por Leandro Fortes, no Brasília eu ví
Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.
Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.
Mas Lula não fez nada disso.
No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.
Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postagens populares
-
SARAIVA 13 Errático, Aécio agora cobre Lula de elogios As novas contradições da dissident...
-
SARAIVA 13 Mídia esconde a "Lista de Furnas" Começa hoje no Supremo Tribunal Fe...
-
SARAIVA 13 São Paulo: Folha demite repórter jurado de morte por vereador do PSDB Um ano de...
-
SARAIVA 13 Barroso: Constituinte, com plebiscito, é legítima Barbosa sugere que pode apoia...
-
SARAIVA 13 A ópera, a guerra e a ressurreição russa País cria 260 mil empregos e isola pes...
-
SARAIVA 13 PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF "DÁ DURA RESPOSTA" AO MINISTRO GILMAR MEN...
-
SARAIVA 13 Serra jogou no lixo 4 anos de obras antienchente Luis Nassif: Estadão denuncia...
-
Megacidadania Todo mundo viu e JB dormiu Posted: 05 Oct 2013 03:00 AM PDT Parem o...
-
SARAIVA 13 PT chegou ao governo, mas não ao poder Lula e Patrus pelo verdadeiro desenvolv...
-
SARAIVA 13 Mensalão popularizou o STF segundo Joaquim Barbosa - MOSTROU O QUANTO DE VAIDADES, ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário