terça-feira, 18 de agosto de 2009

Eduardo Guimarães comenta o "caso Lina"

A ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira declarou a jornalistas que teve uma reunião secreta com ministra-chefe da casa civil, Dilma Rousseff, na ocasião a ministra teria pedido a Lina que agilizasse a investigação das empresas do filho do presidente do senado,José Sarney (PMDB-AP). Convocada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Lina compareceu nesta terça-feira (18)para depoimento.

O desdobramento das declarações da ex-secretária deu munição para a oposição e para mídia comprometida atacarem a reputação da ministra, candidata do presidente Lula para sucedê-lo na Direção do país.

Leia abaixo o comentário de Eduardo Guimarães:



"Se “eles” não se mexem

Atualizado às 20h28m de 18 de agosto de 2009

Estive no Palácio dos Bandeirantes a convite do governador José Serra e, naquele encontro, ele me fez uma proposta indecorosa, de que “agilizasse” meus textos críticos a ele. Supus, na hora, que eu deveria parar de escrever, a troco de dinheiro do contribuinte paulista.

Não me lembro em que dia foi o encontro. Tampouco me lembro da hora. Nosso encontro também não foi registrado na agenda oficial. Contudo, se quiserem comprovar minha versão, podem requisitar as fitas do circuito interno de tevê do palácio para achar minha imagem entrando e saindo de lá, caso consigam adivinhar o período a investigar.

Ah, sim: se quiserem, topo participar de uma acareação com o governador do Estado de São Paulo. Ele (uma autoridade) e eu (um mero acusador) ficaremos frente a frente e repetirei tudo o que acabo de escrever.

*

O texto acima é uma gozação, claro, mas, se a “lógica” da imprensa valesse para qualquer pré-candidato à Presidência da República, eu, euzinho, poderia colocar o tucano na mesma situação de Dilma Rousseff e ele que tratasse de provar que não fez o que eu diria que fez.

Essa é uma ameaça a qualquer cidadão, ou seja, poder ser acusado por qualquer um e, numa inversão do ônus da prova – que, segundo os arcabouços jurídicos de qualquer país democrático, cabe a quem acusa –, ter que provar a própria inocência mesmo que contra si não exista nada além de uma acusação sem sustentação probatória.

Em que democracia alguém pode ser acusado dessa maneira e a acusação é encampada por toda a imprensa? Só nas ditaduras promovem-se julgamentos sumários como esse a que estão submetendo uma das candidatas à sucessão presidencial.

Aliás, o intuito político de tudo isso é claro, límpido, escandalosamente visível. Só sendo muito canalha para negar.

Deveria haver uma reação contra esse absurdo. É imoral, inconstitucional, ditatorial. Mas se até falsificação de uma ficha criminal contra a mesma vítima do caso em tela é feita e divulgada como veraz e nada acontece, por que um caso tão menos grave deveria provocar alguma reação?

Quem está perdendo com tudo isso não são apenas Dilma, Lula e o PT. A sociedade perde. Qualquer um poderá ser vítima do mesmo golpe, amanhã. Inclusive os políticos que se valem hoje dessa estratégia. Mas a oposição a Lula parece não conseguir pensar em nada além da eleição do ano que vem.

É tudo tão injusto, tão descabido. O mal, a vilania, a desonestidade estão definidos tão claramente hoje como nunca vi em minha vida. Em qualquer sociedade normal, dizer que o mal está deste ou daquele lado da política não passaria de maniqueísmo, mas na América Latina, não.

Fico imaginando o que será do Brasil se tal estratégia tiver êxito. Vencerá a malandragem, a censura, a opressão, a vilania mais abjeta. Nos tornaremos um país de cegos, de pessoas sem caráter, sem cérebro.

Será possível, meu Deus, que depois de tanto que caminhamos poderemos terminar assim? Depois de uma história tão sofrida, tão conturbada, com o país agora finalmente no rumo certo (crescendo, desenvolvendo-se, com a justiça social florescendo), será que iremos nos atirar nesse poço sem fundo elegendo esse facistóide, José Serra?

E o pior é que o mal vence, sim. Esses criminosos têm todas as condições de vencer porque podem fabricar uma realidade virtual. Frias, Marinho, Civita, Mesquita, Serra e seus outros sequazes podem tomar o poder por meio desses métodos vis e os que elegemos para nos representar se agacham, apavorados.

Será que essa gente não tem família, não tem moral, não tem um pingo de dignidade? São bandidos, criminosos do pior tipo. Imagino que outras perversões acalentam.

E o pior é esta sensação de impotência. Quem pode reagir não reage, o que vai minando a confiança da gente, a disposição de lutar.

Eu até estava decidido, em nome do Movimento dos Sem Mídia, a representar ao Ministério Público Federal contra a Folha de São Paulo por conta da falsificação de documento público, a ficha criminal da ministra Dilma. Mas por que eu faria isso se o próprio MP, o próprio PT e a própria Dilma não se mexem?

Representei a MPF no caso da febre amarela porque é uma questão de saúde pública, mas, nesse caso da falsificação de documento público, acho que não cabe mais. Estou querendo fazer de graça o que os procuradores e os políticos ganham fortunas para fazer e não fazem.

O fato é que a pusilanimidade do governo e do partido do governo vai desmobilizando a militância, abatendo a moral dos militantes, que se vêem amordaçados, amarrados e humilhados por esses criminosos da imprensa, do PSDB e do PFL. E eu, que luto para pôr comida na mesa para minha família, vou comprar a briga desses covardes, que nem sabem que existo?

Para mim, chega."

Publicado no Blog Cidadania

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