sábado, 5 de março de 2011

No carnaval, sexo sem camisinha não dá !



sexta-feira, 4 de março de 2011

PNUD: Brasil lidera economia da cultura na AL

Portela/Lucimar Pellegrini



Reportagens
Genebra, 05/01/2011

País é o que mais exporta e importa bens e serviços da indústria criativa e tem o maior superávit da América Latina, diz relatório
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da PrimaPagina
O Brasil é o país da América Latina com o maior saldo positivo no comércio exterior de produtos e serviços ligados à indústria criativa – que abrange áreas tradicionais da cultura (como música, TV, cinema e artes plásticas), mas também artesanato, comunicação, design, arquitetura e itens ligados às novas tecnologias. Em 2008, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 1,74 bilhão, segundo o Relatório de Economia Criativa de 2010, publicado pelo PNUD e pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).

Das 13 nações da região com volumes mais expressivos de fluxo comercial nessa área, apenas quatro registraram superávit: Peru (US$ 251 milhões), Argentina (US$ 55 milhões) e Bolívia (US$ 4 milhões), além do Brasil. Os maiores déficits são de Venezuela (US$ 2,19 bilhões) e México (US$ 1,51 bilhão).




Ao longo dos seis anos analisados no estudo, o Brasil aumentou tanto o volume de exportação quanto o de importação de bens e serviços ligados à indústria criativa. Mas o grande responsável pelo resultado brasileiro são os serviços, cujo superávit saltou de US$ 477 milhões em 2002 para US$ 2,24 bilhões, em 2008.

No período analisado, o país foi sempre o que mais importou e mais exportou serviços da indústria criativa na América Latina, e registrou superávit todos os anos. O segmento que mais alavanca as exportações é o arquitetônico, que em 2008 respondeu por 88% das vendas (US$ 5,59 bilhões) e 71% das compras (US$ 2,92 bilhões).

Nos produtos o cenário é um pouco diferente. O Brasil tem grande participação nessa área, mas fica atrás do México – as exportações mexicanas alcançaram US$ 5,17 bilhões, e as brasileiras, US$ 1,2 bilhão. O país vizinho aos Estados Unidos, contudo, também importa mais (US$ 6,54 bilhões em 2008, contra US$ 1,72 bilhão do Brasil) e tem déficit maior. A balança comercial brasileira de produtos da indústria criativa vinha sendo positiva até 2007, mas ficou no vermelho em 2008 (déficit de US$ 506 milhões).

Carnaval

O estudo da UNCTAD e do PNUD afirma que o Carnaval é um dos principais impulsionadores da indústria criativa no Brasil. O impacto se dá pela "produção direta de artigos e performances gravadas para a venda para a população local e aos turistas, e pelos efeitos indiretos dos gastos dos turistas cujas visitas foram estimuladas pelo Carnaval".

A festa ajuda ainda a desenvolver as habilidades dos artistas locais, e impulsiona a venda de produtos e de negócios elaborados por conta da celebração. "O Carnaval oferece uma concentração de performances de música e dança ao vivo e gravadas que têm um significado cultural considerável para o público nacional e internacional", destaca o relatório.

Uma pesquisa, mencionada no estudo, sobre a cadeia associada ao Carnaval no Rio de Janeiro aponta que a festa, com retorno anual estimado em US$ 600 milhões, emprega quase meio milhão de pessoas e tem impacto direto e indireto na economia, não apenas da cidade, mas do estado.

Outra contribuição para o aumento das exportações de bens e serviços criativos na América Latina foi a retomada da produção cinematográfica na região, particularmente em Argentina, Brasil e México. Porém, o relatório avalia que os filmes nacionais continuam lutando por um espaço na tela com os grandes sucessos estrangeiros. Raramente ficam entre os dez mais vistos nos países, e a participação deles no mercado fica bem atrás das produções internacionais.

A novela é outro produto que ajuda a impulsionar a economia criativa latino-americana. "Na produção televisiva, há casos de sucesso, como a Televisa, no México, e a TV Globo, que são os maiores exportadores de programas de televisão – em sua maioria, novelas – para mercados mundiais", diz o texto.

O povo brasileiro traz no lombo a marca do chicote da escravidão que ...

