segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A entrevista bomba de Franklin Martins

Do Blog da Cidadania


No entreato de Natal e Ano Novo, com a turma ainda se recuperando da ressaca natalina, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, concedeu uma daquelas entrevistas que a imprensa costuma dizer “bombásticas”. Pena que a audiência deva ter sido pequena. Kennedy Alencar, em seu “É Notícia”, da Rede TV, deu ao ministro uma chance de falar o que o resto das televisões lhe negou nos últimos quatro anos, desde que assumiu a pasta.
Devido ao amadorismo da Rede TV – que, no meio da manhã de segunda-feira, 27 de dezembro, está com seu site fora do ar –, o blogueiro se vê obrigado a escrever “de cabeça” sobre o que assistiu. Mas, assim que possível, o vídeo da entrevista será divulgado, de forma que seja possível ao leitor conferir a quantas anda a memória deste que escreve.
Em verdade, não será tão difícil porque a parte “bombástica” da entrevista não foi tão longa assim. Versou sobre a suposição de Globo, Folha, Estadão, Veja e companhia sobre existência de intenções governamentais de “censurar a imprensa” e sobre a relação do governo Lula com ela.
Note-se que o ministro foi extremamente hábil, pois reconheceu méritos no governo FHC e em seu titular pela estabilização da moeda sem deixar de dizer exatamente em que ponto ele se perdeu – na falta de um espírito desenvolvimentista e social e na adoção dos cânones neoliberais em geral, do que resultou a privataria. E apesar de dizer que o mensalão não passou de caixa-dois, fez a necessária crítica ao PT de que “ver uma devassa saindo de um prostíbulo não choca, mas ver uma freirinha saindo, é chocante”.
Na parte sobre regulação da mídia, Martins deixou muito claro que o tipo de regulação que se quer fazer é exatamente o mesmo que existe em qualquer grande democracia. Explicou a sinuca de bico em que a parcela da mídia supracitada se encontra por ter que combater a regulamentação e ao mesmo tempo almejá-la para que seja protegida das “teles”, ou seja, das multinacionais de telecomunicações que ameaçam esmagar o PIG com um poderio econômico muito acima do que detém a radiodifusão nacional.
Acima de tudo, nessa questão, o ministro da Comunicação Social deu um recadinho a jornais que acusou de terem servido à ditadura militar: “Não venham nos dar aulas de democracia”.
Mas a coisa pegou fogo mesmo quando a entrevista enveredou pelas relações do governo com a mídia corporativa. Martins acusou, nominalmente, Folha, Estadão, Globo e outros de fazerem uma jogada com a oposição tucano-pefelê: “Um levanta e o outro corta”, pontuou o ministro com todas as letras.
E não ficou por aí…
Ao exemplificar o partidarismo midiático, Martins abordou, primeiro, a questão da “bolinha de papel”, lembrando que a Globo, com o peso de sua “credibilidade” – palavra que proferiu em tom irônico –, veiculou uma reportagem de sete longos minutos bancando a versão de José Serra de que teria sido atingido por um segundo objeto, sustentando-a com um laudo fajuto que, na madrugada que se seguiu àquela edição do Jornal Nacional, foi “desmontado pela blogosfera”.
Como se não bastasse, citou, nominalmente, a Folha de São Paulo e a ficha falsa de Dilma, ponderando com o entrevistador o absurdo de um jornal como aquele publicar uma “falsificação contra um candidato” amparando-se na justificativa mambembe de que não podia confirmar ou negar sua veracidade, concluindo que, dessa maneira, o jornal deixa ver que publica qualquer coisa que lhe chegue às mãos contra adversários políticos.
Esta é a síntese da mais dura crítica ao PIG que alguém do governo fez publicamente em oito anos de mandato do atual presidente. Resta lamentar que assuntos dessa relevância e opiniões tão sonegadas ao público pela grande mídia durante oito anos tenham vindo à tona em um programa que avançou pela madrugada de domingo para segunda em uma época de festas em que ninguém assiste a esse tipo de programa.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Imprensa termina década no fundo do poço

