pesquisas. “Nós temos 1 milhão de páginas que quando indexadas, com um sistema de busca moderno, podem trazer elementos novos para muitas situações. Coisas que podem ter passado desapercebidas nesses 26 anos de pesquisa manual e individual de cada pesquisador”, afirmou.

Para o procurador da República em São Paulo, Marlon Alberto Weichert, o sistema vai facilitar a difusão e uso pedagógico dessas informações. “Precisamos educar o povo brasileiro em cidadania e diretos humanos. E isso a gente só faz contando o que ocorreu de uma forma transparente e imparcial”.



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terça-feira, 14 de junho de 2011

Berlusconi sofre nova derrota na Itália

Carta Maior - Internacional :
Nos quatro referendos realizados na Itália participaram 57% dos eleitores, tendo o “Sim” ganho por largas maiorias, próximas ou superiores a 95%. Assim, os italianos votaram pela água pública e contra o aumento do preço das tarifas, rejeitaram a energia nuclear e a imunidade para Berlusconi. Consciente da derrota, Berlusconi tinha defendido na quinta feira a abstenção, em vez de defender as suas próprias leis, para tentar garantir que os referendos não fossem vinculativos. Porém, a resposta foi esmagadora, com a maior participação dos últimos tempos.

Esquerda.net

O governo de Berlusconi sofreu uma nova e profunda derrota nos quatro referendos realizados nestes domingo e segunda feira. Nos referendos participaram mais de 57% dos eleitores, o que os torna vinculativos.

No primeiro referendo, contra a aceleração da privatização da água, o “sim” ganhou por 95,7% contra 4,3%.

No segundo referendo, sobre a revogação da lei que prevê que as tarifas dos serviços de água sejam determinadas em função do capital investido, provocando o aumento da factura da água, o “sim” obteve 96,1%, enquanto o “não” ficou pelos 3,9%.

No terceiro referendo contra a energia nuclear (revogação das novas normas que permitem a produção de energia nuclear em território nacional) o “sim” atingiu 94,6% e o “não” apenas 5,4%.

No quarto referendo, de revogação da lei que garantia a imunidade a Berlusconi e aos seus ministros, o “sim” atingiu 95%, enquanto o “não” ficou com cerca de 5%.

Berlusconi, já consciente da derrota, tinha defendido na quinta feira a abstenção, em vez de defender as suas próprias leis, para tentar assim que os referendos não fossem vinculativos. Porém, a resposta foi esmagadora, com a maior participação desde há muito anos e com a rejeição das lei do governo por percentagens de 95% e superiores, que não deixam quaisquer margens a dúvidas.

O resultado dos quatro referendos foi mais um duro golpe para o governo de Berlusconi, que perdeu recentemente a Prefeitura de Milão, um dos seus redutos tradicionais. É importante também por reforçar a luta contra a onda de privatizações de bens essenciais que a direita europeia tanto preconiza.

Duas das leis que foram a referendo versavam sobre a privatização do abastecimento de água, uma terceira reintroduzia o uso da energia nuclear no país, o que permitiria ao primeiro-ministro relançar a construção de quatro centrais nucleares em parceria com a França, e uma quarta lei tratava do 'legítimo impedimento', a norma que permitiria a Berlusconi, aos presidentes do Senado e da Câmara, além do presidente da República, de se ausentarem das audiências judiciais contra si alegando motivos de agenda.

O governo Berlusconi fez uma forte campanha pela abstenção, tentando evitar que se obtivesse a maioria necessária para tornar os referendos vinculativos, o que corresponde a uma votação de, pelo menos, 51% do universo de eleitores. Perdeu. De novo.



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Paz ou guerra em setembro de 2011?

Carta Maior
"O presidente Barack Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama. O artigo é de Reginaldo Nasser.