Reproduzido da Carta Capital

A maior desgraça

Três séculos de escravidão vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira. Por Mino Carta. Imagem: Rover Viollet/AFP
 
Três séculos de escravidão vincam até hoje os comportamentos da sociedade brasileira

Escrevi certa vez que se Ronaldo, o Fenômeno, se postasse na calada da noite em certas esquinas de São Paulo ou do Rio, e de improviso passasse a Ronda, seria imediata e sumariamente carregado para o xilindró mais próximo. Digo, o mesmo Ronaldo que foi ídolo do Brasil canarinho quando adentrava ao gramado. Até Pelé, creio eu, nas mesmas circunstâncias enfrentaria maus bocados, embora se trate de “um negro de alma branca”.
Aí está: o protótipo do preto brasileiro, o modelo-padrão, está habilitado a representar e orgulhar o Brasil ao lidar com a redonda ou ao compor música (popular, esclareça-se logo), mas em um beco escuro­ será encarado como ameaça potencial. Muitos, dezenas de milhões, acreditam em uma lorota imposta pela retórica oficial: entre nós não há preconceito de raça e cor. Pero que lo hay, lo hay. Existem provas abundantes a respeito e a reportagem de capa desta edição traz mais uma, atualíssima. Na origem, obviamente, a escravidão, mal maior da história do Brasil.
Há outros, está claro. A colonização predatória, uma independência sequer percebida pelo povo de então, uma república decidida pelos generais, avanços respeitáveis enodoados por chegarem pela via da ditadura de Vargas. E o golpe de 1964, último capítulo do enredo populista comandado por uma elite que, como diz Raymundo Faoro, quer um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo. Enfim, um esboço de democratização pós-ditadores fardados ainda em andamento.
A desgraça mais imponente são, porém, três séculos de escravidão e suas consequências. A herança da trágica dicotomia, casa-grande e senzala, continua a determinar a situação do País, dolorosamente marcada pela desigualdade. Há quem pretenda que o preconceito à brasileira não é racial, é social, mas no nosso caso os qualificativos são sinônimos: o miserável nativo não é branco.
A escravidão vincou profundamente o caráter da sociedade. De um lado, os privilegiados e seus aspirantes, herdeiros da casa-grande, e os empenhados em chegar lá, e portanto ferozes e arrogantes em graus proporcionais. Do outro lado, a maioria, em boa parte herdeira da senzala, e portanto resignada e submissa. De um lado uma elite que cuidou dos seus interesses em lugar daqueles do País, embora o Brasil represente um patrimônio de valor inestimável, de certa forma único. Do outro, a maioria conformada, incapaz de reação porque, antes de mais nada, tolhida até hoje para a consciência da cidadania.
O povo brasileiro traz no lombo a marca do chicote da escravidão que a minoria ainda gostaria de usar, quando não usa, e não apenas moralmente. Aqui rico não vai para a cadeia, superlotada por pobres e miseráveis, e não se exigem desmedidos esforços mentais para localizar a origem dessa situação medieval. Trata-se simplesmente de ler um bom, confiável livro de história.
Será possível constatar que afora o devaneio de alguns poetas e a reflexão de alguns pensadores, o maior problema do Brasil, a desigualdade gerada pela escravidão, nunca foi enfrentado com o ímpeto e a determinação necessários. Nos anos de Lula, agredido por causa do invencível preconceito pela mídia nativa, na sua qualidade de perfeita representante dos herdeiros dos senhores de antanho, a questão foi definida com nitidez. Mas se o diagnóstico foi correto, os remédios aviados foram insuficientes. Poderia ser de outra maneira? Melhorar a vida das classes mais pobres não implica automaticamente a conquista da consciência da cidadania, que há de ser o objetivo decisivo.
CartaCapital confia na ação da presidenta Dilma e acredita que seu governo saberá dar prosseguimento às políticas postas em prática pelo antecessor e empenhar-se a fundo no seu próprio programa de erradicação da miséria. Sem esquecer que o alvo principal fica mais adiante.