Do Blog da Cidadania, por Eduardo Guimarães


Em 31 de dezembro próximo, encerrar-se-á a primeira década do século XXI e do novo milênio. A imprensa escrita chega a esse momento histórico com a credibilidade abalada e despida de um poder que deteve durante o século passado, o de influir decisivamente nas decisões políticas dos brasileiros.
Dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação) de 2000 e de 2010 (estes, aproximados), se comparados mostram muito mais do que a queda na circulação dos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo, que pautam politicamente todos os outros veículos impressos menores, mas de maior porte entre o universo total da imprensa escrita.
No início da década, a Folha de São Paulo vendia 471 mil exemplares/dia e hoje vende 295 mil; o Estadão vendia 366 mil e hoje vende 213 mil; O Globo vendia 336 mil e hoje vende 257 mil; a revista Veja vendia 1,9 milhão de exemplares por semana e hoje, vende 1,2 milhão.
A situação é muito pior do que parece, porque, durante a década que termina, jornais e revista passaram a doar exemplares aos leitores perdidos, ou seja, enviando esses exemplares a eles gratuitamente, de forma a sustentarem os números da tiragem cadente.
Finalmente, há que lembrar que, em 2000, o Brasil tinha 170 milhões de habitantes e hoje, tem 190 milhões. Enquanto a população cresceu quase 12 por cento nesse período, a tiragem dos jornais e revista mencionados caiu de 3 milhões de exemplares por edição para 1,9 milhão, ou seja, uma queda de quase 37 por cento.
Fazendo bem as contas, se a relação entre a tiragem dos jornais e da revista e o conjunto da população no início da década era de 1,76%, hoje essa relação caiu para 1%, ou seja, uma perda de 43% do mercado.
Alguns dirão que esse leitorado migrou para a internet, onde lê os grandes portais de notícias, todos controlados pelos grupos empresariais donos dos jornais e revistas em questão. Contudo, essa premissa desconsidera a queda de receita e a quebra de fidelidade, pois é muito diferente ler os portais sem pagar nada e comprar a assinatura desses veículos.
A queda de tiragem, porém, não dá a dimensão da perda de credibilidade e de influência desses veículos no conjunto da sociedade, pois, aí, a queda é muito maior.
Um bom indício desse fato é o de que, desde a redemocratização até 1998, o país elegia o candidato a presidente que essa parte da imprensa apoiava – foi assim com Collor e com FHC em três eleições. A partir da década que vai terminando, em três eleições presidenciais os veículos perderam as três.
A razão de fundo para essa perda de credibilidade – e, conseqüentemente, de mercado – foi explicitada por um homem que conhece a fundo o mainstream midiático, o atual ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, egresso da TV Globo, onde foi comentarista político por anos a fio.
Segundo Martins,”Um grande número de leitores não acredita mais no que o jornal diz” porque “Percebeu que havia má vontade com o governo e leniência com a oposição”. Há que acrescentar que essa “leniência” se estende, até o momento, às administrações estaduais e municipais em que a oposição federal é governo.
O exemplo mais clamoroso é o do governo de São Paulo e o da capital desse Estado, em que o consórcio tucano-pefelê governa há muito tempo, sendo que em nível estadual o PSDB já caminha para vinte anos no poder.
A degradação da qualidade de vida em São Paulo (Estado e capital) é visível. Quem vem a São Paulo se horroriza sobretudo com a capital, que se tornou violenta, poluída, assolada por tragédia sobre tragédia cotidianamente, com serviços públicos como saúde e educação em situação calamitosa etc.
Não há cobertura crítica do péssimo governo tucano do Estado ou da administração municipal desastrosa do DEM na capital. Escândalos, incompetência, perda de importância do maior Estado da Federação, tudo isso sucumbe, em São Paulo, a um noticiário absolutamente chapa-branca.
No apagar das luzes da primeira década do século XXI, dois fatos exemplificam a razão dessa débâcle da grande imprensa escrita no Brasil.
Na semana passada, foi concluído o inquérito da Polícia Federal sobre o caso do grampo telefônico que Globos, Folhas, Vejas e Estadões sustentaram que o governo Lula teria mandado fazer contra o então presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador goiano Demóstenes Torres, do DEM. Concluiu-se que não houve grampo algum.
Na edição do último domingo do ano do jornal Folha de São Paulo, a ombudsman, Suzana Singer, apresenta uma “prova” de que seu jornal, apesar das acusações múltiplas e crescentes que recebe, “não é tucano”. A “prova” seria editorial que o jornal publicou durante a semana em que reconheceu méritos em um governo apoiado por mais de 80% da sociedade (?!).
O ridículo nunca parece suficiente para essa parcela ainda vistosa – mas totalmente decadente – da imprensa escrita. Acreditando-se extremamente espertos, comandantes das redações esbofeteiam um público que freqüentemente é mais bem informado do que eles devido à multiplicidade de fontes de informação de que dispõe.

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