Reginaldo Nasser (*)

No dia 23 de maio o presidente Barack Obama proferiu um discurso sobre a política externa dos EUA para o Oriente Médio no Departamento de Estado, declarando seu apoio à primavera árabe e reiterando sua crença a solução de dois Estados é a melhor maneira de resolver o conflito israel-palestino. No dia seguinte, foi a vez do primeiro ministro israelense, Netanyahu, dar seu recado. Em seu discurso no congresso rejeitou várias afirmações de Obama, sendo efusivamente aplaudido pelos congressistas (29 aclamações). Atribuiu a responsabilidade do conflito aos palestinos devido à não aceitação da existência do Estado de Israel: “eles simplesmente não querem acabar com o conflito. Eles continuam educando suas crianças para o ódio. Eles continuam com a fantasia de que Israel será um dia inundada pelos palestinos refugiados”. Assim, a proposta do governo israelense foi clara: só poderá existir um estado Palestino desmilitarizado e dentro de fronteiras diferentes daquelas acordadas em 1967 na Resolução 242 da ONU. Consequentemente, não aceitar essa proposta, é, para Netanyahu, sinal de que os palestinos não desejam a paz.

Equanto isso em Jerusalém, o ex-chefe da Mossad, Meir Dagan, que dirigiu a organização entre 2002-2010, criticou, publicamente, o governo israelense por “falta de discernimento e flexibilidade”, chamando-o de 'imprudente e irresponsável' no tratamento da política de segurança de Israel. Dagan considera uma ameaça maior o isolamento de Israel por um grande segmento da comunidade internacional como provável resultado do esforço da Palestina em obter o reconhecimento de seu Estado. Ele alerta que diante da pressão internacional, Israel poderá trazer à tona o velho argumento de responder aos pequenos incidentes forçando uma solução militar.

Dagan não é nenhum pacifista utópico. Quando foi escolhido para ser chefe da Mossad, Sharon disse que ele queria uma Mossad com 'uma faca entre os dentes.' Nos últimos meses, o chefe militar, Gabi Ashkenazi, e o diretor da agência de segurança Shin Bet, Yuval Diskin, também renunciaram. Portanto, além de indicar a existência de fissuras dentro do establishment de segurança nacional de Israel, a saída desse triunvirato, de acordo com o próprio Dagan, demonstra que Netanyahu está removendo aqueles que até então resistiam à sua estratégia de atacar o Irã.

Dagan não acredita em uma paz com a Síria, se opõe fortemente à criação de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967 ou a qualquer compromisso sobre os refugiados, mas acha que Israel, por seu próprio bem, deve tomar a iniciativa no processo de paz. Principalmente nesse momento em que ocorrem mudanças regionais, ele está preocupado, em primeiro lugar pelo que está acontecendo no Egito.

Ao mesmo tempo, o presidente Obama, antecipando as movimentações para o período eleitoral de 2012, iniciou uma mudança radical em sua equipe de segurança nacional que pode ter graves repercussões no Oriente Médio. O presidente nomeou o diretor da CIA, Leon Panetta, para assumir o posto de secretário de Defesa, escolheu o comandante da guerra do Afeganistão, general David Petraeus, para substituir Panetta na agência de inteligência e indicou o General Martin Dempsey para chefe do Estado-Maior das forças armadas dos EUA. A nomeação desse último foi feita no 'Memorial Day', o feriado anual que recorda os americanos mortos em combate, e ocorre em um momento crítico de reorganização do aparato de defesa e segurança dos Estados Unidos.

Nas últimas duas décadas, Dempsey passou a maior parte do seu tempo dedicado ao Oriente Médio: oficial de operações com o corpo de blindados na Guerra do Golfo(1991); chefe da delegação americana que treinou a guarda nacional saudita; comandante de uma divisão de blindados no Iraque em 2003; oficial responsável pela formação do novo exército iraquiano, e finalmente chefiando o Comando Central, que abrange o Irã, Egito, Síria e a Jordânia. Além disso, Dempsey é bastante familiarizado com as Forças de Defesa de Israel por meio de intercâmbio de informações e de opiniões entre as forças de ambos os exércitos nos últimos anos. É um estudioso e admirador das ações de Israel na Guerra de 1973, Guerra do Líbano (2006) e das ações contra o terrorismo nos territórios ocupados.