Mino Carta

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br

quarta-feira, 2 de março de 2011

Especuladores da fome fazem preço dos alimentos aumentar



Reproduzido da Carta Maior

Especuladores da fome fazem preço dos alimentos aumentar

Não são apenas más colheitas e mudanças no clima; especuladores também estão por trás dos preços recordes nos alimentos. E são os pobres que pagam por isso. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar as alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão fazendo bilhões em lucro da especulação sobre a comida e causando miséria ao redor do mundo. O artigo é de John Vidal.

Há pouco menos de três anos, as pessoas da vila de Gumbi, no oestede Malawi, passaram por uma fome inesperada. Não como a de europeus,que pulam uma ou duas refeições, mas aquela profunda e persistente fome que impede o sono e embaralha os sentidos e que acontece quando não se tem comida por semanas. Estranhamente, não houve seca, a causa tradicional da mal nutrição e fome no sul da África, e havia bastante comida nos mercados. Por uma razão não óbvia o preço de alimentos básicos como milho e arroz havia quase dobrado em poucos meses. Não havia também evidências de que os donos de mercados estivessem estocando comida. A mesma história se repetiu em mais de 100 países em desenvolvimento.

Houve revolta por causa de comida em mais de 20 países e governos tiveram que banir a exportação e subsidiar fortemente os alimentos básicos. A explicação apresentada por especialistas da ONU em alimentos era de que uma “perfeita” conjunção de fatores naturais e humanos tinha se combinado para inflar os preços. Produtores dos EUA, diziam as agências da ONU, tinham disponibilizado milhões de acres de terra para a produção de biocombustíveis; preços de petróleo e fertilizantes tinham subido intensamente; os chineses estavam mudando de uma dieta vegetariana para uma baseada em carne; secas criadas por mudanças no clima estavam afetando grandes áreas de produção.

A ONU disse que 75 milhões de pessoas se tornaram mal nutridas em função do aumento de preços. Mas uma nova teoria está surgindo entre economistas e mercadores. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar as alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão fazendo bilhões em lucro da especulação sobre a comida e causando miséria ao redor do mundo.

Conforme os preços sobem além dos níveis de 2008, fica claro que todos estão agora sendo afetados. Os preços da comida está subindo até 10%por ano no Reino Unido e na Europa. Mais ainda, diz a ONU, os preços deverão subir pelo menos 40% na próxima década. Sempre houve uma modesta, mesmo bem-vinda, especulação nos preços dos alimentos e tradicionalmente funcionava assim. O produtor X se protegia contra o clima e outros riscos vendendo sua produção antes da colheita para o investidor Y. Isso lhe garantia um preço e o permitia planejar o futuro e investir mais, e dava ao investidor Y um lucro também. Num ano ruim, o fazendeiro X tinha um bom retorno. Mas num ano bom, o investidor Y se saía melhor.

Quando esse processo era controlado e regulado, funcionava bem. O preço da comida que chegava ao prato e do mercado de alimentos mundial ainda era definido por reais forças de oferta e demanda. Mas tudo mudou no meio dos anos 1990. Na época, após um pesado lobby de bancos, fundos de investimento de risco e defensores do "mercado livre" nos EUA e no Reino Unido, as regulamentações no mercado de commodities foram abolidas. Contratos para comprar e vender alimentos foram transformados em “derivativos” que poderiam ser comprados e vendidos por negociantes que não tinham relação alguma com a agricultura. Como resultado, nascia um novo e irreal mercado de “especulação de alimentos”.

Cacau, sucos de fruta, açúcar, alimentos básicos e café agora são commodities globais, assim como petróleo, ouro e metais. Então, em 2006, veio o desastre das hipotecas podres e bancos e especuladores correram para jogar os seus bilhões de dólares em negócios seguros, alimentos em especial. “Nós notamos isso [especulação de alimentos] pela primeira vez em 2006. Não parecia algo importante então. Mas em 2007, 2008 aumentou rapidamente”, disse Mike Masters, gerente de um fundo no Masters Capital Management, que confirmou em testemunho ao Senado dos EUA em 2008 que a especulação estava inflando o preço mundial dos alimentos. “Quando você olha para os fluxos, se tem uma evidência forte. Eu conheço muitos especuladores e eles confirmaram o que está acontecendo. A maior parte do negócio agora é especulação – eu diria 70 a 80%.” Masters diz que o mercado agora está muito distorcido pelos bancos de investimentos. “Digamos que apareçam notícias sobre colheitas ruins e chuvas em algum lugar. Normalmente os preços vão subir algo em torno de 1 dólar (por bushel). Quando se tem 70-80% de mercado especulativo, sobe 2 a 3 dólares para levar em conta os custos extras. Cria volatilidade. Vai acabar mal como todas as bolhas de Wall Street. Vai estourar.”