Portanto, como bem observou Amir Oren (Obama's new security staff may approve attack on Iran Haaretz 01/06/2011) as mudanças na equipe de segurança nacional dos EUA são não apenas um assunto norteamericano. Apesar de o próprio Oren reconhecer ser difícil, Dempsey, no início do seu mandato, convencer Obama a atacar o Irã, ou mesmo permitir Israel fazê-lo, não se pode negligenciar seus estreitos laços com o pessoal da forças de Defesa israelenses e a confiança do Congresso norte-americano nos planos de Netanyahu.

Para Israel e os EUA, recorrer à ONU e não acreditar em Netanyahu e Obama passou a ser denominado de unilateralismo e ameaça à Paz! No momento em que cresce o apoio da comunidade internacional para o reconhecimento diplomático de um Estado Palestino na Assembléia Geral da ONU, em setembro, aumentam também as possibilidades de um ato tresloucado da direita israelense com o apoio do democrata Obama.




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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dilma fecha reestruturação política; mulheres são maioria no Planalto

Carta Maior:
"Para tentar encerrar de vez crise de relacionamento do governo com partidos aliados, Dilma Rousseff completa reestruturação da área política, iniciada com demissão de Antonio Palocci, e troca ministro das Relações Institucionais. Mas resiste à pressão de setores do PT e indica nome de sua preferência, a ex-senadora Ideli Salvatti. Pela primeira vez na história brasileira, mulheres são maioria nos cargos mais importantes do Palácio do Planalto.

André Barrocal

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff concluiu nesta sexta-feira (10/06) a reformulação da área política do governo a que foi obriga pela crise de relacionamento com aliados exposta ao público na crise do ex-ministro Antonio Palocci, que era até aquele momento o principal estrategista e articulador presidencial. Depois da saída de Palocci, Dilma decidiu trocar o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência e nomear para o cargo a ex-senadora petista Ideli Salvatti, que assumirá na próxima segunda-feira (13/06).

A opção de Dilma por Ideli faz com que, pela primeira vez na história brasileira, as mulheres estejam em maioria nos postos de comando mais importantes da Presidência da República, sem contar a presidenta e o vice, Michel Temer. Dos cinco ministros que trabalham no Palácio do Planalto, três serão mulheres com a posse de Ideli: ela, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Helena Chagas (Comunicação Social). Aos homens, restaram a Secretaria Geral, do ministro Gilberto Carvalho, e o Gabinete de Segurança Institucional, do general José Elito Carvalho Miranda.

Com a substituição nas Relações Institucionais, Dilma tenta melhorar o convívio do governo com o Congresso e os partidos aliados, especialmente com o PT. Os petistas estavam insatisfeitos com Palocci e com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Achavam que o primeiro não defendia, perante a presidenta, as reivindicações do partido por cargos e rumos do governo. E que Luiz Sérgio, que deveria ajudar a pressionar Dilma, acanhara-se e deixara-se engolir pela força do ex-chefe da Casa Civil.

Esse tipo de contrariedade selou o destino dos dois ministros e obrigou a presidenta a reformular a área política do governo. Nenhum partido aliado fez defesa enfática de Palocci na denúncia de enriquecimento de ilícito, que o ex-chefe da Casa Civil acredita ter sido obra de “fogo amigo”.

Vários políticos, sobretudo do PT, aproveitaram o caso, que forçou uma discussão da condução política do governo, para minar Luiz Sérgio e tentar derrubá-lo, como se pode observar em inúmeras reportagens em jornais e na internet nas quais os interesses escondiam-se sob anonimato.

Um dos mais interessados no cargo era o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que ainda não assimilou ter derrotado pelo colega petista Marco Maia (RS) na disputa pela presidência da Casa, em fevereiro.