O mercado especulativo é realmente vasto, concorda Hilda Ochoa-Brillembourg, presidente do Strategic Investment Group de Nova York. Ela estima que a demanda especulativa para o mercado agrícola de futuros tenha aumentado entre 40 e 80% desde 2008. Mas a especulação não está apenas em alimentos básicos. No ano passado, o fundo Armajaro, de Londres, comprou 240 mil toneladas – mais de 7% do mercado mundial de cacau – ajudando a elevar o preço do chocolate ao seu mais alto valor em 33 anos. Enquanto isso, o preço do café pulou 20% em apenas três dias, resultado direto de aposta de especuladores na quebra do preço do café.

Olivier de Schutter, Relator da ONU para o Direito à Alimentação, não tem dúvidas que especuladores estão por trás do aumento de preços. “Os preços do trigo, do milho e do arroz tem aumentado de modo significante, mas isso não está ligado a estoques ou colheitas ruins, mas sim a negociantes reagindo a informações e especulações do mercado”, ele diz. “As pessoas estão morrendo de fome enquanto os bancos estão se matando para investir em comida”, diz Deborah Doane, diretora do Movimento Global de Desenvolvimento de Londres.

A FAO, órgão da ONU para agricultura, se mantém diplomaticamente evasiva, dizendo, em junho, que: “Fora mudanças reais em oferta e procura em alguns commodities, o aumento dos preços pode também ter sido amplificado pela especulação no mercado de futuros”. A [visão da] ONU tem o apoio de Ann Berg, uma das mais experientes negociantes do mercado de futuros. Ela argumenta que diferenciar commodities dos mercados de futuro e os relacionados com investimento sem agricultura é impossível. “Não existe maneira de saber exatamente [o que está acontecendo]. Tivemos a bolha das casas e o não-pagamento dos créditos. O mercado de commodities é outro campo lucrativo [onde] os mercados investem. É uma questão sensível. [Alguns] países compram direto dos mercados. Como diz um amigo meu. “O que para um homem pobre é um problema, para o rico é um investimento livre de riscos”.

Tradução: Wilson Sobrinho

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Do poder jovem

Recebi via email do Brasil! Brasil!

Do poder jovem
“Por alguma razão, bela e estranha, os jovens acordaram, se deram conta que estão recebendo um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, cada vez mais guerras e planos para empurrá-los para a vida já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que terão de pagar, senão morrer tentando, e rejeitaram todo esse lixo”

Estreando na TV a cabo um filme absolutamente constrangedor, que provoca um profundo desconforto, deixando ao final um travo amargo na boca. É Amor Sem Escalas (Up in the Air) com George Clooney, direção de Jason Reitman. O título em português é prá lá de estúpido e bota idiota nisso, porque não se trata de mais uma comédia romântica, mas de um guia de como terceirizar demissões corporativas em massa, com Clooney no papel de “Anjo Exterminador”, segundo diz seu personagem cinicamente: “Eu os preparo para o limbo existencial”.

Não estou fazendo exatamente a crítica do filme, mas do processo de “normalização” da dispensa repentina e sem aviso – e sem outra razão que não o “corte de gastos”, naturalmente em nome da nunca por demais esquecida “acumulação primitiva” ou “acumulação por despossessão” – de funcionários que ele introduz, assinala e sublinha como fato inevitável e perfeitamente corriqueiro na vida profissional de qualquer norte-americano (eu ia escrever “de qualquer ser humano”).

Eis a verdadeira mensagem nua e crua: você cai fora porque os acionistas precisam ficar ainda mais ricos. Lembra o título de outro filme: Hoje você morre.

Enquanto isso, no mundo real, milhares de servidores públicos unidos a grupos estudantis realizaram protestos sábado (19/2) em frente ao Capitólio do estado norte-americano do Winsconsin, na cidade de Madison. Foi o quinto dia de manifestações contra um projeto de lei apresentado pelo novo governador republicano Scott Walker. O objetivo do projeto é “cortar gastos do orçamento estadual através da supressão de direitos trabalhistas em todo o Estado”.

O suposto equilíbrio das contas do Estado ocorreria com a anulação dos convênios coletivos com os funcionários públicos. O equivalente, no Brasil, à suspensão todos os direitos dos funcionários públicos concursados, por exemplo, do estado de São Paulo.

Entusiasmado com a mobilização dos estudantes, o cineasta Michael Moore (Tiros em Columbine) enviou-lhes uma carta aberta, incentivando-os, cujo texto é um excelente exemplo de contextualização sócio-econômica e política dos jovens norte-americanos no momento atual.

Ele elogia os milhares de estudantes das escolas de Wisconsin que saíram das salas de aula e ocuparam o prédio do State Capitol, em Madison, exigindo que o governador pare de assaltar os professores e outros funcionários públicos: “Vivemos hoje um fantástico momento histórico. Os jovens estão em rebelião! Os estudantes estão começando a erguer a cabeça, tomar as ruas, organizar-se, protestar e recusar a dar um passo de volta para casa, se não forem ouvidos.“

Segundo Moore, o poder constituído estava convencido que havia feito um servicinho perfeito no sentido de manter os jovens calados, entretendo-os com enormes quantidades de bobagens até torná-los impotentes, como um parafuso a mais duma imensa e complexa engrenagem; alimentando-os com quantidades absurdas de propaganda sobre “como o sistema funciona” e tantas mentiras históricas, contudo inesperadamente o lixo foi derrotado – não funcionou – porque os jovens estão vendo as coisas como são realmente: “Fizeram o que fizeram, na esperança de que vocês ficassem de bico fechado, entrassem na linha e obedecessem as ordens, sem sacudirem o barco. Porque se agitassem muito, não conseguiriam arranjar um emprego, acabando na rua, um freak a mais. Disseram que a política é suja e que um homem sozinho jamais faria diferença!”

Mas, por alguma razão, bela e estranha, os jovens acordaram, se deram conta que estão recebendo um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, cada vez mais guerras e planos para empurrá-los para a vida já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que terão de pagar, senão morrer tentando, e rejeitaram todo esse lixo. Até porque foram os adultos jovens que elegeram Barack Obama, primeiro atuando como voluntários para obter a indicação dele como candidato, depois indo às urnas em números recordes em novembro de 2008. Michael assinala que o único grupo da população branca dos EUA no qual Obama teve maioria de votos foi o dos jovens entre 18 e 29 anos. A maioria de todos os brancos com mais de 29 anos nos EUA votaram em McCain – e Obama foi eleito, mesmo assim! Porque há mais eleitores jovens em todos os grupos étnicos – e eles foram às urnas e, contados os votos, viu-se que haviam derrotado os brancos mais velhos assustados, que simplesmente jamais admitiriam ter no Salão Oval alguém chamado Obama.

Diversamente que em outros países como Áustria, Brasil, Nicarágua, onde a idade mínima para votar é 16 anos e os jovens desfrutam de mais liberdade, sem contar a França cujos estudantes conseguem parar o país, nos EUA, os jovens são condicionados a obedecer, sentar e deixar os adultos comandarem o show, daí entende-se o entusiasmo de Moore.

Mas as coisas podem e devem mudar – demissões massivas, o espólio dos direitos civís e trabalhistas. Já há indícios de mudança desde o Cairo, Egito, até Madison, Wisconsin, donde muita agitação de permeio. Talvez a próxima geração possa fazer com que filmes como Up in the Air (aliás, indicado a vários Oscars, imaginem o resto da produção cinematográfica!) se reduza a uma sórdida e incompreensível relíquia cultural.
Publicação original Congresso em Foco/colunistas

*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A ponte das estrelas (1990), Toda prosa (2002 - Esgotado), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura, até outubro de 2010, da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.

Artigo relacionado  A carta de Michael Moore aos estudantes de Wisconsin

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