Time das 'duronas'
Segundo apurou Carta Maior, pessoalmente, Dilma não tinha intenção de trocar Luiz Sérgio, pois tem convivência cordial com ele. Tanto que o manteve no governo - ele vai para o lugar de Ideli no Ministério da Pesca. A presidenta convenceu-se, porém, de que, se o segurasse, ainda teria problemas políticos, já que o ministro perdera autoridade, a exemplo de Palocci.

Mas Dilma não cedeu de todo. Resistiu à tentativa do PT, especialmente da bancada de deputados, de impor-lhe um nome. A escolha de Ideli foi pessoal da presidenta, que deu mais uma demonstração de que gosta de ter auxiliares do tipo “linha dura”.

Já havia demonstrado isso ao nomear Gleisi Hoffmann para o lugar de Palocci. A senadora vinha se destacando no Congresso pela defesa inflexível do governo. Em seu discurso de posse na chefia da Casa Civil, na última quarta-feira (08/06), Gleisi tentou inclusive mostrar que tem condições de ser flexível, o tipo de coisa que a classe política adora ouvir. Recusou a pecha de “trator” e disse que sua escolha sinalizava “apreço” de Dilma pelo Congresso.

Com Ideli, acontece o mesmo. Nos oito anos do governo Lula em que foi senadora, sete deles exercendo algum tipo de liderança (do governo ou do PT), mostrou ter temperamento forte, o que várias vezes lhe custou brigas com adversários e até com aliados.

Em entrevista nesta sexta-feira (10/06) na qual já falou como indicada por Dilma, Ideli também foi confrontada com a imagem de “durona”. E, a exemplo de Gleisi, tentou mostrar flexibilidade. “A relação com todos os partidos será respeitosa sempre”, afirmou a ministra, que disse que vai usar “ouvidos, coração e bom senso” no novo cargo.

Escanteado pelas circunstâncias, Luiz Sérgio participou da mesma entrevista, ao lado de Ideli, para dar sua versão sobre sua saída. Disse que se trata de uma “reformulação natural” da coordenação política do governo e que não há “desarticulação” da base aliada de Dilma.


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Lições da crise

Carta Maior - Blog do Emir Sader:

1. Bombas de tempo podem tardar a explodir, mas terminam explodindo.

2. Devem ser examinados exaustivamente os antecedentes de todos os que vão ocupar cargos públicos.

3. Uma vez estourada uma crise como essa, melhor desativá-la rapidamente. Deixar sangrar provoca danos muito maiores.

4. O zelo pela questão da ética publica, além de ser um fim em si mesmo, afeta diretamente os setores mais dinâmicos de apoio ao governo: militância de esquerda, movimentos sociais, juventude, artistas, intelectuais, formadores de opinião publica em geral. Deve-se cuidá-los como a menina dos olhos.

5. Quando mudar, tratar sempre de inovar na escolha de quadros. A politica brasileira precisa disso.

6. Acompanhar as mudanças com discurso que explica o significado delas.

7. A consciência das intenções de quem faz acusações pode ser clara, sem que elas deixem de ser verdadeiras.

8. A recuperação do prestígio da prática politica requer um cuidado estrito com a ética pública.

9. Não precipitar declarações incondicionais de apoio a pessoas que recebem acusações, antes do apuro rigoroso delas.

10. Os partidos devem ter suas próprias posições, mais além do apoio firme ao governo. Devem expressar os sentimentos e as posições da militância do partido, dos movimentos sociais e do campo popular.

11. Apoio do PMDB é sempre abraço de urso.

12. A mídia privada continua com grande poder de definir a agenda nacional e derrubar ministros.

13. Fazer política, exercer o poder não é atividade técnica, nem de repartição de cargos, mas uma combinação de persuasão e força, isto é, construção de hegemonia.

Postado por Emir Sader às 03:15

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